Estudo mapeia problemas em frigoríficos

Leia em 3min

Adotar as normas sanitárias exigidas pela legislação brasileira é uma tarefa impossível para grande parte dos 1,5 mil frigoríficos espalhados pelo país. Essa é a avaliação do diretor da organização ambientalista Amigos da Terra, Roberto Smeraldi. "Não adianta brigar com a realidade. Frigorífico não é coisa para pequeninho. Se eles cumprissem as normas para o abate, teriam a carne mais cara do mundo".

A constatação é baseada nos dados revelados por um estudo que a Amigos da Terra apresenta hoje, no Congresso Nacional. Entre setembro do ano passado e fevereiro, a entidade rodou o país para confirmar as (más) impressões a respeito das condições do abate de bovinos e da fiscalização dos frigoríficos de caráter estadual e municipal. Ao todo, a organização ambientalista visitou 280 unidades.

"Quando o abate acontece com inspeção municipal ou estadual, para consumo no mercado local, as normas viram letra morta", observa o estudo intitulado "Radiografia da Carne no Brasil". Com base no trabalho, a Amigos da Terra estima que um terço da carne que chega à mesa do brasileiro é produzida em condições bastante precárias, com pouca ou nenhuma inspeção veterinária.

Em números, são 10,6 milhões de cabeças bovinos de um total de 30 milhões destinadas ao mercado doméstico, de acordo com estimativas da organização. Além dos frigoríficos de inspeção estadual e, principalmente, municipal, essa conta inclui os abates clandestinos, estimados em 5 milhões de cabeças, explica Smeraldi. Pelas contas da Amigos da Terra, existem 1.512 frigoríficos no país, sendo que 803 estão sob o regime de inspeção municipal e 466 federal.

Segundo ele, a situação é particularmente delicada em pequenos municípios. "Criou-se uma convenção não escrita entre prefeito, veterinário e gestor do frigorífico de que só precisa carimbar a carne. Mas a inspeção precisa ser individual, boi por boi. Em muitos casos, o veterinário nem acompanha o abate", afirma o diretor da entidade.

A questão é que, na avaliação de Smeraldi, para se adequar às normas do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa), os frigoríficos teriam de investir "alguns milhões". "E você não vai fazer tudo isso para abater 20 animais por dia", diz, sugerindo o fechamento desses frigoríficos. "No dia em que o veterinário disser que não vai assinar, o dono do frigorífico tem duas opções: ou fecha ou continua produzindo na clandestinidade. Mas aí você tem o poder de polícia para combater", afirma.

O diretor da Amigos da Terra diz que os veterinários devem abandonar o hábito de apenas "carimbar" a carne sem inspecioná-la. Para isso, no entanto, eles terão de contar com o aparato estatal, uma vez que "sofrem pressão para não exercer suas funções com o rigor necessário", conforme relata o estudo da organização. No que diz respeito ao "hábito", Smeraldi pede uma atuação mais enérgica do Conselho Federal de Medicina Veterinária, cassando o registro dos profissionais que adotam tal prática. Só assim, o "acordo do carimbo" perderá força, acredita o diretor da entidade.

Smeraldi afirma, ainda, que a adoção de um sistema único de inspeção veterinária também poderia contribuir. A inspeção foi descentralizada a partir da Constituição de 1988, mas criou uma "hipocrisia". "Um frigorífico de Ponta Porã (MS) de âmbito municipal só pode comercializar em Ponta Porã. A qualidade dessa carne deveria ser a mesma da que vai para Londres", diz. Mas ela não é, segundo ele, por que os sistemas federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM) não conversam entre si. Nesse contexto, há um relaxamento da inspeção, já que a carne não ultrapassará as fronteiras municipais.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

No setor de carnes, J.P. Morgan eleva as recomendações para JBS e BRF

Ao considerar que os múltiplos e o cenário para o segmento de frigoríficos na bolsa de valores fica...

Veja mais
África do Sul tenta, de novo, barrar o frango brasileiro

As exportações brasileiras de carne de frango correm o risco de enfrentar novas barreiras da África...

Veja mais
Queda na demanda faz preços recuarem

Preços pagos pelo frango vivo em Minas Gerais recuaram de R$ 2,95 para R$ 2,45 por quilo do animalOs preço...

Veja mais
Dificuldade em escalas eleva preço do boi

As condições climáticas ainda são favoráveis para a detenção do boi gor...

Veja mais
Carne bovina fica mais barata

Desoneração anunciada pelo governo ajudou a baixar o preço da carne no varejo. Em Brasília, ...

Veja mais
Frigoríficos esperam margens melhores

As empresas brasileiras de carnes compartilharam, no último ano, de um problema comum: a pressão sobre as ...

Veja mais
Grupo rastreia carne bovina

Tambasco: trabalhamos em busca de inovação para que possamos agregar valor às relaçõe...

Veja mais
Avicultura espera fim da queda de preços

O produtor de frango já perdeu 18% nos preços da ave viva nos últimos 30 dias. A queda coloca em ri...

Veja mais
Rússia bloqueará hoje compra de carnes de Canadá e México

MOSCOU - A Rússia planeja banir as importações  de carnes da maior parte dos fornecedores do C...

Veja mais