Os vinicultores e os fabricantes da região francesa de Champagne chegaram a um acordo para colher 32% menos uvas este ano, deixando as frutas excedentes apodrecer no chão, em resposta à queda nas vendas do espumante no mundo todo por causa da recessão econômica.
O resultado desse corte na colheita e de outras reduções será um declínio de 44% no número de garrafas produzidas este ano. É um dos sinais mais nítidos até agora da maneira como a retração no consumo está afetando esse segmento do mercado de bens de luxo. A associação dos produtores de Champagne não faz cortes significativos no volume de uvas a utilizar desde 1955.
Pelas projeções, as vendas mundiais de champanhe devem cair para 260 milhões de garrafas este ano, ante um recorde de 339 milhões em 2007. Elas caíram em 2008, logo que a recessão começou, para 322 milhões de garrafas, a primeira queda desde 2000.
Em consequência, empresas como LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, o maior produtor mundial de champanhe, vêm pressionando para que sejam reduzidos os volumes globais da bebida, para não precisarem esvaziar suas adegas repletas de garrafas vendendo-as a baixo preço. O órgão que governa a indústria do champanhe, o Comitê Interprofissional dos Vinhos de Champagne, estima que há mais de 1,2 bilhão de garrafas estocadas em depósitos.
Mas a iniciativa é polêmica. Ainda no ano passado o governo francês tinha planos de expandir as terras aráveis de Champagne - a única região do mundo onde esse nome pode ser usado - pois era esperado um aumento na demanda, em especial dos Estados Unidos e Reino Unido.
Os vinicultores independentes da região de Champagne fornecem 90% das frutas necessárias para as engarrafadoras. A colheita deve começar nas próximas duas semanas.
Agora, centenas de produtores rurais terão que suportar as consequências desse corte obrigatório no fornecimento.
Segundo a decisão do comitê de Champagne, o volume de uvas que podem ser colhidas este ano será de 9.700 quilos por hectare, ante 14.200 no ano passado. Também pela primeira vez apenas 82% das uvas colhidas serão engarrafadas este ano - o restante vai envelhecer em tanques por pelo menos mais um ano, até que a queda nas vendas se estabilize. Com essas reduções haverá 44% menos garrafas do produto este ano.
O volume da colheita é decidido a cada ano por um comitê que consiste de dois grupos poderosos do setor: os vinicultores e as empresas produtoras. Até agora ambos os grupos sempre pressionaram para que a safra fosse a maior possível. No passado as uvas só ficavam sem colher se fossem de qualidade inferior.
"Todos nós fomos afetados" pela crise, diz Jean-Marie Barillère, diretor de champanhe da Moët Hennessy. "Quando as vendas caíram mais de 20% abaixo das nossas projeções, ficamos com excesso de estoques." A LVMH, proprietária de marcas como Moët et Chandon e e Veuve Clicquot, informou que as vendas no primeiro semestre de seus vinhos e champanhes caíram para 458 milhões de euros, um declínio de 28% ante o mesmo período do ano passado.
Veículo: Valor Econômico