Liberação da entrada de carne no país, um dos mais exigentes do mundo, deve abrir outros mercados.
O comunicado do United States Department of Agriculture (USDA) ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), reconhecendo como eficaz o serviço de inspeção de carne suína no país e autorizando a habilitação de frigoríficos de Santa Catarina para exportação de carne in natura, foi visto como um grande avanço para a suinocultura do país, podendo gerar resultados favoráveis inclusive para Minas Gerais.
De acordo com o presidente da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), João Bosco Martins de Abreu, o reconhecimento irá abrir novos mercados no mundo, pelas exigências em relação à qualidade e ao controle sanitário dos Estados Unidos serem das mais rigorosas do mundo e utilizadas como base por outros países consumidores do produto.
Os Estados Unidos também autorizaram a habilitação de carne suína cozida e processada de outros estados brasileiros livres de aftosa com vacinação, como acontece em Minas Gerais, desde que a industrialização ocorra em estabelecimentos com registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e habilitados como produtores de matéria-prima.
Segundo informações de mercado, a BRF Brasil Foods, a Aurora e a Marfrig serão comunicadas, ainda este mês, pelo Mapa, que duas plantas de cada uma delas serão indicadas pelo Ministério como as primeiras unidades aptas a exportarem carne suína para os Estados Unidos.
O primeiro produto autorizado para venda é carne suína cozida e processada. Os cortes são submetidos a um processo térmico. O destaque é o bacon, muito consumido nos Estados Unidos.
"O grande diferencial não será o aumento dos embarques para os Estados Unidos, mas a abertura de novos mercados, isto pelos EUA serem o segundo maior produtor de carne suína do mundo e também um dos grandes exportadores. A expansão das negociações externas serve como um redutor da oferta no mercado interno, abrindo espaço para os suinocultores mineiros", diz Abreu.
Os principais mercados consumidores, que através da autorização dos EUA poderão optar pela produção brasileira, são o Japão e a Coreia do Sul. O Mapa está em negociação com os países para a abertura de mercado desde o ano passado. A expectativa dos representantes da suinocultura é que as negociações sejam agilizadas depois do anúncio dos Estados Unidos.
Segundo o vice-presidente da Asemg, José Arnaldo Cardoso Pena, a autorização dos Estados Unidos servirá de passaporte para outros mercados. "Os representantes do EUA reconheceram a eficácia do serviço de inspeção brasileiro e com isso teremos novas oportunidades no comércio mundial. Os mercados mais promissores são os asiáticos, principalmente o Japão e a Coréia do Sul."
As importações de carne suínas por parte dos países asiáticos movimentaram em 2011 cerca de US$ 7 bilhões. Somente o Japão foi responsável por US$ 4 bilhões. As exportações terão início logo que o Mapa habilitar os estabelecimentos brasileiros, o que deverá ocorrer ainda neste mês.
Segundo a assessora técnica da Superintendência de Política e Economia Agrícola da Seapa, Márcia Aparecida de Paiva Silva, as exportações mineiras de carne suínas em 2011 tiveram como principal destino Hong Kong, que respondeu por 44,7% dos embarques, seguido pela Ucrânia, com representatividade de 15,7%, e Albânia, com 13,2%. Ao todo, 29 países compram o produto mineiro.
No período, a receita gerada com as negociações foi de R$ 66 milhões, queda de 19% sobre janeiro e dezembro de 2010. A receita gerada com a comercialização do produto in natura corresponde a 99,5%, e a de carne processada é de 0,5%.
A expansão no mercado mundial poderá impulsionar os negócios no mercado interno e gerar lucro aos suinocultores. De acordo com Pena, apesar de Minas Gerais ser o quarto maior produtor de carne suína do país, o Estado ainda importa grande volume de carne in natura, principalmente da região Sul do Brasil. Com a redução da oferta, o produto poderá ficar mais valorizado.
"Com o aumento dos embarques da região Sul do país, é provável que ocorra redução da oferta de carne suína no mercado interno e Minas Gerais tem condições plenas de atender à demanda devido à qualidade da produção. Um dos principais resultados esperados é a valorização do produto, o que proporcionará aumento de ganhos para o suinocultor", diz Pena.
Mesmo impedido de exportar carne in natura para os EUA, em 2011, Minas Gerais exportou 78 toneladas de outras miudezas comestíveis congeladas de suíno. O faturamento com o embarque foi de US$ 114,4 mil, o que equivale a apenas 0,2% da receita total obtida com as exportações gerais de carne suína.
Segundo o superintendente de Política e Economia Agrícola da Seapa, João Ricardo Albanez, a comercialização foi feita com uma trading com sede nos Estados Unidos, porém, devido às barreiras sanitárias, a mercadoria foi enviada a outro país em que a empresa atua e que não tem restrições em relação à carne brasileira.
"Acreditamos que a importação foi feita através de triangulação. A nota foi emitida para a empresa nos Estados Unidos, porém foi destinada a outro país", diz.
Veículo: Diário do Comércio - MG