Está faltando atum no mercado catarinense

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Maior parte da produção de SC é vendida para São Paulo, que paga melhor


O alto consumo de sushis e sashimis no mercado catarinense e a crescente demanda pelo pescado em SP são apontados como os fatores que explicam a escassez de atum nas peixarias e nas casas especializadas em comida japonesa de SC.

De acordo com o Sindicato da Indústria da Pesca de Itajaí (Sindipi), 90% de tudo que é produzido em SC está indo para SP, o grande consumidor do país, o que provoca o desabastecimento por aqui.

— A produção em Itajaí gira em torno de 900 toneladas anuais das três espécies de atuns para o mercado de sashimi. Nesta época, a produção diminui um pouco porque a frota se dirige mais para o Norte do país. Há desembarques do peixe aqui no Estado, mas eles vão para São Paulo — explica o coordenador técnico da Câmara Setorial de Atum no Sindipi, Marco Aurélio Bailon.

Conforme o Ministério de Pesca, SC lidera a produção nacional de atum e peixes assemelhados, que são pescados juntos. Em 2011, foram 25,3 mil toneladas em SC e o total do país foi de 52 mil toneladas.

Em Itajaí, cidade com o maior porto pesqueiro do país, oito dos 27 boxes do Mercado Público normalmente vendem o atum. No entanto, de acordo com Janine de Oliveira, coordenadora da estrutura mantida pela prefeitura, apenas um dispõe do peixe agora.

— Segundo os comerciantes, a oferta de atum diminuiu entre 35% e 40% nas últimas semanas. A expectativa é de que o abastecimento seja retomado no final de janeiro.
Comércios de frutos do mar da Capital também reclamam da situação. Segundo o empresário Rapha Alves, dono da Ilha Pescados, os carregamentos vinham com peixes beirando os 90 quilos. Hoje, as peças oscilam entre seis e sete quilos. Enquanto isso, os preços têm ido na direção contrária. De R$ 13, passou para R$ 18.

No Mercado Público da Capital, o consumo do atum tem crescido, principalmente com a abertura de casas de sushi, explica Fillip Santos, da tradicional venda de pescados Nelson Santos. Mesmo com dois fornecedores do Rio de Janeiro para venda na banca, a falta de mercadoria tem sido recorrente.

— Até existe atum sendo oferecido no mercado, mas a qualidade da carne não é tão boa porque a melhor parte vai para a exportação.

Restaurantes dasabastecidos

Com praticamente toda a produção catarinense indo para o mercado paulista, os restaurantes de comida japonesa em Santa Catarina registram a falta do atum e precisam resolver o problema na hora de atender os clientes. Na Lagoa da Conceição, o dono do Nigiri Sushi Bar, Eduardo Campos conta que, há pelo menos três semanas, tem enfrentado dificuldades no abastecimento do peixe.

— Quando consigo encontrar, acabo pagando mais caro ou então deixo de oferecer os pratos para o meu cliente, o que resulta num prejuízo de vendas caso ele não aceite outra opção — explica o empresário.

Sócio do Kimitachi, outra casa especializada de Florianópolis em pratos a base de peixes, Paulo Hashimoto diz que as receitas utilizam atum como ingrediente representam 15% do que é comercializado pelo restaurante. Ele afirma que há falhas na entrega desde novembro, em pelo menos dois ou três dias por mês. Segundo Hashimoto, a explicação que recebe é a semelhante à ouvida pelas peixarias.

No Litoral Norte, a falta de atum é algo recorrente durante a temporada de verão, explica o dono da Japa Temakeria, em Balneário Camboriú, Régis da Silva Bovo. O motivo, conforme ele, é o preço e, por conta disso, muitos restaurantes que servem sashimi e sushi à base de atum substituem o peixe pelo agulhão. De acordo com Bovo, o pescado similar tem a mesma coloração, a diferença é uma textura mais grossa.

— Nós pagamos R$ 35 o quilo do atum, enquanto São Paulo paga R$ 50, então os pescadores preferem vender lá. Tenho estoque de atum para trabalhar até o dia 10 de janeiro. Depois disso, se não conseguir comprar mais, vai faltar _ alerta.

Em Joinville, uma peixaria do Mercado Público Municipal vendeu há pouco todo o atum que tinha e não há previsão de nova entrega. Em Blumenau, a falta do atum foi menos sentida pelas peixarias e restaurantes japoneses da cidade.

No Sushi Yuzu, que recebe o produto a cada dois dias, a falta da mercadoria fresca foi sentida há três semanas, mas o fornecimento foi normalizado antes do Natal. O mesmo ocorre no Restaurante Chinês, da Rua XV de Novembro, no qual o peixe fresco foi entregue quinta-feira de manhã.

O presidente da Associação Brasileira de Bares, Restaurantes e Similares em SC (Abrasel-SC), Fábio Queiroz, aponta que o preço dos frutos do mar tem subido e que, a cada ano, aumenta a dificuldade para encontrar produtos a preços competitivos.

— Alguns peixes da região estão cada vez mais difíceis de serem encontrados, salvo salmão e outras espécies, que normalmente são importados — explica.


A origem do atum

Os atuneiros, barcos especializados na captura do atum, seguem até alto-mar. A pesca do atum é feita em águas oceânicas, onde a temperatura é mais baixa e o mar mais profundo.

A partir de 200 quilômetros da costa e até 200 metros de profundidade, são lançados os espinhéis (longas linhas com 1 mil a 3 mil anzóis no fio).

Depois de duas ou três horas, os cardumes são recolhidos e colocados nos porões das embarcações até serem descarregados nos armazéns refrigerados.

O peixe que chega no barco ainda vivo é o que mais vale em termos de preço para o atum usado para sushi e sashimi.

O tamanho do atum pode variar entre 80 cm e 2 metros na costa brasileira e chegar a 150 quilos. O atum azul pode chegar a 4,5 metros e o peso a 680 quilos, espécie encontrada no Mar Mediterrâneo.



Veículo: Diário Catarinense


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