Sem Seara, mercado externo ganha peso para Marfrig

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Com a venda da Seara Brasil para o frigorífico JBS, que deve ser finalizada até setembro, as operações externas ganharam maior proporção nos negócios do Grupo Marfrig, e a companhia aposta agora principalmente no mercado europeu para reverter dois prejuízos seguidos nos trimestres deste ano e reduzir seu endividamento. Entre abril e junho deste ano, a Marfrig teve um prejuízo de R$ 159,9 milhões, após um prejuízo de R$ 81,2 milhões no trimestre anterior. Apesar de um aumento de receita líquida de 9,4%, para R$ 4,455 bilhões, os custos aumentarem 12,9%, para R$ 3,962 bilhões.

Segundo o CEO da Seara Foods e futuro presidente da Marfrig, Sergio Rial, as operações externas representam para a companhia 55% dos negócios, com peso principalmente das marcas Keystone, que atua no hemisfério norte, e Moy Park, segundo maior produtor de aves dentro do Reino Unido e com presença na América Latina.

"O aspecto internacional é maior. Inclusive, ter a exposição da empresa com participação importante no mercado internacional pode ser um viés interessante de hedge para investidores", observou o CEO.

A internacionalização da Marfrig se mostra também no perfil de sua receita. Dos R$ 4,455 bilhões de receita consolidada do segundo trimestre, 21% é correspondente a renda em moeda nacional, enquanto o dólar norte-americano representou sozinho 43% do volume.

Durante a apresentação dos resultados, Rial deu sinais de que a mudança de peso do mercado externo para o grupo não é somente uma consequência inevitável da venda da Seara, mas também uma orientação da organização de acordo com o desaquecimento do consumo interno e de indicativos externos.

"O Brasil continua sendo um grande potencial, mas do ponto de vista econômico, [a perspectiva para] o segundo semestre de 2013 e para 2014 é mais desafiador quanto à capacidade de aumento de preços e de volume", argumentou o empresário.

Com uma valorização de 16% do dólar ante o real nos últimos 12 meses, a Marfrig Beef - divisão de bovinos e ovinos - exportou 4,6% mais em volume e 3,1% mais em preços, o que garantiu um aumento de receita de venda ao exterior de 7,8%. Segundo Rial, a expectativa é de mais desvalorização cambial. "O dólar deve levar a um aumento da exportação no nosso negócio", assinalou.

O cenário interno de outros mercados também colaborou. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Keystone se beneficiou de um aumento de 41,2% nos preços, na comparação com o segundo trimestre do ano passado. Essa elevação foi em parte compensada pelo menor volume vendido, o que, ainda assim, garantiu uma receita 14,5% maior para a marca no segundo trimestre deste ano.

A Marfrig também se beneficiou de suas operações de abate dentro do Reino Unido por meio da Moy Park. Segundo o CEO da Seara Foods, após o escândalo da venda irregular de carne de cavalo no mercado inglês, os consumidores locais têm preferido proteínas produzidas nacionalmente. "Os principais varejistas no Reino Unido estão cada vez mais interessados em buscar frango e boi local. Quem tem estrutura local acaba se beneficiando em preço."

Ele demonstrou ainda que o grupo está apostando em um maior consumo do mercado europeu em geral para os próximos meses. Rial destacou a possibilidade de crescimento principalmente para a Moy Park, para a qual "o que não falta é oportunidades na Europa", assegurou.

O mercado asiático também já tem recebido investimentos do grupo. Rial destacou os aportes em bens de capital da Keystone no continente, especificamente na Coreia do Sul, e revelou que estão "discutindo entrar no mercado da Indonésia. Pode ser tão grande quanto o México. É uma economia que está crescendo em dois dígitos na Ásia".

O otimismo com a região ocorre a despeito do segundo trimestre, quando a gripe aviária na China abalou a demanda por carnes no país e também no Japão.

Já as operações da Marfrig na Argentina e no Uruguai tiveram uma influência negativa nos resultados da companhia no segundo trimestre por causa do fechamento de duas plantas argentinas e da situação do setor da indústria de carnes uruguaia, mas Rial afirma que a expectativa é de reversão no próximo trimestre.

Dívida em dólar

A internacionalização da companhia também ocorreu no perfil de sua dívida. Como a com a JBS pela Seara Brasil envolveu o repasse das dívidas, no total de R$ 5,85 bilhões, o endividamento total da Marfrig passou a ser predominantemente em dólar. Dos R$ 11,097 bilhões em dívida bruta, R$ 9,099 bilhões são em moeda estrangeira, quase 82% do total. Ao fim do primeiro trimestre, essa parcela era de 77%.

Até o momento, foram repassados para a JBS R$ 2,85 bilhões em dívida bruta. Com isso, a dívida total da Marfrig já caiu R$ 1 bilhão - metade da meta de redução do endividamento estabelecida ao fim do primeiro trimestre para até o fim deste ano.



Veículo: DCI


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