Após um ano com queda nas vendas para seus principais mercados, os exportadores brasileiros de carne bovina esperam uma recuperação em 2012, com potencial para elevar a receita com os embarques a mais de US$ 6 bilhões. Essa é a previsão apresentada ontem pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), quando divulgou os números de 2011.
Em 2011, os embarques totalizaram 1,097 milhão de toneladas, 10,8% a menos que no anterior, segundo a Abiec. Apesar da queda dos volumes, a receita com as exportações totais de carne bovina cresceu 11,65%, saindo de US$ 4,814 bilhões em 2010 para US$ 5,375 bilhões no ano passado. Ainda que os volumes tenham recuado, a alta de 25,17% no preço médio da carne exportada em 2011 permitiu o aumento da receita. "Com esse resultado, as exportações voltaram para o patamar de 2008", comentou Antônio Camardelli, presidente da Abiec.
Importante cliente do Brasil, principalmente no caso dos cortes nobres de carne bovina, a União Europeia reduziu em 10% os volumes comprados no mercado brasileiro. Foram 109,5 mil toneladas ano passado ante 121,7 mil toneladas em 2010, segundo a Abiec. A receita ficou em US$ 836,3 milhões, alta de 21,82% em relação ao ano anterior.
De acordo com Camardelli, a razão para os volumes menores é a oferta reduzida de animais para abate, já que apenas uma lista de 2 mil propriedades estão habilitadas a fornecer bovinos para venda à UE, o que significa cerca de 4,3 milhões de cabeças. "O preço médio subiu por causa da oferta menor e da venda de cortes nobres". Em 2008, quando entraram em vigor as exigências da União Europeia, havia 26 mil propriedades aprovadas e uma oferta de 26 milhões de cabeças de gado.
A crise na UE também influenciou a queda das vendas, segundo o dirigente. Mas, ele acrescentou, que há reflexos tanto no consumo quanto na produção no continente, já que há redução de subsídios. "Provavelmente, você não irá encontrar filé mignon em qualquer lugar na Europa hoje", comentou.
As vendas para o maior cliente do Brasil, a Rússia, caíram 19,45% em 2011, para 237,5 mil toneladas. Assim como nos embarques para a UE, o preço médio também avançou, mas não o suficiente para impedir uma queda na receita, que saiu de US$ 1,071 bilhão em 2010 para 1,060 bilhão ano passado.
O embargo russo a estabelecimentos exportadores de carne do Brasil explica a queda nas vendas, mas a expectativa da Abiec é retomar os volumes em 2012 com a reabilitação de unidades exportadoras brasileiras pela Rússia.
O Brasil enfrentou um revés também no mercado americano, para onde vende carne bovina industrializada. Os volumes embarcados aos EUA caíram ano passado, ainda reflexo do episódio do vermífugo ivermectina ocorrido em maio de 2010. Naquele mês, os EUA detectaram resíduos acima do permitido do vermífugo em carne do Brasil. O mercado ficou fechado até o fim de 2010.
Mesmo com a reabertura, os volumes continuaram caindo ano passado. Foram apenas 13 mil toneladas, 6,72% menos que em 2010. A receita aumentou 112%, para US$ 166,5 milhões, por conta da disparada do preço médio da carne industrializada.
"O preço subiu por causa do alto custo para atender as exigências [dos americanos]", disse Camardelli. A necessidade de fazer vários testes durante o processo para verificar se há resíduo eleva os custos do setor e o Brasil perde competitividade, explicou.
Mas nem tudo foi queda. As vendas ao Chile subiram, especialmente a partir de outubro, depois do surgimento do foco de aftosa no Paraguai. O país, que exportava carne ao mercado chileno, suspendeu as vendas e abriu espaço para o Brasil. O resultado foi um embarque de 35,5 mil toneladas,alta de 66% sobre 2010. A receita com as vendas ao Chile cresceram 102,8%, para US$ 208,9 milhões ano passado.
A previsão de crescimento das exportações de carne bovina para este ano - de 10% nos volumes e de 20% na receita - se baseia na perspectiva de recuperação das vendas para os principais mercados do Brasil, como a Rússia, que deve habilitar mais frigoríficos.
Para a União Europeia, a Abiec também prevê aumento nos embarques, após a decisão da DGSanco, a Direção-Geral de Saúde e Consumidores da Comissão Europeia, que pode reduzir a burocracia no processo de aprovação de fazendas para o fornecimento de animais. O órgão da UE aceitou que o Brasil cuide da gestão da lista de fazendas aptas a exportar e da publicação dela - até agora, isso ficava a cargo da UE. A decisão abre espaço para uma revisão da normativa que definiu os critérios para habilitação das propriedades e para uma flexibilização das exigências. "Com a notícia que chega da Europa, a Abiec não teria mais interesse em ir à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra a normativa da UE", admitiu Camardelli.
Os exportadores esperam ainda que a recente normativa do Ministério da Agricultura definindo que criadores de gado estão proibidos de aplicar nos animais medicamentos antiparasitários com princípios ativos da classe das avermectinas com período de carência superior a 28 dias contribua para que o Brasil possa recuperar aos EUA.
Veículo: Valor Econômico