Um programa rígido de redução de custos e o câmbio ajudaram a AmBev (Companhia de Bebidas da Américas) a fechar o segundo trimestre do ano com uma receita líquida 13,5% maior do que a do mesmo período do ano passado, somando R$ 5,35 bilhões. O lucro líquido cresceu 28%, para US$ 1,07 bilhão. Apesar de enfrentar um mercado estagnado na Argentina, as operações no Brasil fizeram com que a AmBev ajudasse a melhorar o resultado da matriz, a AB-Inbev.
A geração de caixa na AmBev , medida pelo lajida (lucro antes de impostos, juros, amortizações e depreciações), somou US$ 3,59 bilhões, com alta de 12,9% ante o segundo trimestre do ano passado. E as perspectivas para a segunda metade do ano são positivas. A AmBev contará com um número de feriados bem maior do que a registrada na segunda metade de 2008 e com uma previsão de tempo favorável para o consumo de cerveja.
O ponto negativo seria a multa de R$ 352 milhões determinada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que considerou o programa de fidelização de revendedores "Tô Contigo" prejudicial à concorrência e aos consumidores. Mas a AmBev vai recorrer e não fez provisão em seu balanço pois avalia que o pagamento dessa multa é "uma contingência possível, mas não provável". "Como companhia, reconhecemos a importância da regulação de mercado. Mas não concordamos com os critérios usados para avaliar nosso programa de fidelidade", disse ontem João Castro Neves, diretor-geral da AmBev em conferência telefônica com analistas de mercado.
Analistas de mercado observam que mesmo considerando a possibilidade de a companhia ter de pagar a multa, isso não gerará impacto nos resultados, graças, principalmente aos custos enxutos que a AmBev alcançou no último trimestre. Segundo a empresa, houve uma redução no período de 11,8% no custo por hectolitro de cerveja no mercado brasileiro em relação ao mesmo trimestre de 2008.
Durante esses três meses, a empresa também foi favorecida pelas operações de hedge cambial que havia feito anteriormente, uma vez que pode fazer compras em moeda local a uma cotação inferior à registrada no trimestre. "No geral, os resultados obtidos nas nossas iniciativas de gerenciamento de custo, além dos nossos hedges, contribuíram de maneira importante para o desempenho no primeiro semestre", diz a empresa, no relatório divulgado ontem.
Essa vantagem, entretanto, pode se tornar um problema, com a valorização do real. Segundo analistas do CreditSuisse, a AmBev tem contratos de hedge fixados a uma taxa de R$ 1,88 por dólar. Ontem, o dólar comercial fechou em R$ 1,832 na compra e R$ 1,834 na venda. A empresa não divulga qual o montante que tem comprometido em hedges, mas afirma que eles possam gerar alguma perda.
"Apesar de esperarmos um segundo semestre muito mais difícil, especialmente na medida em que nossos hedges se tornam menos favoráveis, continuaremos a trabalhar duro para manter nossos custos de material e mão de obra para produção de cerveja", diz a empresa. O mercado concorda. "Resumindo a ópera, é capaz, sim, que a empresa registre perda com contratos de hedge, mas o resultado final da operação será contrabalanceado por ganhos em outras moedas", diz um especialista da Sanford C. Bernstein, de Londres.
Veículo: Valor Econômico