Principal fornecedor do Brasil, Uruguai volta-se ao mercado dos EUA e abre oportunidade para criadores nacionais
Um aumento que promete ser duradouro no preço da carne de cordeiro está levando a um reaquecimento no mercado de ovinos de corte no Estado e em outras regiões do Brasil. O preço do animal em ponto de abate, com até 40 quilos de peso vivo, chegou a R$ 6,00 por quilo na semana passada, mais do que o dobro da cotação do início de 2010. No interior paulista, o preço da carcaça oscilava entre R$ 11,00 e R$ 13,50 o quilo, conforme a região.
O valor da carne está em ascensão desde junho do ano passado e, em grande parte, isso decorre da preferência dos uruguaios - tradicionais fornecedores do Brasil - pelo mercado norte-americano. Após a abertura das exportações para os Estados Unidos, o Uruguai reduziu o envio de carne ovina para o Brasil. Assim, os frigoríficos passaram a pagar melhor aos criadores brasileiros.
Também teve influência o ganho em eficiência do setor, que passou a produzir carne com mais qualidade, atraindo consumidores. Como o País não produz o suficiente para suprir o próprio consumo, cortes finos tornaram-se um bem escasso, o que deve garantir um período longo de boas cotações.
Confiante no potencial do mercado brasileiro, há dois anos a empresária Priscilla Quirós fez um teste com um pequeno rebanho em uma fazenda, na região de Campinas (SP). Após um ano de estudos, deu início a seu projeto, com galpão para confinamento de 10 mil cordeiros, fabricação de ração e investimento de R$ 6 milhões. Hoje, a Cabanha Oviedo tem 1.500 matrizes e, até 2012, a meta é chegar a 3.500.
A empresa já confinou seus primeiros lotes de cordeiros e lançará marca premium no primeiro trimestre de 2012, com a expectativa de faturar R$ 2,5 milhões. Assim que a carne premium estiver à venda, a empresa poderá fornecer até 8 toneladas por mês. "O fato de o Uruguai ter conseguido exportar para os EUA foi bom para o Brasil, pois a carne disparou de preço, impulsionando os investimentos", comenta Priscilla.
Ela ainda aponta a importância de uma parceria com outros criadores, pois "neste mercado só sobrevive quem tem estrutura e escala". A carne premium da Cabanha é resultado de um tricross - o cruzamento triplo das raças poll dorset (linhagens dos EUA e Austrália), santa inês (nordeste brasileiro) e white dorper (África do Sul).
Novos plantéis
Produtores que já estavam no mercado, como a Dorper Campo Verde, aproveitam o bom momento para incentivar a formação de novos plantéis, com a venda de reprodutores. Desde 2006, a agropecuária mantém machos e matrizes selecionados das raças dorper e white dorper em Jarinu, região de Jundiaí (SP). São raças consideradas resistentes e usadas para cruzamento com outras de plantel mais expressivo no país, como a santa inês. "A heterose (mistura das raças) dá um ganho expressivo no tempo de abate", diz o agrônomo Carlos Vilhena, gerente da Campo Verde.
O abate precoce, embora não dispense vacinações e cuidados sanitários, encurta também o período em que o animal fica sujeito à doenças e verminoses. Mas a tecnologia é indispensável, diz Vilhena. "Não é animal para criar no quintal. Tem de ser uma atividade bem administrada, seja pequena, média ou grande. O melhor sistema de produção é ter a mãe no campo e o macho na ração. Pode-se terminar o cordeiro em confinamento para ser abatido com 4 ou 5 meses."
Conforme Vilhena, o País conta com 40 mil exemplares de animais selecionados para produzir matrizes e reprodutores. "É pouco para o tamanho do nosso desafio de produzir carne para o mercado interno e externo. Não fazemos mais propaganda para aumentar o consumo de cordeiro porque não temos o produto para entregar. Acabamos de receber consulta da Arábia Saudita para vender carne em larga escala, mas ainda não temos estrutura."
Conforme o gerente de Vendas da Campo Verde, Lucas Heymeier, a carne de cordeiro deve entrar forte nos hábitos de consumo do brasileiro. "A maioria das churrascarias já a inclui no rodízio tradicional. Temos clientes com vários restaurantes e que consomem 10 toneladas de carne por mês sem qualquer investimento em marketing." Ele diz que o animal precoce, abatido com 4 ou 4 meses, antes de atingir a maturidade, produz carne tenra e de sabor delicado. Ele conta que o consumo per capita no Brasil é 0,7 quilo/ano, enquanto a média mundial é de 1,8 quilo. "Temos muito para crescer."
Veículo: O Estado de S.Paulo