Decisão, adotada pela primeira vez pelo país, deve abrir as portas às exportações brasileiras do produto, que vinha enfrentando barreiras
Os Estados Unidos liberaram ontem pela primeira vez a compra de carne suína brasileira. Mais do que ampliar as exportações, a decisão é uma vitória para o País, que vinha enfrentando sérios desgastes e barreiras no mercado internacional nos últimos anos.
Com o aval americano, conhecido como comprador exigente, a expectativa é que outros mercados abram as portas para o Brasil ainda este ano. A principal aposta é a Coreia do Sul. Com grande mercado doméstico e considerado um player mundial, os Estados Unidos compram, mas também vendem carne de porco.
"Não esperamos exportar grande volume, mas (a decisão) representa uma chancela de qualidade indiscutível", avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto.
A notícia da autorização dos Estados Unidos foi dada ontem pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, por telefone ao governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD). Além de maior produtor de carne de porco do País, o Estado é o único a não contar com focos de febre aftosa, mesmo sem vacinação. "Mas isso não é uma boa notícia só para Santa Catarina. É uma notícia importante para a economia do País", comemorou o ministro.
In natura. Por causa do status diferenciado, Santa Catarina poderá vender carne in natura. Os demais Estados que são livres da doença, mas ainda precisam vacinar o rebanho, poderão vender apenas carne processada.
Além de autorizar a compra dessa carne, os EUA liberaram também o governo brasileiro a indicar quais as unidades estão aptas a fazer a comercialização. Segundo o ministério, seis unidades de três empresas já foram escolhidas e serão avisadas esta semana sobre a possibilidade das vendas. Até o fim do ano, outras dez deverão ser indicadas.
Segundo Mendes Ribeiro, o foco agora é ampliar a abertura de novos mercados, como foi determinado pela presidente Dilma Rousseff. A expectativa do governo é vender carne suína ao Japão e à Coreia do Sul ainda este ano. As tratativas com os coreanos já começaram e o aval americano pode ser essencial para fechar o negócio. No fim de 2011, alguns frigoríficos brasileiros também começaram a fazer seus primeiros embarques de carne de porco para a China.
A carne suína é a mais consumida em todo o mundo e, de acordo com a Abipecs, o Brasil exportou 516 mil toneladas do produto no ano passado, um total de US$ 1,435 bilhão. Apesar de o volume ter ficado 4,44% abaixo de 2010, houve alta dos preços no período, fazendo o saldo financeiro subir 7%.
Rússia. A autorização dos EUA é um alívio para o Ministério da Agricultura, que esteve metido em disputas comerciais no setor de carnes nos últimos anos. O principal calo é a Rússia, que embargou a compra de carne bovina brasileira desde junho do ano passado. Na semana que vem, em encontro com o governo russo na Alemanha, o Brasil quer pôr um ponto final na questão.
"A Rússia nos atrapalhou muito no mercado externo", comentou o ministro. Com o imbróglio, os russos cederam a Hong Kong a primeira posição no ranking dos maiores compradores de suínos do Brasil. Mesmo na relação com os Estados Unidos, o País enfrentou problemas em 2010 e 2011 por causa da carne bovina. O produto brasileiro foi rejeitado após a denúncia de excesso de vermífugo no alimento.
Veículo: O Estado de S.Paulo