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Crise em importadoras faz com que marcas populares de vinhos se tornem difíceis de encontrar

 

Mudança no regime de impostos em São Paulo, Lei Seca, restrição a caminhões, alta do dólar e falta de crédito afetam o setor

 

Consumidores fiéis a algumas marcas de vinho tiveram dificuldade de encontrar alguns rótulos de sua preferência neste inverno. Uma série de turbulências, que começaram com mudanças tributárias e legais e passaram por dificuldades de grandes importadoras, resultou em mudanças que ainda repercutem no mercado.

 

"Tivemos falta de diversos rótulos", diz Mabio da Silva Bento, especialista em vinhos da Net Drinks, que tem lojas em Pinheiros e Higienópolis. "Os clientes que gostavam de comprar o Reservado Concha y Toro, por exemplo, tiveram de mudar de marca."
A Concha y Toro respondeu por 26% dos R$ 870 milhões vendidos em vinhos importados em 2008 no Brasil. Porém, as dificuldades da Expand, que representava a vinícola no país há até pouco tempo, tiraram das lojas os rótulos mais vendidos da marca.

 

Segundo fontes do setor, a Expand sofreu com o alto endividamento, que resultou na perda de marcas importantes de seu portfólio, bem como na saída de boa parte de sua diretoria, que foi para a concorrência. Segundo a Folha apurou, a Expand perdeu também recentemente a representação da Concha y Toro, que respondia por mais de 60% de seu faturamento. Hoje, a empresa vende apenas as garrafas da marca que tem em estoque.

 

A Expand nega. "Desde o ano passado, [a Concha y Toro] já opera na país, distribuindo algumas marcas com as quais a Expand não tinha interesse em trabalhar", informou por e-mail Roberto Fialkovits, diretor da Expand. "Temos um contrato de cinco anos com a Concha y Toro, renovado recentemente, mas estamos em negociação com a empresa para redefinição da parceria."
Procuradas, tanto a Concha y Toro Brasil como a matriz no Chile não deram entrevista. Segundo Fialkovits, a Expand reduziu seu portfólio de 2.000 para 1.000 rótulos, entre outras razões, porque o "mercado atual é muito competitivo".

 

Inferno astral

 

A Expand, no entanto, não foi a única grande importadora a ter problemas. As dificuldades começaram com a implantação da substituição tributária, que obrigou o setor a ter maior fluxo de caixa. Nesse regime, o imposto antes recolhido pelo varejo é antecipado pelo importador ou pelo distribuidor. O varejo teve de recolhê-lo retroativamente sobre o estoque.
"Por seis meses, muitas empresas simplesmente pararam de faturar porque o dinheiro que tinham para comprar vinho foi usado para antecipar o pagamento de impostos", diz Adão Morellatto, diretor da International Consulting, consultoria na área. "Numa das importadoras para a qual presto serviço, as vendas chegaram a cair 80%."

 

Depois vieram a Lei Seca, a restrição de caminhões na cidade, a alta do dólar na época em que as importadoras repõem os estoques e a absoluta falta de crédito. Além disso, dizem fontes do setor, algumas importadoras sofreram multas pesadas da Receita Federal, que apertou o cerco na área.

 

"O consumidor não absorve uma alta de 40% no dólar e outro tanto em tributação e simplesmente migrou para produtos mais baratos ou deixou de tomar vinho", diz Morellatto.
Muitas empresas que já enfrentavam dificuldades viram as contas se complicarem ainda mais. "O ano de 2008 foi o mais difícil dos últimos 30 anos", diz Elidio Lopes Cavalcanti, dono da Terroir. "Entre setembro e dezembro nossas vendas caíram pela metade, e muitos consumidores, com medo da crise, passaram a comprar vinhos mais baratos."

 

Segundo Lopes, a Terroir demitiu 40% de seus funcionários e reduziu os investimentos em marketing. Saiu também da loja do restaurante Bar des Arts, agora ocupada pela Expand, e de outros restaurantes. "Tivemos uma grande queda de receita e fomos obrigados a reduzir os custos fixos", diz ele. "Mas as vendas já começam a ser retomadas."

 

Com a presença menor das importadoras tradicionais, outras empresas começaram a ocupar espaços. Segundo Serge Zehil, sócio da Zahil Importadora, suas vendas para restaurantes aumentaram 25% nos últimos seis meses.

 

"Não só estamos em mais restaurantes, que já chegam a 350 em São Paulo, como as cartas têm um número maior dos nossos vinhos", diz Zehil.

 

As que mais cresceram, no entanto, foram as empresas que conseguiram os vinhos até então representados pela Expand. "Houve uma pulverização de marcas em empresas menores que ocuparam o espaço da Expand", diz Morellatto.

 

A própria Concha y Toro, no entanto, dizem empresários do setor, não tem conseguido atender à demanda por conta do passivo tributário. Ao consumidor, que ficou sem suas marcas preferidas, resta esperar. Ou experimentar.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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