Neste início de ano, momento em que os produtores de aves e suínos compõem seus estoques de insumos para ração, a forte alta nos valores do milho, atrelada à baixa oferta, já levou o setor a enfrentar o dólar alto e fazer suas compras na concorrência vizinha, como Argentina e Paraguai.
Ontem, o indicador de milho Esalq/BM&FBovespa apontou para um avanço de 16,35%, na variação mensal de preços, para R$ 42,85 por saca de 60 quilos. No entanto, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, conta que em algumas regiões o produto já chegou a saltar de 30% a 50% nos valores.
"Neste ano temos uma primeira safra pequena e as exportações do ano passado foram bem elevadas. Como [o milho] é o componente mais pesado da ração, as empresas começaram a sentir o peso dos custos", explica o representante do setor. "Já temos produtores comprando milho do Paraguai e negociações com a Argentina, mas aí vem o impacto do dólar", acrescenta Turra.
Mesmo sem estimar o volume das importações, o executivo chama a atenção para a necessidade do criador de formar estoques de ração agora, pois o milho proveniente da segunda safra, a safrinha, é o grande mote de venda para fora do País.
Em 2015, o milho foi um dos grandes destaques de exportação ao bater recorde 28,9 milhões de toneladas embarcadas, crescimento de 40%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura. Especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informam que as vendas continuaram aquecidas no início deste ano. Só na primeira quinzena de janeiro foram 2,87 milhões de toneladas, com média diária de 287 mil.
"Bons embarques de milho ainda podem ser observados nos próximos dois meses, pelo menos, tornando os estoques de passagem - computados oficialmente no final de janeiro - menores que os do ano passado", afirmam os analistas em nota.
Neste contexto, o setor de proteína animal recorreu ao governo federal e espera que a comercialização dos estoques públicos colabore na regularização da situação até o final da colheita já iniciada. Das 1,4 milhão de toneladas em reserva da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 500 mil recebeu aval para venda.
No campo
"A esse cenário, somam-se ainda as estimativas de menor produção do milho verão e de um possível atraso no semeio do milho segunda safra, que pode implicar em menor produtividade", ressalta o Cepea.
Ao DCI, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Endrigo Dalcin, disse que, além dos países da América do Sul, os Estados Unidos podem se tornar outro fornecedor para este período de escassez na oferta. Para ele, a importação pode se intensificar entre os meses de fevereiro e maio, visto que em junho haverá grão disponível. "Como produtor, não me recordo de um momento em que precisemos comprar milho para abastecer o mercado interno", lembra. O executivo afirma que o Nordeste também deve gerar uma demanda para importação da commodity.
Vale destacar que a questão logística favorece a entrada de grãos de países vizinhos, em detrimento do produto oriundo do Centro-Oeste, por exemplo, em função do alto "custo Brasil". Conforme publicado no DCI, esta hipótese havia sido cogitada no final do ano passado, pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
Em uma expectativa mais ousada, os especialistas da consultoria Agroconsult não descartam a possibilidade de importação do grão para cumprimento de contratos do produto que já foi comercializado. Segundo Endrigo, cerca de 55% da safra 2015/2016 de milho do Mato Grosso, maior estado produtor, está vendida para o mercado externo.
Veículo: Jornal DCI