Nova entidade busca melhorar a imagem da indústria de suco

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Fernando Lopes, de São Paulo

 

Pressionadas pelo enfraquecimento da demanda global e por investigações sobre uma suposta formação de cartel, as quatro grandes indústrias de suco de laranja do país aprovaram, na quinta-feira, o estatuto da nova Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos.

 

Presidida por Christian Lohbauer, ex-diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), a entidade sucede a Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), que perdeu representatividade nos últimos anos e foi aposentada em 2008 - ainda que por questões jurídicas continue a existir no papel.

 

"Nossa principal missão é mudar a imagem do segmento, com foco em informação e transparência", afirmou Lohbauer. "O mundo mudou e precisamos construir uma agenda diferente, favorável a uma nova citricultura". Não será fácil.

 

Foram divergências entre as fundadoras da nova associação (Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus Commodities) que levaram ao fim da Abecitrus, e as relações entre elas (todas com base em São Paulo) e parte de seus fornecedores de laranja vão de mal a pior, em virtude das disputas sobre o preço pago pela fruta entregue para processamento.

 

São os citricultores reunidos na Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), sediada em Araraquara (SP), que concentram os pedidos de aceleração das investigações sobre a suposta formação de cartel.

 

Há processos nesse sentido na Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e no Ministério Público do Estado de São Paulo. Ambos deverão ser alimentados por documentos apreendidos da "Operação Fanta", liderada pela Polícia Federal há pouco mais de três anos. As empresas negam as acusações.

 

Lohbauer admite que o segmento é concentrado, mas já defende as grandes indústrias. "O segmento antecipou uma concentração que marca o capitalismo moderno, que tem poucas empresas em diversas áreas, inclusive distribuição e varejo. Não há mais do que 20 grandes compradores de suco no mundo".

 

Problemáticas desde sempre, as relações entre indústrias e produtores se esgarçou com a forte queda das cotações internacionais do suco de laranja nos últimos anos, provocada, sobretudo, por uma queda estrutural da demanda em mercados como Estados Unidos e Europa.

 

Nos EUA, a retração do consumo entre 2001 e 2008 foi de 29%; na Europa, de 10%. Tais reduções determinaram uma baixa da demanda global (incluindo a Ásia) de 17% no intervalo em questão. O tombo costuma ser explicado pela disseminação de concorrentes como néctares e sucos prontos, mais baratos e variados.

Contra essa tendência as grandes empresas brasileiras passaram a apostar na exportação do suco não concentrado de laranja (NFC, na sigla em inglês). O produto exige mais aportes em logística, já que ocupa espaço seis vezes maior que o tradicional suco concentrado e congelado, mas conta com demanda mundial mais firme.

 

Ocorre que as cotações, ainda que em elevação em 2009, seguem em baixos patamares. Em Nova York, principal referência para o suco concentrado (FCOJ, na sigla em inglês), a commodity está abaixo de US$ 1 a libra-peso, longe do recorde de US$ 2,0665 de dezembro de 2006, decorrente de danos causados por furacões à oferta da Flórida, cujo parque citrícola só é menor que o paulista.

 

"O cenário é difícil. Com a queda da demanda, os estoques estão elevados na Flórida e no Brasil. Na Flórida, por sinal, a relação entre estoque e demanda nunca esteve tão alta. Além disso, as atuais safras do Estado americano e de São Paulo devem ser cheias. O ano será duríssimo".

 

Doutor em ciência política pela USP, Lohbauer foi gerente de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e passou pela Secretaria de Relações Internacionais do governo paulista de José Serra (PSDB) antes de assumir a diretoria executiva da Abef, onde ficou de 2006 a 2009.

 

Na Abef aprendeu a lidar com as divergências entre os exportadores de carne de frango, experiência que leva na bagagem para domar as indústrias de suco, tradicionalmente pouco transparentes, nada afeitas a esclarecimentos públicos e de uns tempos para cá sempre preocupadas com a repercussão de seus encontros nas autoridades antitruste. Na nova associação, cada uma das grandes terá um representante no conselho, e todas escolheram seus diretores jurídicos para a tarefa.

 

Lohbauer informou que a ideia é atrair outras empresas menores para a entidade. Ele identificou outras 20 indústrias menores no segmento, situadas em Estados como Paraná e Sergipe, mas nem todas são exportadoras. Segundo ele, "nacionalizar" a associação é fundamental.

 

Afora questões comerciais como as barreiras ao suco nos EUA - que resistem apesar de as empresas brasileiras dominarem boa parte da produção americana -, Lohbauer pretende construir uma agenda para destacar as qualidades de um segmento que domina 80% das exportações globais.

 

Além de avanços agronômicos na produção de laranja, a evolução tecnológica das fábricas paulistas e a logística de transporte e distribuição até os principais mercados consumidores terão atenção especial.


Veículo: Valor Econômico


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