A Fazenda de Emus Wild Rose, em Montana, nos Estados Unidos, é uma das últimas sobreviventes de um setor incomum. Em 1998, havia nos Estados Unidos cerca de 5,5 mil criações de emus, uma ave desajeitada que não sabe voar e que mede de 1,80 metros a 2,10 metros de altura; agora restam no máximo entre 1 mil e 2 mil criações no país. Antigamente, os emus eram vistos como uma dádiva de Deus, que poderia ajudar granjeiros em dificuldades.
Contudo, a trajetória decrescente do setor pode estar chegando ao fim. Isso não está acontecendo porque a carne da ave – que é muito saudável – está se popularizando, embora isso também esteja ocorrendo. Na verdade, a esperança dos criadores vem da espessa camada de gordura que cobre boa parte do corpo do emu, entre o couro e a carne do animal.
"O óleo é benéfico para praticamente qualquer problema de pele", afirmou Clover Quinn, proprietária da Wild Rose, enquanto esfregava o óleo nas mãos.
Embora existam poucos estudos que comprovem a eficácia do óleo para determinados problemas, seus defensores afirmam que o produto pode ser utilizado de diversas maneiras. "É um óleo muito bom", afirmou Mohammed Alam, diretor do programa de óleos e gorduras da Universidade Texas A&M. "Ele não faz mágica e é parecido com outros tipos de óleo, mas seu mecanismo de funcionamento ainda precisa ser mais compreendido."
A popularidade do óleo impediu que lugares como a Wild Rose fossem à falência.
"Entramos nesse negócio em 1996, quando a Associação de Criadores de Emu de Montana tinha 35 membros", afirmou Quinn.
O marido, Joe, estava servindo um omelete de emu para quatro pessoas, feito com metade do conteúdo de um único ovo, que pesa cerca de 700 gramas.
O casal Quinn viu outros criadores começarem a vender suas aves. Agora, a Associação de Criadores de Emu de Montana conta com apenas três membros, dos quais dois são o casal Quinn.
Durante algum tempo, criar emus parecia ser um caminho rápido para a fortuna. Um casal de aves custava até US$ 45 mil em 1993, mas após sua explosão populacional o valor caiu para US$ 1 mil o par.
"Um ano depois, os criadores estavam dando as aves", contou Clover Quinn.
Um dos problemas é que a carne de emu foi considerada exótica demais pelos consumidores e nunca ganhou muito espaço no mercado americano.
Ainda assim, as vendas têm melhorado. O casal Quinn comercializa a carne em lojas de produtos naturais nas cidades de Missoula e Hamilton, uma vez que o alimento tem pouca gordura e é rico em ômega 3 e outras substâncias benéficas.
Como os emus não voam, as aves não desenvolvem grandes músculos peitorais. Leva um ano e meio para criar cada emu, que fornece apenas 13 quilos de carne. Por outro lado, uma única vaca geralmente fornece mais de 225 quilos de carne. Os criadores de emus também vendem o couro cru do animal, que serve para fazer botas, bolsas e roupas.
Entretanto, há alguns anos as pessoas começaram a comentar sobre as propriedades do óleo produzido pelo animal. Assim como os avestruzes, os emus evoluíram para armazenar muita gordura e sobreviver no interior inóspito do Outback australiano. O óleo é vendido como tratamento para rugas, queimaduras, acne, artrite, psoríase e eczema, entre outros problemas. O produto também é utilizado em shampoos e outros cosméticos.
Quando consumido em cápsulas, é utilizado para combater o colesterol, a TPM e diversos tipos de alergias.
Cada ave produz cerca de sete quilos de óleo e o casal Quinn cobra US$ 10 por 30 gramas, subtraídos os custos com o refino.
A produtividade da principal empresa de processamento do óleo de emu, a LB Processors, mais que duplicou nos últimos anos, passando de 11 mil para 26 mil litros. "Nos últimos cinco anos, as coisas melhoraram sensivelmente", afirmou Paul Binford, proprietário e diretor da empresa. "A recessão não nos afetou."
À medida que o preço do óleo subiu, alguns produtores começaram a misturar o óleo puro com óleo de soja e de canola, afirmou Mike Eppley, da Associação Americana de Criadores de Emu.
Clover Quinn mostrou as 100 aves de sua criação, que corriam dentro de cercados de alambrado. Quando a criadora se aproximou, as fêmeas começaram a produzir um som surdo que se parecia com o barulho de alguém batendo no fundo de um balde. Quinn chegou perto de um grupo que se reuniu em volta dela. É difícil não ficar um pouco nervoso quando se está cercado de pássaros de dois metros.
Dentro do galpão de incubação, a criadora mostrou 40 ovos em uma incubadora. Este mês os ovos começarão a eclodir e cerca de 100 novas aves entrarão para o grupo nos próximos meses. Clover Quinn também é uma habilidosa gravurista que transforma os ovos de emu em arte, gravando belas cenas de montanhas.
Veículo: Diário do Comércio - SP