China e África do Sul suspendem carne brasileira

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Os dois países se juntam ao Japão, que já havia adotado decisão semelhante por temores de contaminação com a doença da vaca louca


Os governos da China e da África do Sul determinaram ontem a suspensão imediata da importação da carne bovina brasileira por temores de contaminação com a doença da vaca louca. Os dois países se somam ao Japão, que já havia cortado a compra de carne brasileira há dois dias.

Outros países, entre eles Rússia e Venezuela, também estudam restrições e levam o governo brasileiro a temer um efeito em cadeia que pode causar prejuízos graves às exportações brasileiras. O Chile, outro país comprador, decidiu até agora não suspender a compra da carne, mas vai restringir a importação da farinha de ossos, usada na alimentação de animais e considerada a principal forma de transmissão da doença.

Até agora o efeito das suspensões anunciadas é limitado. As restrições da China não se estendem a Hong Kong, que é o segundo maior comprador de carne bovina brasileira no mundo e importa mais de 170 mil toneladas por ano. A China comprou este ano 14,8 mil toneladas de carne brasileira, o que, apesar de não ser muito representativo, mostra um crescimento de seis vezes em relação a 2011.

Os demais países que suspenderam a importação não são grandes compradores. O Japão comprou 1,5 mil toneladas, e a África do Sul, apenas 335 toneladas de miúdos, tripas e alimentos preparados de carne bovina. A última compra de carne congelada foi em 2008.

A entrada de Rússia e Venezuela traria prejuízos maiores. O primeiro, apesar de já ter embargo para carnes vindas do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso, é o maior importador de cortes brasileiros. A Venezuela compra do Brasil 65% do gado e das carnes que consome. Apesar de não ter havido um comunicado oficial, a associação dos produtores do país já pediu ao governo a suspensão do comércio.

A presidente Dilma Rousseff não comentou ontem a decisão da China de suspender a importação de carne em razão do caso de vaca louca registrado no País em 2010. Segundo o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, a presidente desconhecia o assunto. "Ela acabou de saber por você", disse à repórter que fez a pergunta sobre o assunto à presidente. Dilma se limitou a levantar as mãos e inclinar a cabeça, sem falar sobre o assunto.

Defesa. Desde o anúncio de que um animal de uma fazenda em Sertanópolis, no Paraná, era portador do agente causador da encefalopatia espongiforme bovina (EEB) - nome oficial da doença - o governo brasileiro se prepara para reações internacionais. O Itamaraty começou uma ofensiva em seus postos diplomáticos para esclarecer a situação e tentar evitar maiores danos ao comércio, seja fazendo gestões aos governos, seja apenas dando explicações.

O Ministério da Agricultura decidiu enviar missões oficiais aos países que já anunciaram as suspensões para tentar reverter a situação. Ao mesmo tempo, técnicos do ministério iniciaram contatos com os maiores importadores de carne bovina.

O governo brasileiro, no entanto, prepara-se para ações mais fortes na OMC. Há o temor de que o caso, considerado restrito e sem riscos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), seja usado como desculpa para a suspensão repentina de importações - como já está ocorrendo - e mesmo para casos de concorrência desleal, com um país tentando ocupar o espaço das carnes brasileiras usando o suposto risco do produto nacional.

As empresas brasileiras exportaram 1,114 milhão de toneladas de carnes e miúdos de janeiro a novembro deste ano, gerando uma receita de US$ 5,1 bilhões.

Ainda não há previsão de início de alguma ação, até mesmo porque a suspensão das importações aconteceu ontem, mas o Itamaraty planeja, se houver efeitos comerciais negativos, iniciar consultas com os países que determinaram a restrição de compras.

A consulta é um primeiro passo de negociação, onde são apresentados esclarecimentos sobre as medidas tomadas para que se tente evitar a abertura de um painel, onde se denunciam práticas comerciais inapropriadas.

O animal contaminado no Paraná morreu há dois anos, de um mal súbito sem relação com a doença da vaca louca.


Brasil tem dificuldade em liberar vendas para a Rússia

Presidente Dilma negocia com o premiê Dimitri Medvedev a suspensão ao embargo às vendas de 3 Estados


O Brasil enfrenta dificuldades em convencer a Rússia a retomar as importações de carnes de três Estados brasileiros, suspensas há um ano e meio por supostos problemas sanitários. "Nós fizemos tudo o que podíamos do lado técnico. Dependemos agora de negociações de alto nível", disse ontem ao Estado o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, reconhecendo que há resistências do lado russo em retomar as compras.

O assunto foi abordado pela presidente Dilma Rousseff durante encontro com o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, na tarde de ontem, e voltará a ser tratado hoje em sua reunião com o presidente Vladimir Putin.

A brasileira escutou do russo a promessa de que o assunto terá uma solução positiva. "Ele não me comunicou qual será a decisão final, mas considerou que os produtores brasileiros tomaram todas as medidas." A Rússia suspendeu em junho de 2011 a importação de carnes do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso.

Mas a presidente não especificou se Medvedev se referia ao embargo aos três Estados ou à exigência russa de que o Brasil adote um processo de certificação para comprovar que a carne de porco exportada à Rússia não contém ractopamina (aditivo alimentar que reduz a quantidade de gordura e aumenta a de carne no animal).

Segundo Porto, há boa vontade dos russos em relação à proposta de certificação apresentada pelo Brasil. Mas a mesma disposição não existia até ontem no caso do embargo à importações dos Estados de Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso.

As carnes são o principal produto de exportação do Brasil para a Rússia. No ano passado, as vendas somaram US$ 1,5 bilhão, o equivalente a 36% dos embarques de US$ 4,2 bilhões ao país. No ano anterior, antes do embargo, as exportações do produto haviam somado US$ 1,8 bilhão.

Moscou exigiu que o Brasil adote um processo de certificação para comprovar que a carne de porco exportada ao país não contém ractopamina. O prazo dado para a mudança venceu no dia 7 e havia o temor de suspensão das vendas de suínos ao país, segundo maior destino das exportações brasileiras.

"O relacionamento russo brasileiro está no auge, temos vários projetos promissores, mas isso não significa que tudo está resolvido", disse Medvedev. O primeiro-ministro disse à presidente que seu país está aberto a resolver os problemas que afetam o relacionamento bilateral.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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