Pescadores tradicionais abandonam a bússola e se rendem à “modernidade”
A canoa de um pau só é centenária, mas as rodinhas que vão conduzi-la com mais facilidade ao mar acabam de ficar prontas. A estreia delas – na próxima terça-feira, quando tem início mais uma temporada de tainha – é um avanço na rotina dos pescadores da Barra da Lagoa, na Capital: prova que nem uma tradição que ultrapassa gerações consegue resistir às pequenas tecnologias da vida moderna.
O uso das rodinhas dará fim ao ritual de empurrar o barco de quase uma tonelada pela areia – um esforço descomunal que envolvia quase 20 homens. O tempo – o precioso tempo – que isso levava também estará em jogo. Se antes ele levava quase 10 minutos para fazer o barco alcançar o mar, agora ele deve ser reduzido pela metade.
E assim, aos poucos, a modernidade vai entrando na rotina de quem vive da pesca. Também foi-se o tempo em que o olheiro balançava uma camiseta branca para alertar a proximidade do cardume. Agora é tudo no radioamador: ele consegue avisar aos colegas, inclusive, o ponto exato onde elas estão e o melhor local para o barco se posicionar no mar.
– Tudo o que vem para nos ajudar é bom. Mas não dá para interferir muito na tradição. Nem queremos isso. A tainha é um peixe famoso, quem vem de fora quer ver isso aí, não quer modernidade – lembra.
Os chamados barcos caça de malha são os mais inovadores na pesca artesanal. As duas embarcações do pescador Gentil Cabral, 54 anos, não entram no mar sem um GPS e uma sonda – equipamentos eletrônicos que indicam a orientação de sentido e o que acontece quilômetros debaixo do barco em alto-mar. Com eles, as bússolas foram aposentadas.
– A gente se perdia no mar e acabava se enganando com o posicionamento do cardume. Agora, com essas modernidades, não tem mais erro. Hoje, precisamos estar tão atualizados quanto a concorrência, se não, ficamos para trás – explica Gentil.
Para facilitar o trabalho, a Federação dos Pescadores de SC, em parceria com a Secretaria do Estado da Agricultura e da Pesca, vai colocar em prática na próxima safra um projeto que prevê o uso de tratores e guinchos para puxar o barco que volta do mar – o que, hoje, acontece apenas com os barcos caça de malha.
Veículo: Diário Catarinense