Apesar do aumento das vendas de vinhos finos nacionais no primeiro quadrimestre do ano, que chegou até 30%, dependendo do fabricante, e da relativa estabilização das importações, as vinícolas brasileiras estão cautelosas em relação a 2009. As empresas projetam crescimento, mas a concretização das previsões depende do câmbio e de ajustes na cobrança do Imposto de Importação e no regime de substituição tributária implantado em março em São Paulo, que representa 40% do mercado brasileiro. Tudo isso acaba deixando o setor "inseguro", afirma o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), o enólogo Henrique Benedetti.
"É difícil fazer uma projeção em cima dos primeiros quatro meses do ano porque os grandes volumes são vendidos de maio a julho", diz Benedetti. De janeiro a abril a venda do produto brasileiro no mercado interno cresceu 12,7% em relação ao mesmo período de 2008, para 3,4 milhões de litros, enquanto o avanço dos importados não chegou a 3% (ver texto abaixo). Em todo o ano passado, a comercialização de vinhos nacionais atingiu 17 milhões de litros (com queda de 19% ante 2007) e de importados, 54,4 milhões de litros (queda de 5,6%), segundo a Uvibra.
Para Benedetti, o câmbio preocupa mas não é o maior problema, pois mesmo com as recentes oscilações do dólar os preços dos importados não tiveram mudanças significativas. "É possível que os importadores estejam com grandes estoques", comenta. O mais importante para o setor é a equiparação das margens sobre o valor agregado aplicadas em São Paulo no cálculo do ICMS. Submetidos a um índice de 78% (descontadas as compensações entre as alíquotas interna e interestadual) sobre o preço na indústria, os vinhos e espumantes nacionais perderam competitividade diante dos importados, sobre os quais a margem é de 44%, diz o dirigente.
Segundo o presidente da Uvibra, representantes do setor já tiveram diversas reuniões com a Secretaria da Fazenda de São Paulo e esperam uma solução para junho. As vinícolas também aguardam para meados do ano a regulamentação, pelo governo federal, da lei que muda o Imposto de Importação. A partir daí, os vinhos e espumantes importados pagarão uma tarifa fixa por garrafa para entrar no país em vez do percentual sobre o preço declarado pelo importador, o que vinha dando margem a manobras como o subfaturamento dos produtos, explica Benedetti.
Da solução desses dois impasses depende o cumprimento da meta de crescimento de 20% das vendas da Casa Valduga no acumulado de 2009, para 1,2 milhão de garrafas, das quais 10% destinadas às exportações, afirma a diretora comercial da empresa, Juciane Casagrande. "A substituição tributária balançou as vendas em São Paulo", diz a executiva, que apurou alta de 15% no mercado paulista no quadrimestre sobre igual período de 2008. As vendas totais da vinícola, incluindo exportações, cresceram 30% até abril.
Juciane reconhece que o desempenho do quadrimestre foi alto diante do "contexto de crise econômica", mas lembra que o período representa apenas um quinto do volume comercializado por ano. O restante se divide em partes iguais entre o segundo e o terceiro quadrimestre. Nos espumantes, as altas foram de 25% no mercado interno e de 10% no externo e até aqui a projeção para o ano é vender 500 mil garrafas, ante 400 mil em 2008, sendo 80 mil no mercado internacional.
Na vinícola Dal Pizzol, as vendas de vinhos e espumantes cresceram 25% no quadrimestre, para 30 mil garrafas, revela o enólogo Dirceu Scottá, mas a manutenção da taxa de expansão no acumulado do ano depende também do reflexo do câmbio sobre os preços dos importados. "Se o dólar cair abaixo de R$ 2, a situação se complica", afirma. Para a empresa, que vendeu 300 mil garrafas em 2008, São Paulo representa apenas 10% dos negócios e a solução do impasse em relação à substituição tributária abriria um "mercado enorme para ser explorado".
No mercado externo, a venda de vinhos finos e espumantes brasileiros deu um salto de 85,9% de janeiro a março, para 1,3 milhão de litros, informa a gerente do programa Wines From Brazil, desenvolvido em parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), Andréia Milan. Segundo ela, o desempenho é resultado da consolidação da imagem dos produtos em mercados como Alemanha, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos, Hong Kong e Cingapura.
Mas o crescimento não deve se manter nesse patamar. Segundo Andréia, a projeção para o ano é de alta de cerca de 30% sobre 2008. No ano passado, as exportações somaram 7,7 milhões de litros. Os números não levam em conta os embarques de produtos a granel, vendidos por intermédio dos leilões de Prêmios de Escoamento de Produto (PEP) promovidos desde o terceiro trimestre de 2008 pela Companhia Nacional do Abastecimento para reduzir os estoques das vinícolas e que totalizaram 3,1 milhões de litros de outubro a dezembro do ano passado e 3,3 milhões de litros de janeiro a março deste ano, informa a executiva. (Valor Econômico)
Veículo: Valor Econômico