Com a aquisição, Miolo se transforma no maior produtor nacional de vinhos finos
Uma das marcas mais tradicionais de vinho no Brasil, a Almadén, foi vendida ontem pelo grupo francês de bebidas Pernod Ricard à vinícola gaúcha Miolo. O negócio, cujo valor não foi revelado, inclui ainda a fábrica em Santana do Livramento (RS) e o vinhedo da empresa, o maior da América Latina em área plantada. Com a compra, a Miolo vira a maior produtora nacional de vinhos finos, produzindo 12 milhões de litros por ano, e complementa seu portfólio com uma marca de alta penetração e preço baixo - a garrafa de Almadén custa entre R$ 8 e R$ 12, enquanto o rótulo mais barato do grupo gaúcho custa cerca de R$ 15.
"Vamos antecipar em seis anos nossa meta traçada no planejamento estratégico da empresa para 2018", disse o presidente da Miolo, Marcelo Toledo. O executivo, com passagens pelas multinacionais Diageo, Femsa e AmBev, assumiu o comando da empresa há poucas semanas com a tarefa de transformá-la no maior exportador e produtor de vinhos finos do País. A estratégia teve início em 2006, quando a vinícola foi rebatizada como Miolo Wine Group e passou a investir em parcerias no Brasil e no exterior, como as firmadas com a chilena Via Wine Group e a espanhola Osborne. Em pouco menos de cinco anos, a Miolo dobrou de tamanho. Hoje, fatura cerca de R$ 100 milhões.
Segundo a empresa, o objetivo é dobrar a participação da Almadén no mercado nos próximos dez anos. Os novos donos da marca planejam investir, inicialmente, R$ 12 milhões em marketing, mecanização e modernização da empresa. A criação de uma estrutura de enoturismo também está nos planos. De acordo com a Miolo, os cerca de cem empregados da vinícola serão mantidos. A expectativa é de que todo o processo de incorporação seja finalizado até o fim do ano.
Para especialistas, a compra da Almadén significa a entrada em um segmento de vinho com faixa de preço mais acessível, onde seus principais concorrentes nacionais, como a Salton, já estão presentes. "Ela ainda não tinha uma marca de guerrilha, como o Almadén, que garante escala, penetração e poder de barganha com o varejo", diz uma fonte do setor.
A Almadén, comprada pela Pernod Ricard em 2002, foi uma das pioneiras na produção de vinhos finos no País, ainda na década de 70. Tornou-se líder em vendas no mercado nacional, mas, nos últimos anos, seu volume de produção vinha caindo, segundo o gerente de marketing do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Diego Bertolini. "Ela perdeu importância nos canais de venda", diz o sommelier da importadora Decanter, Guilherme Corrêa.
A marca teria sido "esquecida" pela multinacional de bebidas, que tem investido fortemente no segmento de destilados, diz a fonte. Dona de marcas como os uísques Ballantine"s e Chivas Regal, o rum Havana Club e o champanhe Mumm, a Pernod Ricard adquiriu há cerca de dois anos, a vodca Absolut, líder mundial de vendas. O fim da licença de comercialização do Casillero del Diablo, da vinícola chilena Concha y Toro, até então pertencente à multinacional, também enfraqueceu a área de vinhos dentro da companhia. O rótulo importado é um dos mais vendidos no País.
Para Diego Bertocini, da Ibravin, nas mãos da Miolo a Almadén deve passar por uma revitalização. "Eles vão recuperar a produção e manter a marca, que é bastante lembrada entre os brasileiros", acredita. Segundo o grupo gaúcho, a Almadén será uma empresa independente, "mas terá as mesmas orientações técnicas dos demais projetos do grupo".
O negócio acontece em um momento de recuperação da indústria vitivinícola nacional. Após quatro anos de queda, as vendas de vinhos finos no primeiro semestre de 2009 subiram 14%. As importações caíram 3% no período. O câmbio favorável e as campanhas de promoção do vinho brasileiro ajudaram o setor.
NÚMEROS
12 milhões
será a produção anual da Miolo após a aquisição da Almadén
14%
foi o crescimento da indústria nacional de vinhos finos no primeiro semestre de 2009
Veículo: O Estado de S.Paulo