O ministro da Pesca e Aquicultura, Marcello Crivella, apresentou um levantamento no qual apenas 26,9% (cerca de 1,5 mil) das 5.565 prefeituras em todo o País incluem o pescado no cardápio da merenda escolar pelo menos uma vez por semana. Em março, a pasta iniciou um estudo detalhado, em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), sobre o consumo de peixe nas escolas públicas. A coleta de dados, por meio de questionário feito com nutricionistas e responsáveis técnicos pela alimentação escolar, foi concluída no final de abril.
Segundo Crivella, a ideia é saber, por exemplo, se a escola tem câmaras frigoríficas para estocar o alimento, se as merendeiras sabem preparar o pescado e se há dificuldade na aquisição de peixe fresco na cidade. O ministro lembrou ainda que o brasileiro consome, atualmente, dez quilos de peixe por ano. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o consumo fique em torno de 12 quilos ao ano por pessoa. A média mundial chega a 16 quilos. “A população precisa desenvolver o hábito do consumo nas crianças. Se elas não adquirem esse hábito em casa, a ideia é que o adquiriram nas escolas”, completou Crivella.
Na Capital, a prática do consumo do pescado não foge ao dado apresentado pelo ministro. A sardinha em conserva é o mais utilizado na merenda escolar. Até o ano passado, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) utilizava o pescado fresco no mês de abril, em função da Semana Santa. A partir deste ano, com a possibilidade de compra através do Programa da Agricultura Familiar do governo federal, a secretaria determinou duas modificações importantes no cardápio. “É oferecido o bolinho de peixe todos os meses na zona Sul da cidade e filé de peixe em meses intercalados na rede municipal. A cada bimestre, oferecemos o filé de tilápia, o que aumentou a presença de peixe nas escolas”, informa Annelise Krause, coordenadora do setor de Nutrição da Smed.
De acordo com a nutricionista, é importante esclarecer que o consumo do pescado pode estar comprometido pela limitação da compra através do programa federal. “O governo não permite que o município compre mais de R$ 9 mil por agricultor. E como a gente fez um grande pedido no início do ano, nós não conseguiremos comprar para o segundo semestre, pois já terá estourado a nossa cota”, explica Annelise.
A coordenadora da Divisão de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação do Estado (SES), Sandra Pinho, conta que a utilização do peixe depende muito de cada região. “Em alguns locais, onde o pescado é mais comum e o custo é mais baixo, as escolas conseguem comprar. Em outras, elas utilizam a sardinha enlatada, que é uma forma mais econômica”, relata. Em março, a SES testou um projeto-piloto de consumo de uma anchova em conserva produzida pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg) em parceria com o Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição (Cecane) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). “A anchoita, nome dado ao produto, teve uma aprovação de 70% dos alunos”, aponta Sandra. Ainda não há uma previsão para a inclusão dessa espécie na merenda escolar do Estado.
A proteína do peixe é uma das mais nobres, propiciando a cada 100 gramas do alimento, 30 gramas de proteína, pouca gordura e muito ômega 3. O Ministério da Pesca e da Agricultura já está em contato com o da Educação na tentativa de mostrar às crianças, por meio de material didático, informando a importância do consumo do pescado.
Outra linha de atuação consiste em negociar, com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a inclusão do peixe nos programas atualmente implementados.
Veículo: Jornal do Comércio - RS