No primeiro dia de seu périplo por gabinetes da Comissão Europeia, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, recebeu sinais de que será difícil e demorada a redução das exigências para a importação de carne bovina e de organismos geneticamente modificados pelos 27 países do bloco.
Em reunião com o comissário de Saúde e Defesa do Consumidor da UE, John Dalli, o ministro defendeu a transferência ao governo brasileiro da administração da lista de fazendas autorizadas a fornecer gado a frigoríficos nacionais. Diplomático, o europeu afirmou que as pressões políticas internas dificultam qualquer flexibilização neste momento, segundo fontes brasileiras.
Em público, porém, Dalli disse que estudaria com cautela a solicitação, já que a segurança alimentar do bloco não é traçada pelas autoridades apenas para produtos estrangeiros, mas também europeus. "Tais procedimentos são exigidos para todas as importações", declarou o comissário.
Os europeus têm interesse em ampliar o número de estabelecimentos habilitados a vender produtos lácteos e embutidos ao Brasil. Também pressionam o país a mudar o critério de habilitação. Hoje, auditores brasileiros habilitam indústrias em cada país do bloco, mas os europeus buscam simplificar o credenciamento por meio da habilitação para toda a UE.
Na mesma linguagem diplomática, o ministro Rossi acentuou a importância da medida. "Foi uma reunião positiva e um passo importante para estreitarmos os contatos para beneficiar a agricultura brasileira", disse, em nota, Rossi. A missão brasileira informou que Dalli sugeriu "atenção especial" às missões de inspeção da UE.
O ministro Rossi afirmou que as autoridades brasileiras estão "dispostas a dar todo o apoio logístico e operacional" ao trabalho dos auditores europeus. A visita de Rossi foi vista como "sinal político importante" entre os europeus. Mas "do ponto de vista prático não se sabe o que ocorrerá", relatou uma fonte. O comissário John Dalli deve visitar o Brasil em breve.
Os europeus também reclamaram dos altos preços da carne brasileira na UE. Os brasileiros explicaram haver uma "disparidade cambial" que encarece o produto nacional. Em reunião com importadores europeus, Rossi ouviu a mesma reclamação sobre o preço "salgado" e sobre a burocracia brasileira. Exportadores brasileiros reclamaram da demora de 50 dias para a publicação da última lista de fazendas pela UE. Em resposta, um dirigente britânico afirmou que a "burocracia não tem nacionalidade, é brasileira também".
O ministro também esteve com o presidente da Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu, Paolo de Castro. "Queremos dar as informações necessárias para ampliar o grau de conhecimento sobre o Brasil na Europa", disse Rossi, após falar sobre os programas de estímulo à produção sustentável no Brasil.
Veículo: Valor Econômico