Cientistas atacam selo "verde" de pesca

Leia em 2min 50s

Grupo liderado por canadenses diz que práticas pesqueiras supostamente sustentáveis estão sendo desvirtuadas

 

A credibilidade do principal selo de pesca sustentável do planeta -que já andava um tanto abalada- foi definitivamente posta em xeque nesta semana.
Em artigo na revista "Nature", pesquisadores acusam o MSC (Conselho de Boa Gestão dos Mares, em inglês) de se preocupar cada vez mais com os interesses da indústria pesqueira, deixando de lado as questões ambientais.

 

"Nós acreditamos que os incentivos do mercado afastaram o esquema de certificação de seu objetivo original, promovendo, como nunca antes, a certificação das operações de capital intensivo", afirmam os cientistas, liderados por Jennifer Jacquet e Daniel Pauly, da Universidade da Colúmbia Britânica.

 

De acordo com eles, a expansão do órgão acompanhou o interesse por frutos do mar pescados de forma responsável. As indústrias certificadas saltaram de seis, em 2004, para 94 atualmente. Outras 118 estão em processo de avaliação.
Embora o MSC seja uma entidade sem fins lucrativos, a certificação custa caro: entre US$ 15 mil e US$ 150 mil (algo em torno de R$ 26,4 mil e R$ 264 mil) por companhia.
Esse dinheiro é pago a consultorias credenciadas -com fins lucrativos- que conduzem todo o processo.

 

Para os cientistas, esse sistema cria um conflito de interesses. Os responsáveis pelas avaliações podem achar que, se forem mais lenientes com o cumprimento dos critérios, podem receber mais trabalho e lucrar com as auditorias anuais obrigatórias, que podem custar até US$ 75 mil.

 

DA PESCA À MESA

 

De acordo com os parâmetros da organização, todas as etapas "da pesca à mesa" precisam ser avaliados. Isso faz os processos se arrastarem por muito tempo, em alguns casos, durante anos.

 

Além da questão financeira, o artigo também critica os parâmetros ambientais que regulam o MSC.

 

Para contestar essas avaliações é preciso pagar taxas que chegam a milhares de dólares. A palavra final é dada por especialistas independentes que, conforme o artigo, são advogados, e não cientistas. Dos quatro atuais, apenas dois têm experiência com manejo de pesca.

 

A certificação da pesca do krill da Antártida (Euphausia superba) - um crustáceo de mares frios semelhante ao camarão- é outro dos tópicos mais sensíveis.
Eles são a base da cadeia alimentar do ecossistema, servindo de alimento para peixes, baleias e vários outros animais marinhos.

 

Os pesquisadores contestam os números do MSC - de que apenas 1% dos krills estão sofrendo pressão pesqueira. Citam estudos anteriores que falam da rápida e crescente redução dessas populações. E há outros casos aparentemente ainda mais graves (veja quadro acima).

 

A pouca representatividade dos países em desenvolvimento também foi alvo dos cientistas. A maior parte dos frutos do mar consumidos na Europa e nos EUA vêm dessas nações, que têm apenas uma empresa certificada e nenhum representante no conselho da entidade.

 

Para José Truda, membro de um grupo de ONGs conservacionistas latinoamericanas, a nacionalidade não é tão relevante. "O principal é o comprometimento ambiental, que independe de nacionalidade. Infelizmente, isso anda em falta no MSC", afirmou ele, que concorda com as outras críticas do artigo.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

EUA deverão aprovar salmão geneticamente modificado

O FDA, agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, está prestes a aprovar o salm&atild...

Veja mais
Governo argentino estuda saída para reabrir frigoríficos no país

O governo argentino estuda intervir para que a crise envolvendo frigoríficos no país não resulte no...

Veja mais
Oferta menor e demanda seguram preço do frango

O quilo de ave foi negociado ontem a R$ 1,80 nas granjas paulistas. Esse preço não ocorria desde julho do ...

Veja mais
Brasil Foods quer direcionar foco para emergentes

Com a perspectiva de baixo crescimento econômico na União Europeia (UE) nos próximos anos, a BRF Bra...

Veja mais
Oferta restrita valoriza arroba do boi

Os preços da arroba do boi gordo estão firmes em todo o País, sustentados pela demanda e oferta res...

Veja mais
Carrefour negocia mil toneladas de pescados para semana do peixe

Com mais de 50 tipos de pescados em suas peixarias, a empresa prevê um incremento de 10% nas vendas da categoria. ...

Veja mais
Carne de pato: Para crescer, Villa Germania se associa a Mercatto

Líder nacional no abate e comercialização de patos e com exportações para país...

Veja mais
Crise na pecuária argentina ajuda o Brasil a exportar, mas carne subirá

Com país vizinho exportando menos, produto nacional pode se consolidar no mercado externo  A séria c...

Veja mais
JBS diminuirá presença na Argentina

Falta de gado para abate e restrições à exportação dificultam atividade de frigor&iac...

Veja mais