Um mês após o Brasil comunicar ao mundo a primeira ocorrência de "vaca louca" de sua história, a repercussão do caso para os frigoríficos de carne bovina é praticamente nula. Ao que parece, o mercado de ações se recuperou do susto inicial com a notícia da temida doença. No comércio exterior, as barreiras até agora levantadas se restringem a mercados pouco representativos, incapazes de prejudicar o momento favorável das exportações de carnes brasileiras.
A ocorrência da doença no Brasil foi revelada pelo Valor PRO em 6 de dezembro. No dia seguinte, o Ministério da Agricultura confirmou o registro do caso em uma vaca morta no Paraná em 2010. Em meio à confirmação do caso, o ministério deflagrou uma estratégia para minimizar os possíveis estragos que a doença costuma causar.
Diferentemente dos casos tradicionais e mais perigosos por sua possibilidade de contaminação, o animal morto no país não adquiriu a doença por meio da ingestão de farinha de carne e ossos, disse o Ministério da Agricultura. Além disso, o animal não apresentou os sintomas clássicos da doença.
Por causa desses atenuantes, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manteve o status de risco "insignificante" para a doença no Brasil. Com a informação de que se tratava de um caso "não clássico" e a manutenção do status, o Brasil lançou ofensiva nos maiores importadores da carne bovina.
A estratégia parece ter surtido efeito, ao menos por enquanto. Dos dez principais mercados do país, apenas a Arábia Saudita proibiu a carne brasileira. O Líbano também levantou barreiras, mas apenas à carne produzida no Paraná, que é um Estado inexpressivo para as exportações. Em 2012, os sauditas e os libaneses ficaram na 9ª e 10ª posições no ranking dos importadores, respectivamente.
Na BMF&Bovespa, as ações dos frigoríficos caíram nos primeiros dias após a divulgação da doença. A empresa mais penalizada foi a Minerva Foods, terceiro maior frigorífico de carne bovina do país. Entre 6 e 12 de dezembro, ações da companhia desabaram 10,9%. Na mesma comparação, a JBS caiu apenas 1,9%. Na Marfrig, os papéis recuaram até o dia 11 de dezembro, acumulando baixa de 3,5%.
A magnitude da queda da Minerva nos primeiros dias é explicada por sua exposição à produção de carne bovina no Brasil - maior parte da sua receita vem do abate realizado aqui. Além disso, o frigorífico é o único que não atua em outras proteínas, como carne de frango e suína. A dependência das exportações para a empresa também determinou o queda. A Minerva obtém cerca de 70% de sua receita com as vendas ao exterior.
Mas os investidores se acalmaram, as perdas dos primeiros dias na bolsa foram zeradas e os frigoríficos encerraram o primeiro mês após a confirmação do caso de "vaca louca" no campo positivo. Nos 30 dias encerrados ontem, as ações da Minerva Foods subiram 3,42%; as da JBS, 8,72% e as da Marfrig, 6,98%.
Nas exportações, os números também são favoráveis. Em dezembro, o Brasil obteve US$ 389,1 milhões com as vendas externas de carne bovina in natura, crescimento de 24,1% sobre o montante registrado no mesmo mês de 2011, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em volume, somaram 83,7 mil toneladas no mês passado, 32,6% superior ao verificado em dezembro de 2011.
O salto das exportações demonstra que os embargos tiveram pouco efeito. Até agora, Japão, China, Coreia do Sul, Peru, África do Sul, Arábia Saudita e Taiwan proibiram a entrada de carne de todo o território brasileiro. Jordânia e Líbano vetaram a do Paraná. Juntos, esses mercados representam cerca de 5% das exportações do país.
Sendo assim, as perspectivas para os frigoríficos brasileiros de carne bovina continuam positivas. Num estudo recente, o Rabobank traçou um cenário favorável, com forte demanda por exportações, alta dos preços da carne bovina e ampla oferta de boi gordo. Nas exportações, o Brasil é beneficiado pela debilidade dos EUA e da União Europeia, que convivem com restrição de oferta de carne.
Para o Rabobank, os problemas na oferta global de carne bovina devem beneficiar o consumo de frango neste ano. Depois de sofrerem em 2012 com a forte alta dos grãos usados na ração animal, empresas como BRF- Brasil Foods e Seara (do grupo Marfrig) viraram o ano com os preços de seus produtos em patamares recordes. Em contrapartida, farelo de soja e milho apresentam tendência de leve queda, segundo o banco holandês. Se forem disciplinadas no aumento de produção e as exportações se aceleraram, 2013 será positivo.
No mercado de carne suína, as perspectivas também são boas. Por conta do aumento dos custos com os grãos em 2012, o Rabobank diz que a oferta será restrita neste ano, o que deve impulsionar os preços.
Veículo: Valor Econômico