Os Estados Unidos autorizaram ontem a abertura de seu mercado à carne suína in natura de Santa Catarina, o que pode significar uma chancela para a entrada em outros mercados ainda fechados ao produto brasileiro, como Japão e Coreia do Sul.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou o Ministério da Agricultura brasileiro que reconheceu "a equivalência do serviço de inspeção de carne suína do Brasil" e autorizou a habilitação de frigoríficos de Santa Catarina, Estado livre de aftosa sem vacinação, para exportação de carne suína in natura ao mercado americano.
Segundo o ministério, as exportações começarão assim que os estabelecimentos brasileiros forem habilitados, o que deverá ocorrer ainda esta semana. Inicialmente, seis receberão autorização para exportar. O Ministério da Agricultura não divulgou os nomes, mas o Valor apurou que unidades da BRF - Brasil Foods, Marfrig e Aurora poderão vender carne suína in natura aos EUA. A assessoria da Aurora confirmou a informação, mas BRF e Marfrig não comentaram.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, que participou das negociações para derrubar a barreira à carne suína, disse que a abertura do mercado dos EUA ao produto in natura é um passaporte para a entrada em outros mercados, como Japão e Coreia do Sul.
Segundo ele, estimativas preliminares indicam potencial para exportar 10 mil toneladas de carne suína in natura aos EUA no primeiro ano, chegando a 40 mil toneladas em quatro anos. "O importante é a chancela para outros mercados. Os serviços de sanidade dos EUA e Europa são referência para outros países. [A abertura dos EUA] Pode acelerar Japão e Coreia", comentou.
Camargo Neto explicou que Santa Catarina deve vender cortes como costelinha, peito e barriga para os EUA. "Há demanda por esses cortes e os preços são bons".
Mario Lanznaster, presidente da Aurora, disse que não se sabe se a decisão terá resultado comercial, porque os EUA são exportadores de carne suína. O importante, afirmou, é o reconhecimento da qualidade da carne catarinense. "Com isso, os EUA estão dizendo que a qualidade da carne catarinense é igual à americana", disse. Segundo Lanznaster, Santa Catarina pode atender mercados que são clientes dos EUA, como o México e países da América Central.
Há cerca de dez anos, o Brasil tentava derrubar as barreiras à carne suína. No fim do ano passado, os EUA reconheceram Santa Catarina como livre de aftosa e de peste suína africana, o que abriu caminho para o Estado exportar carnes (suína e bovina) ao mercado americano.
A abertura foi acelerada dentro do acordo fechado entre Brasil e os EUA para evitar a aplicação de retaliações aprovadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios americanos ao algodão.
A possibilidade de vender carne suína in natura para outros países é um alento para o setor exportador, que ainda depende muito do instável mercado russo.
Em 2011, ano em que a Rússia impôs embargo a estabelecimentos exportadores de carne do Brasil, Hong Kong tornou-se o principal importador de carne suína nacional, mas até 2010 essa posição era ocupada pelos russos. De acordo com a Abipecs, o Brasil exportou 129.734 toneladas para Hong Kong em 2011, alta de 30,08% em relação a igual período de 2010. Para a Rússia, no mesmo período, o Brasil vendeu 126.449 toneladas, uma queda de 45,96% na comparação com 2010.
A queda nas vendas à Rússia afetou os números totais, mas de forma "menos dramática" que o setor esperava. Os embarques para todos destinos caíram 4,44%, para 516.419 toneladas. A receita com as vendas, porém, cresceu 7%, para US$ 1,43 bilhão, segundo a Abipecs.
Veículo: Valor Econômico