Aumento dos custos é o vilão.
O aumento da oferta de carne suína no mercado e a elevação dos custos de produção têm comprometido o desenvolvimento do setor nas principais regiões produtoras do país. Segundo os dados da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), a situação é crítica e, caso o cenário não seja modificado, granjas poderão ser fechadas. Somente em junho, na comparação com maio, houve recuo de 7,8% nos preços pagos pelo quilo do animal vivo, enquanto os custos de produção com a soja subiram 100% e como milho 14,28%.
De acordo com o vice-presidente da Asemg, José Arnaldo Cardoso Pena, diante das perspectivas negativas para a suinocultura, representantes dos 13 principais estados produtores irão se reunir, hoje, com representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, para discutir ações que auxiliem a atividade. Também está prevista, para amanhã, uma audiência pública na Câmara dos Deputados e uma reunião com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Mendes Ribeiro Filho.
"A situação da suinocultura no país é crítica e, por isso, o setor irá se reunir em Brasília em busca de soluções. Acreditamos que teremos apoio do governo, uma vez que a atividade possui grande representatividade na geração de empregos e renda. Iremos, dentre outras coisas, reivindicar a postergação das dívidas e a liberação de crédito para a aquisição de milho, principal insumo da suinocultura", disse Cardoso Pena.
De acordo com o Boletim do Suíno, elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), junho, mais uma vez, foi um mês desfavorável para a suinocultura. Os dados mostram que em Minas Gerais os preços pagos pelo kg do suíno vivo recuaram 7,8%, ficando avaliado em média a R$ 2,18. O valor máximo praticado no Estado alcançou R$ 2,31 e o mínino R$ 2,12.
O segmento vem acumulando perdas desde o início do ano. Segundo Cardoso Pena, o kg do suíno vivo, em janeiro, estava avaliado em média a R$ 3, o que representa perda de 27,3% na comparação de junho com janeiro. No mesmo período, enquanto os preços pagos pelo suíno estavam em R$ 3, os custos giravam em torno de R$ 2,60 por kg. Em junho, o preço foi reduzido para R$ 2,18, enquanto os custos variaram entre R$ 2,70 e R$ 2,90.
A queda nos preços pagos aos suinocultores foi observada em todas as regiões do Estado. A retração mais expressiva aconteceu em Ponte Nova, na Zona da Mata, onde a cotação em junho ficou 9,1% inferior, com preço médio de R$ 2,22 por kg, máximo de R$ 2,38 e mínimo de R$ 2,12.
Em Belo Horizonte, a cotação recuou 9% em junho frente a maio. Devido à queda, os preços praticados no período ficaram em R$ 2,14 (valor mínimo), o médio em R$ 2,20 e o máximo a R$ 2,27.
Já na região de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, o preço médio praticado foi de R$ 2,15 por kg, o que representou queda de 7,8% na comparação com maio. O valor máximo alcançou R$ 2,30 e o mínimo, R$ 2,06, a menor cotação observada no Estado.
Na região Sul do Estado o valor do suíno recuou 6,2%, com preço médio de R$ 2,20, mínimo de R$ 2,13 e máximo chegando a R$ 2,27.
"A situação da suinocultura mineira é insustentável e as perspectivas não são favoráveis. Um dos principais desafios para este semestre será, novamente, o controle do custo de produção. As expectativas desfavoráveis em relação à safra de grãos dos Estados Unidos poderá agravar ainda mais o cenário, já que a oferta dos produtos será menor, favorecendo a valorização dos principais insumos da suinocultura", disse Cardoso Pena.
Demanda doméstica enfraquecida
Na avaliação dos pesquisadores do Cepea, as quedas observadas na cotação do suíno estão atreladas à demanda doméstica enfraquecida, o que está associada à maior oferta de animais por parte dos suinocultores. Diante desse cenário de queda, associações de suinocultores têm se mobilizado, em busca de um preço justo para produzir, mas o fato é que as cotações do suíno ainda não dão sinal de recuperação.
Para agravar o contexto atual, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam queda nos embarques de carne suína in natura em junho. A redução dos embarques do produto chegou a 18,1% sobre maio, totalizando 38,5 mil toneladas. Em relação a junho de 2011, o recuo no volume exportado foi de 16,3%.
Os pesquisadores do Cepea ressaltam que, em junho do ano passado, a Rússia havia intensificado as compras de carne suína brasileira nos primeiros 15 dias do mês, na tentativa de estocar carne, antes que o embargo aos 85 frigoríficos brasileiros passasse a vigorar.
Enquanto os embarques e a demanda estão em queda, os preços da soja não param de subir. Segundo o vice-presidente da Asemg, enquanto em abril e maio o setor adquiria a tonelada de soja a R$ 600, em junho o volume foi comprado a R$ 1,2 mil, alta de 100%. Com a elevação, os custos com o insumo, que representavam 20% dos gastos totais, passaram a representar 40%.
No caso do milho a valorização foi menor que a observada na soja, porém, significativa. Em maio, o setor pagava pela saca de 60 quilos cerca de R$ 21, e em junho passou a adquirir o cereal por R$ 24, alta de 14,28%.
Veículo: Diário do Comércio - MG