Frigoríficos redescobrem mercado interno

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Em tempos de exportações em queda, os grandes frigoríficos brasileiros agora disputam fatias valiosas no mercado interno. O grupo JBS-Friboi iniciou na última semana uma reestruturação que incluiu a demissão de alguns executivos em sua matriz, em São Paulo, e a transferência de outros para as unidades da companhia em outros estados. Segundo fontes da empresa, o JBS quer fortalecer a atuação dos centros de distribuição de varejo para aumentar suas vendas no mercado e recolocar carne não-exportada. Também com mesmo foco, o grupo Minerva, o quinto maior do País, avisou que vai construir outros centros de distribuição em regiões estratégicas para aproveitar o espaço deixado pelas indústrias que saíram do mercado por dificuldades financeiras. "A saída de alguns grupos deixou uma lacuna que estamos procurando aproveitar", diz o presidente da empresa Roberto Russo, para quem o mercado doméstico também se tornou a principal alternativa.

 

A estimativa é de que de 2007 para 2008 as indústrias com dificuldades financeiras deixaram de abater por dia 23 mil cabeças, o que representa, a grosso modo, 6,6 milhões de cabeças por ano e cerca de 1,4 milhão de toneladas de carne (equivalente carcaça) - mais de 10% da produção de 2008, que deve ficar em 9,5 milhões de toneladas, segundo a Scot Consultoria. Nesta conta, estão alguns grupos conhecidos como Frigoestrela, o Margem, o Quatro Marcos e o Arantes.

 

"Muitos desses frigoríficos tinham atuação em mercados regionais. Então se criou uma lacuna que estamos buscando ocupar para compensar parte do recuo na exportação", diz Russo. Ele conta que até 2007, o mercado doméstico consumia entre 60% e 70% da produção do Independência, percentual que em 2008 ficou em 50%. "Esse cenário começou a mudar com os impedimentos na União Européia e agora mais recentemente com a Rússia, que representa 15% dos nossos embarques", acrescenta.

 

Até o fechamento desta edição, a assessoria do JBS não havia retornado as ligações da reportagem. Mas fontes da companhia afirmam que ainda não está definida a quantidade de pessoas demitidas, apesar de se falar em número próximo a 100 pessoas, entre gerentes industriais e administrativos. As razões vão desde sobreposição de funções, necessidade de otimizar negócios até a descentralização de operações. "Esse número pode ser menor, em torno de 60 pessoas, se mais colaboradores aceitarem serem transferidos para outros estados", diz a fonte. No começo da tarde, a assessoria do JBS apenas garantiu que as dispensas de executivos não têm relação com corte de custos, como ocorreu recentemente com a Sadia S.A., que demitiu 350 pessoas para economizar R$ 44 milhões.

 

O frigorífico Minerva, que viu suas exportações recuarem na mesma proporção da média nacional nos três meses (em torno de 30%), também está com estratégia agressiva para abocanhar o mercado interno. Em outubro, a empresa inaugurou dois centros de distribuição (CD) - em Santa Catarina e no Espírito Santo - projetos já previstos pela companhia. Mas a persistente retração internacional fez com que a empresa - que agora possui cinco CDs - planejasse implantar outros centros para fortalecer atuação no mercado interno. "Não podemos informar quantos centros e em que locais pois trata-se de informação estratégica. Mas está prevista, sim, a inauguração de outros centros", afirma Ronald Aitken, superintendente de Relações com Investidores do Minerva.

 

Aitken explica que, de fato, a empresa tem estratégia para aproveitar o crescimento da renda no mercado doméstico, no entanto, nos últimos meses essa participação aumentou em velocidade acima do que se imaginava, justamente pela retração internacional. "O encerramento das operações de alguns players de médio porte deixaram espaços que estamos buscando preencher", diz Aitken.

 

Ele informa que há dois anos o mercado interno (carne e boi vivo) representava 20% das vendas da companhia. No quatro trimestre de 2008 esse percentual fechou próximo de 37%. "Neste primeiro trimestre do ano, essa participação deve ainda aumentar, talvez para patamares de 40%", acrescenta Aitken.

 

Nos últimos anos consumindo 75% da produção de carne do País, o mercado interno deve ter elevado essa participação para quase 78%, já como efeito da queda nas exportações - que em 2008 recuou 14% e em janeiro deste ano caiu 24%, segundo estimativa da Scot Consultoria. "Tivemos uma queda das exportações, mas também uma produção cerca de 10% menor", pondera Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria.

 

Ele recorda que o Brasil entrou no mercado internacional com volumes representativos a partir da virada dos anos 90 para 2000. "O mercado doméstico chegou a ser 90% das vendas dos frigoríficos", lembra Rosa.


 
Veículo: Gazeta Mercantil


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