Brasil não tem um sócio comercial natural

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Ao pregar o pragmatismo, o governo diversificou o comércio exterior.


    
País soube estabelecer, manter e avaliar suas necessidades e buscar no mundo o que atende às suas necessidades

 

Interpretações, análises e medidas equivocadas exercem - por vezes - pressões muito mais relevantes e negativas do que a realidade dos fatos nos impõe. O fato é que premissas falsas distorcem a realidade.

 

Recentemente, ao anunciar o aumento dos embarques da carne brasileira para mercados como a Rússia, o Irã e o Chile fui "advertido" de que estes seriam mercados de "altos e baixos", e que, "clientes tradicionais" como alguns países europeus e outros ditos desenvolvidos deveriam ser o foco principal das nossas atividades de exportação e das nossas ousadas ações de promoção comercial.

 

A credibilidade, a eficiência, a transparência, a independência, a previsibilidade, a proteção aos contratos não se dão de forma gratuita. Muito pelo contrário, são objetos de permanente construção das relações internacionais onde crises políticas e, mais recentemente econômicas, repousam no cerne do processo de aprendizado e aperfeiçoamento da história recente.

 

A estabilidade comercial entre as nações não deve ser vista exclusivamente pela ausência de crises e, em especial, de crises políticas, no relacionamento bilateral com outros países. A política comercial de um país deve operar de maneira a identificar recursos externos que possam ser utilizados para o desenvolvimento nacional, para o aumento do emprego e da renda interna.

 

Todo esforço no sentido de abandonar princípios ideológicos, como já foi no passado, e formular uma política externa que se defina como pragmática deve ser destacado no trato da agenda internacional brasileira e no relacionamento bilateral com novos atores que emergem desses interesses e que se consolidam na estratégia comercial realista e objetiva de empenho concreto para o Brasil.

 

Sem politizar a sua execução, a política comercial brasileira deve apresentar compromisso inequívoco com a liberalização do comércio internacional de forma a inserir cada vez mais nosso país no competitivo mundo globalizado, de forma serena, porém firme.

 

A política comercial do atual Governo e sua estratégia de negociação internacional sugeriram muitas críticas - inclusive minhas. No entanto, ao pregar o pragmatismo nas relações internacionais, a atual gestão diversificou o comércio exterior brasileiro e empenhou, de forma inegável, seus interesses no agronegócio brasileiro.

 

Nunca é demais lembrar que o Brasil não tem nenhum sócio comercial "natural". Todas as conquistas de mercado se deram pela superação e pelo aprendizado lógico, racional e nunca pelas fórmulas restritivas e protecionistas que até hoje impedem o crescimento dos países em desenvolvimento por aqueles que se auto-declaram desenvolvidos.

 

Uma política comercial atuante e eficiente, em um mundo cada vez mais complexo, pressupõe apropriar-se das rápidas transformações em curso no cenário internacional e impor um planejamento de médio - e às vezes - de curto prazo com clara definição de prioridades no longo prazo.

 

Mais ação e menos ideologia é o que o Brasil deve ter como princípio em sua política comercial. Nos últimos dez anos o país soube estabelecer, manter e avaliar suas necessidades e prioridades, bem como buscar no mundo o que atende às suas necessidades internas.

 

Exemplo disso é a política comercial da Camex, muitas vezes impedida de desempenhar suas obrigações, mas que ao exercer seu poder de articulação interministerial, neste Governo, explicitou - enfim - sua capacidade decisória no processo de retaliação entre o Brasil e os Estados Unidos no contencioso do algodão.

 

Outro claro e distinto exemplo da expressiva ampliação das relações comerciais e internacionais do Brasil - em um mundo cada vez mais pluralista - é o honesto direito de, mediante legítima negociação, preservar as suas relações comerciais com países do Oriente Médio como o Irã, que só no primeiro trimestre de 2010 aumentou em 300% suas importações de carne bovina do Brasil, em comparação com o mesmo período de 2009.

 

A possibilidade de se instituir esse espaço de diálogo em busca de soluções pacíficas e pragmáticas - sempre prevendo dissonâncias externas - é um ativo que o Brasil alçou na última década, de forma a dar acesso comercial aos nossos produtos agrícolas em condições de igualdade, e não competir com os cofres dos Estados Unidos ou da União Europeia, que além de subsidiar altamente as suas produções impedem o acesso da carne bovina brasileira em seus territórios.

 

A visita presidencial ao Irã é um momento oportuno para as empresas exportadoras brasileiras conhecerem pessoalmente seus parceiros comerciais e estreitar, ainda mais, um comércio que está em plena expansão.

 

Desde 2001 a Abiec, em parceria com a Apex-Brasil, tem realizado workshops e churrascos nos principais mercados consumidores da carne brasileira. Todos os eventos foram bem recebidos pelas autoridades locais, bem como importadores interessados em fazer negócio.

 

Com esse trabalho de marketing saímos de US$ 800 milhões, em 2000, para US$ 5,3 bilhões em 2008. Mesmo com a crise, o Brasil ainda se mantém como o maior exportador de carne do mundo. Agora, o Irã se aproxima e já é o segundo maior importador em um momento no qual a indústria se recupera da crise. Para o setor é uma ótima notícia.

 

Enfim, sejamos mais práticos, objetivos e diretos aos interesses nacionais.

 

Otávio Hermont Cançado é diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e presidente do Serviço de Informação da Carne (SIC)
 


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