Sucesso do "jamón ibérico" realça poder da denominação de origem

Leia em 3min 30s

Cenários: Símbolo da região da Extremadura, o presunto curado espanhol ganha mercados

 

Nas terras férteis do oeste espanhol, ao longo da faixa de fronteira com Portugal, os criadores de uma raça suína milenar e as indústrias processadoras de carne construíram um sólido complexo de produção do maior símbolo da região da Extremadura: o "jamón ibérico", ou presunto curado.

 

Por trás dessa reconhecida marca global extremenha, presente em mais de uma centena de mercados, está um amplo e coordenado esforço empresarial para vender um produto "premium", cuja peça (um pernil de oito quilos) pode valer até R$ 5 mil no Brasil. E um dos mais importantes motivos para a confiança do consumidor tem sido a adoção da chamada denominação de origem protegida do "jamón".

 
 
O diferencial desse nome geográfico, usado para identificar características exclusivas conferidas por fatores naturais e humanos, vai muito além do mero marketing. Inclui também em seus atributos apelos de saúde, boas práticas produtivas e de exclusividade.

 

As seis denominações de "jamón" espanhol têm usado o local de origem da produção com um atributo de imagem em suas marcas internacionais. "Vendemos um produto ' premium ' , de cura natural. É um 'conhaque' com uma característica muito especial de saúde", diz o diretor de produção da empresa Montesano Extremadura, Cecilio Mangas Guijarro. A construção da identidade do produto foi fundamentada nessa denominação de origem.

 

"E essas ' DOs ' continuam sendo muito importantes para o sucesso da produção", avalia o médico veterinário especialista Miguel Ángel Aparicio Tovar, professor da Universidade da Extremadura (Unex). Ele lembra que os romanos, cuja "Via da Prata" atravessa a região da Extremadura, já usavam os valores de sua cultura, identidade e poder como marcas de orgulho. "Aqui, temos feito um pouco disso em alguma medida", afirma. Em 2009, foram vendidos € 200 milhões em "jamón".

 

Mesmo longe do modelo do Velho Continente, o Brasil vê o êxito espanhol como uma alternativa para alavancar a criação de uma identidade típica para produtos nacionais, como queijos, vinhos, frutas tropicais, carnes e especiarias. "Temos muito para aprender com eles, mas temos uma riqueza de matérias-primas, procedimentos e empreendedores capazes", analisa o secretário de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Márcio Portocarrero.

 

Aqui, há apenas seis indicações de procedência, considerado um degrau abaixo da denominação de origem protegida. estão incluídos os vinhos do Vale dos Vinhedos (RS), a carne do Pampa Gaúcho (Bagé), o couro do Vale do Rio dos Sinos (RS), o café do Cerrado (MG), a cachaça de Paraty (RJ) e as uvas e mangas do Vale do Rio São Francisco (PE-BA). Há outros 41 produtos identificados pelo governo como potenciais beneficiários de proteção. Desses, 20 iniciaram processos no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

 

A experiência brasileira é nova porque a legislação é recente. A Lei de Propriedade Intelectual, por exemplo, é de 1996. "Mas só começamos a trabalhar com isso em 2003", diz o diretor de Propriedade Intelectual e Tecnologia, Paulo Nogueira. Na próxima semana, especialistas terão encontro internacional em São Paulo para debater o tema.

 

Na Espanha, o produtor de suínos Carlos Tristancho, um ex-ator de cinema dos filmes de Pedro Almodóvar e Vicente Aranda, tenta manter a criação de "cerdos ibéricos" de linhagem milenar em suas terras forradas de azinheiras. "Nosso processo de produção é demorado, longo e caro. Por isso, é um produto diferente".

 

Um "jamón ibérico" leva até cinco anos para ficar pronto no processo de maturação e curado naturais a que é submetido. Tudo em salas herméticas e controladas por computador. A carne macia, entremeada de gordura saudável originária da "belota" (fruto da azinheira que finaliza a ração suína), repousa em câmaras frias, passa por uma salga, é levada a baixas temperaturas, lavada e, finalmente, volta à temperatura ambiente em um demorado processo de produção.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Produção de carne bovina tem de dobrar até 2050

A 3ª Conferência Internacional de Confinadores (Interconf) debaterá este e diversos outros desafios da...

Veja mais
Peixes do Pantanal

Agora não vai ser mais preciso ir pescar no Mato Grosso do Sul ou no Pantanal para comer os bons peixes de &aacut...

Veja mais
Preços da carne suína mantêm tendência de alta

Cenário favorece ampliação dos valores pagos aos suinocultores mineiros.   Os preços...

Veja mais
Frigorífico Minerva avança sobre concorrentes nas exportações

Empresa responde por mais de um quinto das vendas externas de carne bovina no primeiro trimestre   Um dos maiores...

Veja mais
Exportação de carne suína cai em volume, mas mostra recuperação da receita

Os embarques brasileiros totalizaram 51,25 mil toneladas em abril, queda de 5,1% sobre o mesmo mês do ano passado,...

Veja mais
Minerva aumenta presença no mercado interno e no exterior

O frigorífico Minerva registrou no primeiro trimestre do ano receita recorde de R$ 744,4 milhões - aumento...

Veja mais
Carne na brasa

Os frigoríficos nacionais vão aproveitar os jogos na África do Sul para marcar a volta da carne bra...

Veja mais
Turquia busca carne de aves e bovina do Brasil

Indústrias exportadoras apostam no mercado, mas é preciso definir regras   Mais uma boa notí...

Veja mais
Água no frango

O Diário Oficial da União publicou, na quinta-feira, a instrução normativa com os parâ...

Veja mais