O dia será de olhar para o mercado cervejeiro — e refletir sobre os impactos do coronavírus também nas bebidas. A Anheuser-Busch InBev, maior cervejaria do mundo, divulgou resultados pouco positivos para 2019 e o quarto trimestre na madrugada desta quinta-feira.
Mais tarde nesta manhã, antes da abertura do mercado brasileiro, sua subsidiária sul-americana, a Ambev, também divulga números do ano e discute estratégias para a região em conferência com analistas às 13h.
Globalmente, uma das maiores ameaças vem da China. A AB InBev afirmou que a redução da demanda na região devido ao coronavírus já a fez perder 170 milhões de dólares em lucro só nos primeiros dois meses de 2020 e mais de 280 milhões em faturamento. O país é um dos mercados mais importantes da AB InBev, cuja sede fica na Bélgica. Na China, se vende mais Budweiser do que nos Estados Unidos, terra natal da marca.
Enquanto isso, em 2019, os resultados também foram considerados pouco animadores. O lucro atribuído aos acionistas no quatro trimestre foi de 114 milhões de dólares, menor do que o ganho de 456 milhões de dólares no mesmo período de 2018. O faturamento também caiu de 13,79 bilhões de dólares entre outubro e dezembro de 2018 para 13,33 bilhões em 2019, abaixo das expectativas.
No acumulado do ano, o volume vendido subiu 1,1%, terceira alta anual consecutiva. Contudo, houve quedas nas vendas na América do Norte e na região da Ásia-Pacífico. “Nossa performance em 2019 foi abaixo de nossas expectativas, e não estamos satisfeitos com os resultados”, escreveu a diretoria da empresa em carta aos acionistas.
Internamente, a AB InBev passa por suas próprias mudanças. O diretor financeiro Felipe Dutra, na companhia desde 2005, anunciou aposentadoria e vai dar lugar em abril a Fernando Tennenbaum, então diretor financeiro da Ambev e baseado no Brasil.
Um de seus maiores desafios será controlar a dívida gerada pela super aquisição da SAB Miller em 2016, de 100 bilhões de dólares. Desde então, a companhia abriu capital em Hong Kong e levantou outros 5,7 bilhões de dólares, enquanto tenta vender suas operações na Austrália por 11 bilhões — negócio que aguarda aprovação de órgãos reguladores.
Para chegar lá, além da China e do mercado asiático, outro ponto estratégico é o próprio Brasil e a América do Sul, onde a alta no volume em 2019 foi de 2,8%. Em 2018, o lucro da cervejeira havia caído 5%, e o mercado se mostrava cauteloso quanto à concorrência da holandesa Heineken, dona da marca homônima e da Nova Schin.
Para 2019, a expectativa é de um respiro, com alta de 9% no lucro, a 12 bilhões de reais. A esperança é se ancorar no bom momento de produtos um pouco mais premium, que não só conseguem brigar com a Heineken como obtêm melhores margens do que as tradicionais Skol e Brahma — como Budweiser, Corona, Stella Artrois ou mesmo a brasileira Original. A ver se a Ambev terminará a semana de Carnaval, um de seus momentos mais importantes do ano, com algum motivo para celebrar.
Fonte: Exame