Preço das ações é o entrave à fusão entre Perdigão e Sadia

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Segundo fontes, a Sadia aceitaria R$ 8 por seus papéis, mas a Perdigão oferece R$ 6

 

As negociações entre Sadia e Perdigão foram oficialmente interrompidas há cerca de dez dias, mas banqueiros e advogados seguem conversando na tentativa de superar impasses. As empresas concordam com um modelo de troca de ações e com a listagem da nova empresa no Novo Mercado. O impasse se dá na questão do preço das ações e no tamanho da participação que os controladores da Sadia, as famílias Fontana e Furlan, terão no novo negócio.

 

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, as famílias Furlan e Fontana, donas da Sadia, concordam em uma troca de ações com os papéis da sua empresa cotados a R$ 8, enquanto os fundos de pensão que controlam a Perdigão estariam dispostos a chegar a R$ 6. Nessa operação, os acionistas da Perdigão, capitaneados pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, seriam majoritários na nova empresa.

 

Os acionistas dos dois grupos deixaram a mesa de negociação, mas as conversas continuam por meio do Banco Bradesco de Investimentos e o escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, pelo lado da Sadia, e UBS Pactual e Bocater, Camargo, Costa e Silva, pela Perdigão.

 

Sem querer alterar sua proposta, executivos da Perdigão preferem dizer que as negociações acabaram - teor de um comunicado enviado ao mercado na semana passada. Já a Sadia não esconde que as negociações continuam - como foi dito em comunicado também na semana passada - e executivos da empresa têm dito que essa não seria a única alternativa, pois haveria investidores estrangeiros interessados. "O que emperra (as negociações com a Perdigão) é a relação da troca de ações", disse ontem o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, na inauguração de uma nova fábrica.

 

Pelos cálculos da Link Corretora, caso o preço das ações da Sadia seja fixado em R$ 6, a empresa estaria sendo avaliada em R$ 3,4 bilhões (incluindo o pagamento de 80% de tag along para os acionistas minoritários), fora o valor da dívida, que no terceiro trimestre era de R$ 4 bilhões. Na sexta-feira, a Sadia divulga o seu balanço e o real endividamento será conhecido. Pela estimativa da corretora Brascan, o prejuízo no quarto trimestre, puxado pelas perdas com derivativos cambiais, deve ser de R$ 2 bilhões. A R$ 8 por ação, ainda segundo cálculos da Link, a Sadia estaria sendo avaliada em R$ 4,5 bilhões, mais a dívida.

 

Do capital total da nova empresa, a Perdigão ficaria com uma participação de 60% a 70% e a Sadia com 40% a 30%. E um dos impasses na negociação é justamente a participação das famílias Fontana e Furlan. Hoje, os Furlan detêm 10,4% das ordinárias e 3,92% do capital total. Os Fontana detêm 14,12% das ordinárias e 5,31% do capital total. Caso a operação seja fechada com a ação da Sadia a R$ 6, a Perdigão estaria pagando pela participação das famílias Furlan e Fontana R$ 160 milhões e R$ 217 milhões, segundo cálculos da Link. A R$ 8, como quer a Sadia, a participação das famílias Furlan e Fontana valeria R$ 214 milhões e R$ 290 milhões. Entretanto, segundo fontes, a intenção das famílias é permanecer no negócio e esperar a valorização das ações.

 

INTERESSE

 

Enquanto a Perdigão diz que não quer, a Sadia - que precisa de uma capitalização de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões para equacionar suas dívidas - tenta, com potenciais investidores estrangeiros, sensibilizar o governo, que diz ter todo o interesse de que a empresa permaneça nas mãos de brasileiros. "O governo quer que se chegue a um bom resultado", disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. "Sempre desejamos que a Sadia continue brasileira mas, fundamentalmente, queremos que ela continue operando no mercado."

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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