Os prejuízos causados pela alta de preço das commodities agrícolas, especialmente do milho e do farelo de soja, estão levando produtores e abatedouros de frango a uma crise sem precedentes. A União Brasileira de Avicultura (Ubabef), que representa cerca de oitenta associados, afirma que vinte deles passam por dificuldades financeiras.
Pelo menos três empresas do ramo avícola abriram, recentemente, pedido de recuperação judicial (para evitar falência).
O aumento de custo e a escassez de ração, consequentes da escalada das cotações do milho e da soja, agravaram os problemas da companhia Diplomata, do deputado Alfredo Kaefer (PSDB). "Há falta de matéria-prima. Os estoques estão baixos", constatou um porta-voz, explicando o porquê de a empresa ter ido à Justiça para escapar da quebra.
No mês passado, a Diplomata suspendeu o abate em duas unidades, Londrina e Mandirituba (PR), e demitiu 900 pessoas.
"Muitas empresas em crise estão diminuindo os turnos de abate para reduzir a produção", disse à agência Reuters o presidente da Ubabef, Francisco Turra, que ontem à tarde não foi localizado pela reportagem.
Um estudo da entidade mostra que o nível de produção caiu 10% em julho, em relação a uma média mensal de 1,1 milhão de toneladas de frango.
Com abates e estoques menores, Brasil Foods, JBS e Marfrig já anunciaram que repassarão o aumento de custos ao consumidor.
No último semestre, a soja e o milho ficaram 80% e 40% mais caros no Brasil, segundo a Ubabef. Os componentes da ração representam 60% do custo produtivo.
As avícolas paulistas Ad'Oro e Rigor apresentam problemas financeiros e, como a Diplomata, também têm pedidos de recuperação judicial em aberto.
Agravada entre junho e julho, quando a elevação de custo se intensificou, com a perspectiva de quebra da safra norte-americana, a situação da Rigor está complicada desde o início do ano.
Os dirigentes das duas empresas não atenderam ao DCI.
Sacrifícios
Imagens de frangos mortos, vítimas da fome, nas granjas ligadas à Diplomata, tiveram larga transmissão pelo País.
Coisa parecida aconteceu no último fim de semana, com a gravação de produtores rurais de Palhoça (SC) enterrando milhares de pintinhos vivos em uma vala.
O caso resultou na abertura de um inquérito policial. Até 114 mil podem ter sido enterrados na ação filmada.
O presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Marcos Zordan, afirmou que companhias catarinenses de médio porte, como a Agrovêneto, de Nova Veneza, e a Tramonto, de Morro Grande, estão sendo levadas a sacrificar milhares de aves.
Segundo o representante, as médias empresas apresentam mais problemas porque trabalham com margem de lucro menor, em torno de 5%.
O capital de giro limitado não deixaria fôlego para a compra de grãos com preços altos. Em Santa Catarina, a saca de milho passou de R$ 23 para R$ 35, e a tonelada de farelo de soja, de R$ 550 para R$ 1,5 mil, de acordo com a Ocesc.
"Foi um reajuste acentuado e que tornou a criação de aves e suínos praticamente inviável", declarou Zordan à Agência Estado.
"Se o governo subsidiasse apenas o frete até Santa Catarina..."
Preços recuam
Embora continuem em patamares só vistos neste ano, os preços do milho no mercado interno cederam na última semana, segundo análise da consultoria Céleres.
O avanço na colheita de uma segunda safra ("safrinha") recorde e a venda antecipada do milho para o acúmulo de caixa são os motivos levantados.
A semana se encerrou com baixa de 2,1% nas cotações do grão, na comparação com o período anterior, nas praças pesquisadas pela consultoria.
"Os preços estão apresentando desvalorização frente à necessidade do produtor de fazer caixa para comprar os insumos da nova safra", registrou a Céleres, em relatório.
"A entrada dos produtos da safra de inverno também tem oferecido pressão aos preços do milho no mercado brasileiro", completou a consultoria.
No entanto, a cotação média do milho nas praças pesquisadas pela Céleres acumulam altas significativas em 30 dias.
Veículo: DCI