Crescimento da Diageo fica abaixo do esperado no Brasil

Leia em 3min 40s

"Deu vontade de jogar a toalha." É isso o que diz Alexandre Louro, presidente da Diageo Brasil, quando se lembra do que passou nos 12 meses terminados em 31 de maio, o ano fiscal da maior fabricante mundial de destilados do mundo. Diferentemente da maior parte das indústrias de alimentos e bebidas no Brasil, a Diageo não foi tão resiliente à crise econômica mundial. Na verdade, segundo Louro, a crise foi apenas um dos obstáculos que a subsdiária precisou enfrentar. "Foi um ano que teve de tudo: dólar alto, dólar baixo, aumento de impostos, crise, gripe suína", afirma o executivo. Todos esses fatores, segundo ele, afetaram de algum modo a performance da Diageo que, no fim das contas, conseguiu fechar o balanço com um pequeno crescimento. "Pelo menos voltamos ao patamar que estávamos antes da crise."

 

As vendas da empresa no país cresceram "dois dígitos baixos", segundo Louro, o que na prática significa uma evolução perto de 10%. A meta, segundo ele, era atingir uma alta de "dois dígitos altos", ou seja, de 20% para cima. O resultado não é tão discrepante em relação ao que alcançou a Diageo mundialmente, que na semana passada divulgou ter atingido uma elevação de 7% nos lucros, passando de € 1,06 bilhão do ano fiscal 2007/08 para os atuais € 1,13 bilhão. O contraste fica por conta das razões que levaram tanto a a matriz quanto a subsidiária a esse desempenho. Enquanto a Diageo global conseguiu seu crescimento graças ao bom faturamento gerado pela aposta em marcas mais baratas (que acabaram compensando a queda nas vendas de bebidas caras), por aqui a salvação da lavoura foram as bebidas premium.

 

"Tivemos aumento apenas nas vendas de vodca e nas bebidas mais caras, dirigidas ao público de maior poder aquisitivo", afirma Louro. "Os uísques de 12 anos e os ´standards´ - que vinham ganhando mercado com o maior poder aquisitivo da classe C - tiveram queda", afirma o presidente.

 

Os obstáculos começaram, segundo Louro, assim que a crise mundial estourou, em setembro do ano passado. Na época, o dólar disparou e, embora, de acordo com o executivo, a empresa não tenha repassado a diferença cambial para os preços, o consumidor - assustado -- se afastou das garrafas do uísque Johnnie Walker, das latas de cerveja Guinness e de outras marcas da companhia, como Baileys, J&B, Captain Morgan e Cuervo. "A alta do dólar nos prejudicou mais em relação ao nosso faturamento nos free shops", diz Louro. O consumidor, segundo ele, deixou de viajar e, portanto, a venda nas lojas de aeroportos - que representam de 15% a 20% do faturamento da Diageo Brasil - despencaram.

 

Assim, nesse ritmo ruim, se seguiram as festas de fim de ano até que janeiro chegou, com alta de 30% no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para "bebidas quentes", categoria dos destilados. O aumento para a cerveja (classificada como "bebida fria") foi de 15%. "No Brasil, 80% do consumo de bebidas alcoólicas é cerveja. Os destilados são apenas 8% [os 12% restantes são vinhos e espumantes]. Há muito espaço para crescer, mas com uma carga tributária assim atrapalha muito", diz o executivo.

 

A alta do IPI, segundo ele, afetou as vendas até abril. A partir do segundo trimestre, a cotação do real começou a subir frente ao dólar - o que deu esperanças de reaquecimento das vendas em free shops. Mas aí veio a gripe suína. "Os embarques para a Argentina (a maior parte do movimento de turistas brasileiros) despencaram e também as vendas nos aeroportos."

 

Mas o ano fiscal também teve seus momentos de recuperação. Segundo Louro, eles aconteceram nos últimos dois meses do período fiscal. "Os hotéis no Nordeste, por conta da restrição do turismo para o exterior, alcançaram lotação máxima e isso significa boas vendas de uísque", conta ele. O consumo de marcas mais baratas também esboçou uma retomada. Para os próximos meses, a meta é tentar manter esse espírito de recuperação, caso, segundo Louro, "não haja nenhuma surpresa na economia americana ou mundial". "Apesar de tudo, as multinacionais agora têm uma expectativa alta com relação ao Brasil. A Diageo não foge disso", diz o executivo.
 


Veículo: Valor Econômico

 


Veja também

Champagne corta sua produção em 44%

Os vinicultores e os fabricantes da região francesa de Champagne chegaram a um acordo para colher 32% menos uvas ...

Veja mais
Justiça de SP decide a favor da Femsa no caso "Sol" contra "Puerto del Sol"

A AmBev recebeu da Justiça na semana passada mais uma decisão desfavorável. Conforme foi publicado ...

Veja mais
AmBev ofereceu R$ 12 milhões ao Cade

Um dia antes de receber a multa de R$ 352 milhões, a AmBev propôs ao Conselho Administrativo de Defesa Econ...

Veja mais
Varejistas procuram espantar "enochatos"

No começo da década de 1990, o consumo de vinhos se restringia, praticamente, a um pequeno público ...

Veja mais
AmBev poderá indenizar a Femsa em até R$ 70 mi

A Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) poderá pagar uma indenização de R$ 70 milh&otild...

Veja mais
Água de coco ganha mercado nos EUA

Empresas fundadas por brasileiros abrem espaços no país, e gigantes [br]como Coca-Cola e PepsiCo já...

Veja mais
Coca-Cola também pode comprar água de coco

No pequeno mundo da água de coco, ninguém dá ponto sem nó. Há pouco menos de um m&eci...

Veja mais
Alheio à guerra das cervejas, consumidor aprova o "litrão"

Na hora de comprar sua cerveja, o brasileiro não quis nem saber se a garrafa de 1 litro que estava levando para c...

Veja mais
SDE vai investigar executivos da AmBev

O Ministério da Justiça vai começar a investigar acusações de que os executivos da Am...

Veja mais