Produtor de boi aposta em 'apagão' de bezerros em 2014

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Guilherme Nolasco é um produtor precavido. Antevendo um "apagão de bezerros" para os próximos dois anos, o pecuarista decidiu neste ano ir na contramão do mercado e resolveu investir no aumento do número de fêmeas em seu rebanho para, em breve, ser um dos poucos fornecedores de bois novos do Mato Grosso, por um preço mais valorizado.

Até três meses atrás, todas as suas 1,6 mil cabeças estavam sendo engordadas para abate. Com o início dos abates, ele resolveu apostar na compra de matrizes e, neste início de julho, já registra em sua fazenda 700 vacas. Sua meta é chegar a mil fêmeas, ou matrizes, em sua propriedade, localizada na Chapada dos Guimarães. "Estou no caminho inverso do mercado porque acho que o grande lance vai ser vender bezerro a partir de 2014 e 2015."

A perspectiva de um "apagão de bezerros" no próximo ano e de uma redução do rebanho nacional em dois é uma análise quase unânime no setor pecuário. Desde janeiro até maio, quase 1,3 milhão de fêmeas foram abatidas no estado de Mato Grosso. Isso representa um aumento de 12,2% com relação ao mesmo intervalo de tempo de 2012, ano em que o abate de vacas no estado foi de 47,8%. A média nacional de abate de fêmeas para a renovação das matrizes de bezerros é de 30%.

"Até 2015 vamos viver um apagão de bezerros", aposta o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari.

Apenas no estado a estimativa é que o abate de fêmeas resulte numa redução de ao menos 2% do plantel.

Se a previsão se efetivar, não será a primeira vez que isso ocorrerá no Brasil. O maior apagão de bezerros ocorreu entre 2006 e 2007, ano em que o rebanho nacional ficou abaixo das 200 milhões de cabeças. Naquela época, a crise ocorreu por causa da epidemia de febre aftosa. Neste ano, o problema maior é a achatamento da renda do pecuarista. A alta dos insumos, principalmente de ração, no ano passado, e a queda dos preços ao produtor tem tirado os fazendeiros da atividade, principalmente pequenos e médios.

A aposta do produtor Guilherme Nolasco já pode dar resultados no curto prazo. De acordo com o último boletim do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o preço médio do bezerro que acabou de sair da desmama fechou a última semana de junho em R$ 678,44 por cabeça, o que representa uma alta de 7,22% na comparação com a mesma época do ano passado. O aumento das cotações do bezerro no mercado interno, segundo boletim do Imea, já reflete o aumento do descarte de fêmeas e a perspectiva de restrição de oferta no futuro.

O "apagão de bezerros" já está no horizonte dos pecuaristas desde o ano passado, quando os produtores sofreram com a piora na qualidade das pastagens, atacadas por uma série de pragas em 2011. Naquele ano, o plantel de bois no Brasil estava em 21,9 milhões de animais, segundo o IBGE. Os dados do rebanho de 2012 serão divulgados em outubro, mas estima-se que tenha fechado em 21 milhões de cabeças.

Preço

Apesar das margens ruins até então, o preço do boi gordo tem aumentado desde o começo da entressafra, no início de junho, e se acentuou na segunda quinzena do mês. A alta chegou a 3,85% entre os dias 4 de junho e julho. Segundo Sergio De Zen, analista de pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os preços devem se manter altos até o fim do período do confinamento, que acaba em setembro. Porém, ele acredita que há um limite para essa alta, porque "o mercado não está aceitando repasse" de preços.

Nos estados mais ao Sul, as chuvas têm mantido a qualidade da pastagem. Com isso, alguns pecuaristas, como Guilherme Reich, de Camapuã (MS), têm segurado parte de seus bois no pasto para vendê-los quando vier um período mais seco. Desde o início do ano, ele abateu mil de suas 5 mil cabeças. Até dezembro ele pretende abater até 3 mil bois.



Veículo: DCI










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