Enquanto o mercado de vinhos nacionais cresceu em média 12,7%, as importações da bebida mantiveram-se praticamente estáveis nos quatro primeiros meses do ano. A maior movimentação nas importadoras e varejistas foi a migração pelos vinhos estrangeiros mais baratos, com destaque para os chilenos e argentinos, que competem diretamente com os nacionais.
Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que entre janeiro e abril foram importadas 11,7 milhões de garrafas, aumento de 2,6% em relação ao mesmo período de 2008.
"Quem comprava vinhos caríssimos sumiu e quem comprava vinhos caros está buscando produtos mais baratos", afirma Fabiano Aurélio, sommelier da Gran Cru, importadora com lojas em 14 estados brasileiros, Argentina, México e Uruguai. Os restaurantes, parte significativa dos clientes da empresa, também passaram a requisitar produtos mais acessíveis, que possam ter mais giro. "Eles não querem ficar com capital parado em vinhos caros", complementa Aurélio.
Na Casa Santa Luzia, as vendas também ficaram estáveis neste começo de ano. Mas nas últimas duas semanas, quando houve queda na temperatura, a demanda cresceu cerca de 10%. "Estamos é torcendo para a temperatura cair e não só para o dólar baixar", brinca Jorge da Conceição Lopes, diretor comercial da varejista. Nas lojas do Grupo Pão de Açucar, o frio também contribuiu para elevar em 15% as vendas entre 8 e 22 de maio, em relação à quinzena anterior.
Na Expand, a procura pela bebida também não mudou, segundo Otávio Piva de Albuquerque Filho, diretor da importadora. "Não fomos afetados pela alta do dólar porque temos estoque alto. Mas as pessoas estão procurando vinhos com preços mais acessíveis", disse.
Nos últimos meses, o mercado de vinhos importados tem sido movimentado pela disputa por rótulos entre a Expand e empresas formadas por seus ex-executivos, além de informações sobre o endividamento da importadora. "A dívida é muito menor (do que dizem). Já negociamos com os bancos em até 42 meses", afirma Albuquerque Filho, sem citar valores. Ele diz que montou um plano de reestruturação para reduzir despesas. Entre as medidas, estão a demissão de 35% do quadro de funcionários e a redução de gastos operacionais e administrativos que devem gerar uma economia de R$ 10 milhões por ano.
Questionado sobre o que levou a Expand à atual situação financeira, Albuquerque Filho diz: "O motivo do nosso endividamento é que compramos um grande estoque na época em que o dólar estava ao redor de R$ 1,60". Segundo fontes do mercado, porém, as dívidas começaram a se acumular antes e estariam relacionadas a problemas na gestão.
Veículo: Valor Econômico