Estudo questiona lista oficial de peixes em risco no país

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Número de espécies ameaçadas pode ser até seis vezes maior do que o imaginado, diz um novo levantamento

 

Em vez de 133 peixes em risco, pesquisadores classificaram cerca de 800; número ainda pode crescer, diz autor

 

A lista oficial de espécies ameaçadas no Brasil elenca 133 peixes sob risco de sumir no país, mas o número verdadeiro pode ser entre quatro e seis vezes maior, revela um novo levantamento.

 

O estudo, publicado recentemente na revista científica de acesso livre "PLoS One", mostra como a biodiversidade dos rios do país anda mal das pernas. Embora o Brasil abrigue a maior variedade de peixes de água doce do planeta, com quase 2.600 espécies registradas em 2007, 819 delas são classificadas, na pesquisa, como potencialmente ameaçadas.

 

A lista de espécies levantada pela pesquisa abrange, em geral, bichos de pequeno porte, não muito conhecidos do público, mas nem por isso menos importantes.
Segundo Buckup, no ecossistema dos rios, essas espécies ocupam uma posição intermediária entre os insetos e as grandes espécies de peixes migratórios.
São animais como piabas, cascudos e coridoras, esses últimos importantes economicamente por serem apreciados pelos aquaristas.

 

"É importante lembrar que esse número se refere apenas às espécies com distribuição geográfica restrita", disse à Folha o ictiólogo (especialista em peixes) Paulo Buckup, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Há também as espécies migratórias, de grande porte, as quais, em muitos casos, também sofrem ameaças sérias."

 

Buckup e seus colegas da ONG Conservação Internacional, do Museu de Zoologia da USP e de outras instituições tomaram como base, na análise feita, 540 microbacias hidrográficas, pertencentes às grandes redes de rios do país.

 

Nessas pequenas bacias, eles mapearam as espécies que só ocorrem em tais regiões delimitadas, cujos registros feitos por cientistas são relativamente escassos.
Segundo critérios internacionais, esse fato já é suficiente para considerá-las vulneráveis ao sumiço permanente. Com esse método, os cientistas chegaram ao número de 819 espécies.

 


Bacia do Paraná tem estado mais crítico

 


O grupo de pesquisadores fez também um mapeamento das microbacias afetadas pela destruição do ambiente original no seu entorno.

 

Entram nessa categoria bacias com 70% ou mais da área desmatada e com menos de 30% de sua extensão correspondente a áreas protegidas por lei.

 

A partir desse critério, ou avaliando o impacto direto de hidrelétricas sobre as bacias, os pesquisadores puderam classificar as áreas estão em estado crítico.
Resultado: 40% das microbacias brasileiras, nas quais vivem 344 espécies de peixes que só existem nelas, estão nessa situação.

 

O quadro é especialmente feio nas bacias do Paraná (78% em estado crítico), Uruguai (67%) e nas várias pequenas bacias do Atlântico (mais de 40%).
Nas microbacias perto da costa, a pequena dimensão das redes de rios ajuda a explicar as ameaças aos peixes, já que eles naturalmente têm distribuição mais restrita, conta Buckup. Essas áreas têm densa ocupação humana e o muitas hidrelétricas.
"No rio Grande [fronteira de São Paulo com Minas Gerais] havia cânions, com espécies adaptadas a corredeiras. Esses bichos desapareceram dali. Agora há é um lago com até espécies amazônicas e africanas", afirma.

 

De fato, esses espécies invasores são outra grande ameaça nas regiões mais ocupadas. Em todos os rios do planalto de São Paulo, como o Tietê, embora a diversidade de espécies exclusivas hoje seja relativamente baixa, é bem provável que muitas tenham desaparecido no começo do século 20 sem nem terem sido registradas pela ciência.
Aliás, entre as oito espécies que o estudo aponta como ameaçadas na região em que será construída a usina de Belo Monte, no Xingu, está uma vedete dos aquários, o cascudo-zebra (Hypancistrus zebra).

 

Segundo o ictiólogo, é preciso planejar com cuidado áreas protegidas que englobem as microbacias críticas para evitar extinções. (RJL)

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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