Carnicicultura, que é voltada ao mercado interno, exportou menos de 1% da produção em 2011 desde que o câmbio subiu. Importação é proibida
Segmento da pesca pouco explorado no Brasil, mas com potencial de crescimento implícito no baixo consumo per capita, a carnicicultura (criação de camarões) resultou em produção de 71 mil toneladas de camarão em 2011, quando gerou R$ 674,5 milhões. Com média de 0,6 quilo consumido anualmente por habitante no País, o crustáceo foi exportado a um volume de 0,1% do total produzido no ano passado, com receita de US$ 600 mil.
Para 2012, os criadores esperam aumento de 13% na produção, com extração de 80,3 mil toneladas e movimentação de R$ 771 milhões. Mas, novamente, a previsão é que seja quase tudo destinado para o mercado consumidor nacional, cujo “potencial de mercado é absurdo”, de acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC).
“O mercado interno está se desenvolvendo, o produtor está investindo, a demanda pede a ampliação da oferta”, afirmou o consultor técnico da entidade, o engenheiro de pesca Marcelo Borba. “Não há uma fazenda que não esteja investindo”, acrescentou, referindo-se aos 80% do mercado representados pela entidade. Importar, o Brasil não pode. Em 1999, os carnicicultores moveram ação para que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) impusesse uma barreira contra o camarão de fora, após surtos de mancha-branca terem dizimado populações do crustáceo na Ásia (inclusive na China, o maior produtor do mundo, com média de um milhão de toneladas produzidas por ano).
“O camarão do mercado interno tem a mesma qualidade do que se exportava antes”, afirmou Borba. Segundo ele, “o mercado externo perdeu a atratividade”. Isso está ligado à escalada do câmbio brasileiro, a partir de 2007, e à medida antidumping impetrada pelos Estados Unidos — os antigos maiores consumidores do camarão brasileiro —, em 2003, contra os produtores estrangeiros.
Camarão orgânico
O grupo Nutrimar Pescados, que trabalha com a espécie Litopenaeus vannamei desde 1983, atesta a mudança de perfil da carnicicultura brasileira. Em onze fazendas de criação, com 1.100 hectares de espelho d’água, a empresa produz mensalmente 600 toneladas do chamado camarão-cinza, e comercializa por ano cerca de 4.600 toneladas (descascadas e limpas) a R$ 13 por quilo.
Até 2007, a produção da Nutrimar era orientada para o mercado externo, porém, com a escalada do real ante o dólar, a empresa se voltou, a partir de então, para o consumo interno. “É o mesmo preço, hoje, vender para fora ou para o mercado nacional”, afirmou o diretor comercial Fabrício Ribeiro.
“O Brasil, em 2005, produzia 80 mil toneladas de camarão para exportar. Com a mudança no câmbio, em 2007, a produção caiu pela metade. Naquela época, tínhamos 150 empresas no País; com a crise do câmbio, oito sobreviveram”, contou Ribeiro.
Mas foi em atenção à Europa, e não ao Brasil, que em 2003 a Nutrimar investiu cerca de R$ 4 milhões no cultivo orgânico de seu produto. “Como o salmão, quanto mais vermelho, mais caro é o camarão”, disse Ribeiro. Portanto, sem recorrer a agentes químicos — como acontece no caso do peixe —, a empresa foi em busca de algas que pudessem colorar mais os crustáceos.
O mercado internacional paga 40% a mais pelo camarão orgânico, de acordo com o empresário. Nos últimos anos, o produto especial tem sido o foco das exportações da companhia. Com uma produção de 40 toneladas por mês, “a gente só estava exportando o orgânico, mas agora vamos zerar isso”.
Em fevereiro, o Carrefour, o Pão de Açúcar e o Walmart lançarão o crustáceo cultivado organicamente pela Nutrimar, segundo Ribeiro. “Temos licença para exportar, mas ainda não tínhamos autorização do Ministério da Agricultura para vender aqui”, contou, referindo-se à permissão obtida no fim de 2011.
Também em 2011, a empresa investiu R$ 1,2 milhão em tecnologia de rastreabilidade, para que o comprador final possa conhecer as origens do produto. “Nós notamos, por meio de pesquisas, que o consumidor brasileiro não confia em produto de mar congelado. E queremos acabar com esse mito”, justificou Ribeiro.
Trata-se da tecnologia 2D, espécie de evolução do código de barras: o comprador, com um smartphone, consegue identificar a procedência da mercadoria através de um sinal reconhecível por leitura ótica. Informações como o viveiro de onde o camarão foi extraído, o frigorífico no qual se abateu os crustáceos e o meio utilizado para transportá-los ficam expostos no visor.
A Nutrimar também trabalha com outros tipos de pescado, como lagostas, que renderam US$ 3 milhões à empresa, em exportações, no ano passado — cada contêiner, com 20 toneladas, custa US$ 300 mil. Ribeiro, que é sócio, disse que a companhia está prestes a se tornar de médio porte — lucro acima de R$ 150 milhões.
Veículo: DCI