Bebidas: Presidente da maior fabricante de cerveja do país reclama, mas varejista diz que a margem é baixa
Diante de uma plateia composta por pelo menos 700 supermercadistas de todo país, João Castro Neves, presidente da Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), fez um pedido: "Este é um recado que vale para todos nós: o espaço para bebidas tem diminuído nos supermercados e isso representa um risco para nossa companhia e a gente quer convencer vocês de que é também um risco para a categoria."
A preocupação do executivo, que participou ontem em São Paulo da 43ª Convenção da a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), tem sua razão: ao mesmo tempo em que as vendas de cerveja no país vêm ganhando força nos supermercados, a área disponível para o produto nas gôndolas vem diminuindo. A rentabilidade do produto, segundo os supermercadistas, é baixa. "É preferível destinar mais espaço de loja para produtos que têm maior margem de retorno", afirmou um participante do evento, dono de uma rede de lojas no Distrito Federal, que não quis divulgar seu nome.
Conforme dados da Nielsen, as vendas de cerveja nos supermercados tiveram alta em volume de 8,1% entre janeiro e maio deste ano. Bares e restaurantes, por sua vez, tiveram uma evolução oito vezes menor, de apenas 1%.
Dada a importância que o autosserviço vem ganhando, a AmBev, segundo Castro Neves, resolveu investir nesse canal de venda. "Esse foi on ano em que mais investimos em ações promocionais em lojas, sejam elas grandes ou pequenas, e essa tendência vai continuar no ano que vem", disse o executivo. "Não dá nem para comparar o quanto esse investimento cresceu em relação a outros anos. Antes, era uma coisa centralizada em poucas lojas, agora é geral. Um percentual chegaria a a mil e tantos por cento", declarou.
A ideia, segundo ele, é aproveitar feriados, datas comemorativas e eventos, como partidas de futebol, para fazer ações promocionais em conjunto com os supermercados. "Essa é uma categoria de produto que traz resultados e tráfego de consumidores para a loja", defende.
Outra estratégia da empresa, segundo Neves, é criar gôndolas diferenciadas para cerveja, com produtos premium. "Já fizemos isso na Argentina e deu muito certo", afirma ele, que antes de assumir a presidência da cervejaria, no início do ano, foi o principal executivo da AmBev por três anos no país vizinho. "A ideia é criar uma experiência de consumo diferenciada para o consumidor de cerveja, algo que já é feio por aqui com as gôndolas de vinho."
Os lançamentos da AmBev, segundo ele, também têm privilegiado os supermercados. "Um bom exemplo são os litrões", diz Castro Neves. A embalagem que, segundo os institutos de pesquisa, é a que tem tido melhor desempenho de vendas nos últimos 12 meses, é vendida pela AmBev apenas em supermercados e padarias. Lançada há pouco mais de um ano, a garrafa de um litro representava só 0,1% do volume total vendido no início de 2009. Em agosto, o litrão já tinha mais de 1,3% das vendas. Passou de 2,8 milhões de unidades para 14,5 milhões em sete meses.
Veículo: Valor Econômico