Setor avícola demite funcionários no Sul

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Decisões tomadas pela Sadia estão provocando demissões de trabalhadores no Sul do país. Os primeiros atingidos são empregados de prestadoras de serviços, como a Globoaves, do Paraná, cujo contrato com a empresa venceu recentemente e não foi renovado, o que resultou na dispensa de 460 pessoas. A Nicolini, do Rio Grande do Sul, tem outros quatro anos de parceria, mas nos últimos 20 dias cortou mais de 10% do quadro de 3 mil empregados e vai dar férias coletivas de 30 dias para metade dos que ficaram e atuam no segmento de aves. 

 

Há registros de demissões também em Toledo (PR), um dos principais locais de produção da Sadia. Em dezembro o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação do município, João Moacir Belino, foi a um jornal da cidade falar no assunto. "Tive dificuldade para obter respostas na empresa", explica. Em reunião posterior, o sindicalista foi informado de que eram "dispensas normais de fim de ano". Segundo ele, o corte foi de "cento e poucas pessoas" e, depois, o frigorífico de aves ficou fechado dez dias para o que a empresa chama de "parada técnica", que ocorreu em outros municípios e afetou 20% dos cerca de 63 mil empregados. 

 

Em outubro, logo após admitir perdas financeiras com derivativos de dólar, a Sadia convidou políticos e jornalistas para a reinauguração de uma unidade de empanados que havia sido destruído em incêndio, também em Toledo. Foi lá que o presidente do conselho de administração da companhia, Luiz Fernando Furlan, fez a primeira aparição pública após retornar ao cargo. Mas a fábrica não está funcionando e os 300 empregados contratados para ela teriam sido transferidos para outros postos. 

 

"Funcionou uns 60 dias, parou e deve ficar assim até abril", contou Belino. Consultada, a Sadia desmentiu demissões motivadas pela crise e informou, pela assessoria de imprensa, que a unidade de empanados está em "parada técnica para análise de demanda". 

 

Na sexta-feira, representantes de 11 sindicatos de trabalhadores, de cinco Estados, tiveram encontro em Concórdia (SC) para debater o cenário do setor avícola no Brasil e "mais especificamente a empresa Sadia", conforme carta que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac) endereçou à empresa na ocasião, pedindo uma reunião com a direção. "Está acontecendo redução de 20% na produção para não reduzir o preço do frango, como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) faz com o petróleo", diz Siderlei Oliveira, presidente da Contac. 

 

No caso da Sadia, ele questiona o que vai acontecer depois das paradas das unidades. Segundo o sindicalista, outro parceiro que pode ser atingido é o Minuano, de Lajeado (RS). O Valor procurou a empresa, mas não conseguiu falar com a direção. "Já tem mais de 1,5 mil na rua", afirma Oliveira. 

 

Pedro Carrer, sócio da Nicolini, disse que tem contrato de cinco anos com a Sadia e cumpriu até agora um. Ele contou que nos próximos dias terá reunião com a empresa para renegociar volumes de produção, mas acrescentou que fez investimentos, deixou de atender clientes, como a Perdigão e a Diplomata , porque a empresa exigiu exclusividade e, agora, não pode ter perdas. "Parceria é para momentos bons e ruins. Nada é descartado, desde que eu não tenha prejuízos." Atualmente, a Nicolini abate 400 mil frangos por dia para a Sadia, mas recebeu proposta para reduzir o volume e ficar com um turno de produção nas unidades de Garibaldi e Nova Araçá (RS). 

 

Por enquanto, o maior número de cortes foi em Cascavel, sede da Globoaves. "Aqui, um turno inteiro foi demitido", reclama Valdevino Pereira Oliveira, do sindicato local dos trabalhadores. Roberto Kaefer, presidente da Globoaves, disse que o contrato terminou em janeiro e já estava combinado que não seria renovado. Com o fim da parceria com a Sadia, a unidade deixou de trabalhar em três turnos e a dona do frigorífico passou a fazer abate em dois turnos para marcas próprias. A assessoria da Sadia disse que estão sendo feitas adaptações em todas as unidades e não faria sentido se isso não se estendesse às parcerias. 

 

Veículo: Valor Econômico


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