Os preços internacionais da carne bovina já estão refletindo o desânimo dos importadores, sobretudo dos russos e europeus - importantes compradores do produto brasileiro -, por conta da crise financeira global.
O preço médio da tonelada do contrafilé, por exemplo, caiu cerca de 20% em um mês, para patamares de US$ 8 e US$ 9 mil no mercado internacional. Esses seriam preços de referência para negociações desse corte no Sial, que termina hoje, em Paris, na França. O evento é uma das maiores feiras de alimentação do mundo. "O fato de a Rússia estar diminuindo compras e também do consumo ter piorado um pouco na Europa acabaram refletindo nos preços internacionais", disse Juan Lebrón, diretor da Assocon, entidade que representa 47 confinadores de seis estados brasileiros, proprietários de 547 mil cabeças de gado.
Os confinadores participam pela primeira vez do evento e dão o primeiro passo para a estratégia de conquistar um nicho de importadores europeus que não é foco dos frigoríficos.
Lebrón, embora não esteja negociando venda de carne bovina na feira, notou que os importadores participantes do evento estão "comprando menos". "O ânimo não está bom, o cenário é difícil. A arroba do boi tem tendência de alta no Brasil enquanto os preços internacionais mostram desaquecimento. No entanto, a feira aconteceu muito em cima do estouro da crise e acho que o cenário tende a se acomodar, tudo no começo parece pior do que realmente é", avaliou. "Ainda é muito cedo para fazer projeções."
Os frigoríficos brasileiros exportadores admitem que a hora não é a das melhores para fechar vendas para a Rússia. Segundo Luiz Carlos de Oliveira, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), os novos contratos estão em compasso de espera. "Há mercadoria parada em portos porque importadores russos estão com dificuldades para obter crédito e internalizar a compra", disse ontem.
A Rússia é o principal comprador da carne bovina brasileira. Até setembro importou o equivalente a mais de US$ 1 bilhão. No caso da carne bovina in natura, o país compra 50% do que os brasileiros exportam. Já a União Européia, que diminuiu bastante os volumes adquiridos do Brasil em 2008 por conta de problemas com a rastreabilidade, importou o equivalente a US$ 506 milhões até setembro. Também é um destino importante porque paga muito bem por cortes nobres (contrafilé, alcatra e filé mignon).
O desaquecimento nos preços internacionais, em um primeiro momento, não deve refletir no mercado interno. Segundo Fabiano Tito Rosa, consultor da Scot Consultoria, mesmo nesses patamares, no caso do exemplo do contrafilé, a exportação é bastante vantajosa para os frigoríficos por conta do efeito câmbio. Enquanto o preço da carne teve queda de 20%, o dólar valorizou mais de 30% no mesmo período. Em cenário normal, o exportador estaria lucrando mais agora. "No entanto, o cenário é de crise. Há dificuldades para acesso a crédito nas duas pontas, exportadora e importadora e, além disso, os compradores começam a se precaver e compram menos", avalia o consultor da Scot.
Se houver redução de demanda, os frigoríficos terão de buscar outros mercados para direcionar volumes comercializados para esses dois destinos. A carne exportada para a Rússia é da parte dianteira, mais fácil de redirecionar. Bons compradores desse produto são os países do Oriente Médio. No caso dos cortes nobres, a segunda alternativa seria o próprio mercado brasileiro, pois não há outro importador que compre, em volume, como aquele continente, segundo Tito Rosa.
Estratégia da Assocon
Com a participação na feira, a Assocon quer conhecer melhor o que busca o consumidor europeu. A idéia é identificar os importadores que atendam ao público mais exigente, preocupado com a forma como a carne foi produzida (questões sociais, por exemplo). Os frigoríficos não têm esse foco e atendem aos importadores de grandes volumes. Lebrón diz que a intenção é trabalhar em parceria com os frigoríficos. "Teremos a matéria-prima e o importador", conclui.
Os preços internacionais da carne bovina apresentaram uma queda de 20% com a retração nas compras da Rússia e da Europa.
Veículo: DCI