Pressão por ação política contra embargo russo

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Exportadores de carnes reuniram-se ontem com governo; missão irá a Moscou em duas semanas

 

As indústrias exportadoras de carnes pressionaram ontem o governo a adotar "ação política" e elevar o tom das negociações com a Rússia para evitar o embargo a 85 estabelecimentos por alegadas razões sanitárias. A suspensão das compras serve como forma de forçar o governo brasileiro a negociar melhores condições de acesso à Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

Em reunião com dois ministros e um dirigente do Itamaraty, os empresários pediram a intervenção do vice-presidente Michel Temer nas tratativas, sobretudo por meio de um contato direto com o primeiro-ministro russo Vladimir Putin. Eles querem reverter a suspensão das compras a partir do dia 16 de junho.

 

"O vice-presidente Temer tem que entrar no processo. Temos que tratar como assunto de Estado", defendeu o presidente da Associação da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. "Temos que pedir um 'waiver' (prazo) para negociar isso lá na frente. Dia 16 já passou".

 

Os industriais avaliaram que Temer teria levado "bola nas costas" de Putin ao combinar, e fazer constar em declaração conjunta, procedimentos de "consultas regulares" justamente para evitar medidas unilaterais. Temer comandou, em maio, uma missão oficial à Rússia.

 

"O governo tem que trabalhar politicamente de forma paralela às explicações técnicas. O vice-presidente recebeu uma 'bola nas costas' lá. E pode cobrar os russos por isso", disse o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. "O Temer pode pedir diretamente ao Putin enquanto a explicação técnica não é dada. A Rússia precisa voltar ao status anterior e suspender essa retaliação".

 

Os ministros da Agricultura, Wagner Rossi, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, defenderam "cautela" na negociação para evitar "um pretexto" aos russos que possa azedar ainda mais as relações. O subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Valdemar Carneiro Leão, pediu aos empresários a desvinculação de questões sanitárias da pressão política exercida pelos russos nas negociações para a OMC.

 

Na declaração conjunta de Temer e Putin, acordaram "consultas regulares" em questões de segurança alimentar e "prioridade, de forma recíproca" a solicitações de registro e habilitação de produtos e estabelecimentos. Ou seja, a decisão do serviço sanitário russo "rasgou" o compromisso assumido pelos dois.

 

Os industriais rejeitaram tratar-se de um "simples problema comercial", como afirmou uma autoridade na reunião. O embargo prejudica o Brasil para além da Rússia, já que deixa "na berlinda" o sistema nacional de defesa agropecuária. "Alertamos para a gravidade da situação, especialmente na carne suína", disse Turra. "Isso é tão sério que vai parar 45% das exportações de suínos".

 

Em público, o ministro Wagner Rossi adotou um tom diplomático ao informar que enviará, em duas semanas, uma missão à Rússia para "discutir a retomada das negociações". Ele disse que o governo analisará as "alegações russas" e que as exigências fitossanitárias "serão atendidas". "Vamos reforçar as análises laboratoriais e fazer o nosso dever de casa", comentou. Mas admitiu não ter recebido o relatório russo sobre as deficiências brasileiras. "O relatório tem 32 páginas e deve chegar nas próximas horas às minhas mãos. A nossa Secretaria de Defesa Agropecuária vai analisar o documento e apontar as nossas possíveis falhas".

 

Rossi disse que tomará as "providências necessárias" para suspender o embargo e deixou aberta a possibilidade de ir "pessoalmente" a Moscou para tratar das negociações.

 


Veículo: Valor Econômico


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