Indústria reduz produção de frango e desagrada fornecedores

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Nos bastidores do recuo na produção de frangos no País, indústrias e fornecedores iniciam queda-de-braço para renegociar condições contratuais. Empresas que prestam serviço de abate concordam em reduzir volume, mas não aceitam rever valores e estreitar margens. Outras que não têm contratos oficiais, mas prestam serviços há anos, reclamam da falta de fidelidade em tempos difíceis. Embate semelhante também ocorreu no surto de gripe aviária na Europa e na Ásia em 2005, quando o setor no Brasil também teve de reduzir fortemente produção. Mas, neste momento, a preocupação é de que a crise está mais persistente, o que pode tornar essas negociações mais difíceis.

 

A Céu Azul Alimentos, com sede em Sorocaba (SP), abatia 1 milhão de frangos por semana até a Sadia S.A. avisar que não compraria mais a produção da empresa, segundo conta Franke Pavan, diretor-operacional da Céu Azul. "Prestávamos serviço há cinco anos para a Sadia que ocupava 20% da nossa capacidade de abate e agora reduzimos em 15% e demitimos 20 funcionários", relata Pavan. A empresa, que tem produção e abate de frangos, tem 3 mil colaboradores e, de acordo com Pavan, está "tentando suportar esse cenário, sem dispensar mais gente". Ele afirma não ter recebido nenhuma sinalização da Sadia sobre quando retornaria a comprar animais. "Mas agora nós é que não temos mais interesse. Na época mais difícil, a empresa nos abandona", reclama Pavan. Ele conta que na época da gripe aviária, em 2005, a Sadia apenas reduziu compras da Céu Azul, diferentemente do que está ocorrendo agora.

 

A Sadia informou que não possui contrato com a Céu Azul, que é apenas um fornecedor temporário da companhia. De acordo com a assessoria da Sadia, em 2008 a empresa tinha cinco parceiros em abates de animais, ou seja, com a prestação de serviço prevista em contrato. Com o fim do contrato de dois anos com a Globoaves, a empresa tem agora quatro parceiros. A assessoria da companhia informou que não está previsto nenhum rompimento, mas sim, renegociação dos contratos visando a redução da produção.

 

Pedro Carrer, diretor do Frigorífico Nicolini, com sede em Garibaldi (RS), informou que a Sadia marcou para o dia 19 deste mês uma reunião com a empresa para "ajustar" produção. Cem por cento da capacidade do frigorífico - abate de 400 mil frangos e 600 suínos por dia, além de uma indústria de embutidos e fábrica de ração - é usada para atender à companhia em um contrato de cinco anos, que já vigora por um ano.

 

Carrer espera que não se discuta alteração de valores no contrato, mas somente volumes de produção. "Caso a empresa queira renegociar valores, a gente pode não aceitar. Não preciso reduzir o volume, por isso, não sou eu que tenho que pagar esse prejuízo. O erro estratégico foi da empresa. Eu tenho que garantir os mesmos ganhos", avisa Carrer. Ele acrescenta que, para atender à Sadia, teve que fazer vários investimentos para ajustar linhas de produção, inclusive com compra de duas linhas de evisceração automática (retirada de vísceras de frango). "Além disso, abrimos mão de marca própria e de contratos com outras empresas, como a Diplomata Alimentos e a própria Perdigão, porque a Sadia exigiu exclusividade", reclama Carrer.

 

A avaliação de que essa crise deve atingir mais severamente o setor avicultor do que se imaginava, parece estar se confirmando. Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), afirma que a negociação de importadores com exportadores não melhorou. "Está complicado. Os importadores estão pedindo muitos descontos para compensar a valorização do dólar. Há tentativa de aviltamento dos preços em relação ao que havia", relata Turra. Ele não informou qual o percentual de desconto vem sendo pedido pelos importadores, mas afirma que trata-se de um valor que impede as indústrias brasileiras de exportarem com alguma rentabilidade.

 

Arantes pede recuperação

 

A Arantes Alimentos, que está entre as dez maiores exportadoras de carne do Brasil, entrou ontem com pedido de recuperação judicial. A empresa, segundo sua assessoria de imprensa, alega que fatores como falta de crédito, elevado endividamento e redução da demanda motivaram o pedido. A Arantes deixou de pagar no dia 19 de dezembro uma dívida de US$ 8 milhões.

 

Minerva

 

O frigorífico Minerva anunciou ontem a contratação de R$ 215 milhões de empréstimos, entre recursos do BNDES (R$ 121,8 milhões) e do Banco da Amazônia. Os recursos serão usados para investimento em unidades e, parte deles, (estimados em R$100 milhões) para recompor o caixa de investimentos já feitos.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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