Múlti tenta evitar que Cade decida por venda da Nestea

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Juliano Basile, de Brasília

 

A Coca-Cola tenta evitar que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça determine a venda da marca Nestea a concorrentes. Essa hipótese surgiu em 1º de outubro, quando o Cade iniciou o julgamento da compra da Leão Júnior pela multinacional, e o relator do processo, conselheiro Paulo Furquim, votou pela venda da Nestea.

 

Na ocasião, o conselheiro Carlos Ragazzo pediu vista do processo. Desde então, Ragazzo tem recebido informações da Coca-Cola a respeito das eficiências trazidas pela compra da Leão Júnior. O conselheiro verifica se o negócio trará mais eficiências à Coca-Cola (como economias no processo de produção de mates prontos para beber) ou ao mercado (caso de preços mais baixos e de produtos mais acessíveis aos consumidores). Se ele concluir pela última hipótese, são grandes as chances de a Coca evitar a venda da Nestea. Mas caso ele conclua pela primeira alternativa, a restrição proposta por Furquim deve ser mantida.

 

A Nestea corresponde à praticamente a metade da marca Mate Leão no mercado de chás, mates e guaranás prontos para beber. Por isso, para a Coca, é importante mantê-la. Caso tenha de vender a marca, seria como se a companhia ficasse apenas com metade do negócio resultante da operação e ainda tivesse que se desfazer de uma marca consolidada no mercado.

 

O caso conta ainda com a oposição da PepsiCo, dona da marca Lipton, que enviou diversos ofícios para o Cade alegando um suposto domínio de 80% do mercado com a compra da Leão Júnior. A Coca questionou esse percentual e fez uma diferença entre os mercados de chá mate e de "iced teas" (chás gelados).

 

Segundo a companhia, são mercados diferentes tanto no sabor quanto na forma de consumo. O mate teria sabor mais forte, amargo e seria consumido em praias, onde concorre com o guaracopos (muito comuns nas praias fluminenses). Já o "iced tea" seria mais suave, doce e feito para consumo durante refeições. Com essa tese, a Coca procurou demonstrar que o Mate Leão não seria um opositor do Lipton e do Nestea, pois essas seriam marcas de "iced teas".

 

Mas, para o relator do processo, Nestea e Mate Leão são marcas de chás prontos para beber e competem entre si. Ele concluiu que é "inafastável" essa conclusão de que ambas estão no mesmo mercado e comparou essa fusão com supostas junções de outras grandes marcas, como, por exemplo, uma eventual união entre o McDonald's e o Burger King. Em negócios desse porte, a preocupação estaria na união das marcas.

 

Existe a possibilidade de a Coca, através de ofícios ao Cade, chegar a um acordo e, com isso, manter a marca Nestea. Para tanto, a companhia tem que indicar outra restrição menos grave a ser imposta pelo órgão. Esse é um processo de negociação bastante difícil e, daí, a demora na retomada do julgamento. Há exemplos de fusões e aquisições famosas em que houve esse processo de negociação (e as empresas saíram vitoriosas) e outros em que isso não ocorreu (e as companhias foram derrotadas no Cade).

 

No caso da fusão entre a Brahma e a Antarctica, as empresas sinalizaram ao Cade que estavam dispostas a vender marcas menores a concorrentes. Foi assim que o órgão antitruste concluiu pela venda da Bavária como condição à aprovação da fusão. Já no caso da compra da Garoto pela Nestlé, essa última indicou que não estaria disposta a aceitar condições. Com isso, o Cade vetou o negócio.

 

As negociações em torno da compra da Leão Júnior pelo Cade estão sendo realizadas sob sigilo. Os conselheiros não podem comentar o assunto, pois isso seria uma antecipação de voto. Advogados da Coca também preferem não tornar pública a negociação.

 

Veículo: Valor Econômico


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