A abertura do mercado americano para a carne suína brasileira é importante para os produtores nacionais tanto pelos negócios que poderão desenvolver na América do Norte quanto pelas oportunidades que a decisão abre para a conquista de novos mercados, sobretudo os asiáticos. Oficializada com o reconhecimento pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de que os serviços brasileiros de inspeção da qualidade de produtos de origem animal são equivalentes aos americanos - cujos rigorosos critérios de avaliação são reconhecidos internacionalmente -, a autorização para a entrada da carne suína brasileira nos EUA pode transformar-se numa espécie de certificado mundial de qualidade. Por meio dele, o Brasil poderá ter acesso a mercados fechados para o produto nacional e que são grandes importadores, como o japonês e o sul-coreano.
"Sem dúvida, a aprovação representa uma chancela de qualidade do produto do Brasil e, acreditamos, terá repercussão em outros mercados ainda fechados para nós", afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, em artigo publicado no Estado (11/1).
A autorização para a entrada no mercado americano vinha sendo negociada pelo Brasil pelo menos desde 2007, quando o Estado de Santa Catarina - por enquanto, o único autorizado a exportar para os EUA, por meio de empresas a serem anunciadas pelo governo brasileiro nos próximos dias - recebeu da Organização Mundial de Saúde Animal a classificação máxima como área livre de febre aftosa. A abertura do mercado dos EUA para a carne suína originária de Santa Catarina é o reconhecimento formal dessa condição pelo governo americano. Santa Catarina, além de maior produtor nacional de carne suína, é o único Estado a não registrar foco de febre aftosa, mesmo sem vacinar seu rebanho.
Mas a decisão americana é boa para os demais produtores brasileiros. Abre a possibilidade de acesso a um grande mercado consumidor, mas altamente competitivo, pois os EUA, embora importem, são também importantes exportadores, e disputam outros mercados com o Brasil.
Para o Brasil, mais promissores podem ser outros mercados, aos quais finalmente poderá ter acesso. O mercado asiático importa anualmente US$ 7 bilhões em carne suína, mas o Brasil não está autorizado a exportar para dois dos maiores importadores do produto, o Japão (o maior importador mundial, com compras anuais de US$ 4 bilhões) e a Coreia do Sul. Uma missão veterinária do Japão visitou o Brasil em agosto. Em abril, ao Brasil já viera uma missão da Coreia do Sul. Os processos de autorização para a entrada do produto brasileiro nesses países estão em andamento e a expectativa do governo e dos exportadores do País é de que a liberação do mercado americano influa na decisão de Tóquio e Seul.
O ano passado foi complicado para os exportadores brasileiros. Logo no início do ano, a Rússia - até então, a maior importadora da carne suína brasileira - suspendeu a compra de seis frigoríficos gaúchos. Em junho, estendeu a medida para todos os demais exportadores brasileiros. Depois, reviu apenas parcialmente as restrições, com a autorização para que só um desses estabelecimentos voltasse a exportar carne suína. Desse modo, as exportações para a Rússia despencaram em 2011.
Parte da quebra das vendas para a Rússia foi compensada pelo aumento das exportações para Hong Kong, que se tornou a principal importadora de carne suína brasileira. Nos dois últimos meses do ano passado, cresceram rapidamente as exportações para a China, que, na avaliação da Abipecs, logo deverá aparecer na lista dos principais mercados compradores.
Mesmo assim, o resultado das exportações brasileiras foi afetado pelo embargo russo, pois o volume de carne suína exportada, de 516,4 mil toneladas, foi 4,44% menor do que o de 2010, de 540,4 mil toneladas. Mas, por causa do bom momento do mercado internacional, o valor das exportações, de US$ 1,43 bilhão, foi 6,7% maior do que o de 2010 - US$ 1,34 bilhão.
BrF, Aurora e Marfrig poderão vender carne suína aos EUA
A Brasil Foods, a Aurora e a Marfrig serão comunicadas até o fim desta semana pelo Ministério da Agricultura que duas unidades de cada uma delas serão indicadas pela Pasta como as primeiras aptas a exportar carne suína para os Estados Unidos. A informação é de uma fonte ligada ao processo de liberação do mercado americano para a carne brasileira.
Anteontem, o Ministério da Agricultura informou que, inicialmente, seis unidades de três empresas localizadas em Santa Catarina seriam liberadas para exportar para os EUA. Trata-se do único Estado brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação.
O diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), Luiz Carlos de Oliveira, acredita que existe potencial para dez unidades receberem a autorização para exportação até o fim deste ano.
A lista oficial das unidades deverá ser publicada apenas na semana que vem, conforme informou a Agricultura.
A notícia da autorização dos Estados Unidos foi dada anteontem mesmo pelo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, por telefone, ao governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD).
Por causa do status diferenciado com relação à febre aftosa, Santa Catarina poderá vender carne suína in natura. Os demais Estados que são livres da doença, mas ainda precisam vacinar o rebanho, poderão vender apenas carne processada. Além de autorizar a compra dessa carne, os EUA liberaram também o governo brasileiro a indicar quais as unidades estão aptas a fazer a comercialização.
Com o aval americano, conhecido como comprador exigente, a expectativa é que outros mercados abram as portas para a carne suína brasileira. A principal aposta do governo é a Coreia do Sul. Com grande mercado doméstico e considerado um competidor mundial, os Estados Unidos compram, mas também vendem carne de porco.
Veículo: O Estado de S.Paulo