Os grandes importadores de vinho no Brasil ainda não têm sido diretamente prejudicados pela epidemia mundial do coronavírus, mas veem com preocupação a escalada do dólar, moeda de referência para as negociações com fornecedores de regiões vitivinícolas de outros países. Se o câmbio não arrefecer, dizem, haverá reajuste da tabela de preços a partir de abril.
Em 2019, de acordo com a Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e bebidas (Abba), o Brasil importou 13,2 milhões de caixas, de 12 garrafas cada uma, de vinho, espumante, Prosecco e Champagne, uma alta de 2,9% sobre 2018. Mas a receita caiu 0,1% na mesma comparação, somando US$ 368 milhões no ano passado.
O presidente da Abba, Adilson Carvalhal Junior, afirma que o quadro se deve à substituição de produtos mais caros por outros de menor valor agregado, tentativa das empresas de manter ou mesmo expandir a demanda em um mercado cujo tíquete médio se mostra pouco elástico. O movimento vem para compensar reajustes estimulados pela alta acumulada do dólar nos últimos anos e pelo peso crescente dos impostos na operação. “O brasileiro toma mais vinho hoje. Mas, infelizmente, por conta do valor que consegue dispender, o preço médio da garrafa importada tem sido cada vez mais baixo”, diz. A recente desvalorização do real frente ao dólar tende a intensificar o fenômeno este ano.
Com relação ao coronavírus, Carvalhal Junior, que também dirige a importadora Casa Flora, afirma que mesmo os vinhos italianos estão com os embarques em dia. “Estranhamente está tudo normal na parte mais afetada, o norte da Itália. A produção continua e até recebemos uma mensagem de um fornecedor nos tranquilizando.”
O executivo diz que a safra de uvas na Europa se desenvolve entre agosto e outubro. “Tudo já virou vinho a essa altura do ano”. Agora, diz, as vinícolas estão dedicadas a atividades mais automatizadas que a colheita, como o engarrafamento. Essas etapas são menos suscetíveis aos prejuízos do vírus, como a paralisação da mão de obra. Outros produtos italianos importados pela Casa Flora, como massas e molho de tomate, também têm os embarques em dia.
Presidente da Adega Alentejana, Manuel Chicau, confirma o diagnóstico. A empresa traz, principalmente, vinhos de Portugal, mas também de Itália, França e Espanha, além de Chile e Argentina. Chicau avalia que, se a situação se agravar, pode haver retenção de contêineres nos portos dos países mais afetados, o que impactaria o frete. Mas, afirma, eventual encarecimento do transporte não refletiria aumento significativo do preço final. “É um risco, mas interfere pouco no preço porque o frete é barato na comparação com outros gastos”, diz Chicau.
Fonte: Newtrade