Com uma dívida de cerca de R$ 2 bilhões a vencer no terceiro trimestre deste ano, a Sadia continua se movimentando rumo a uma associação com a sua principal concorrente, a Perdigão. Ontem, em reunião com analistas, o presidente do conselho de administração da companhia, Luiz Fernando Furlan, disse que aguarda uma decisão final sobre as conversas de fusão com a concorrente até junho, segundo reportou a agência Bloomberg News. A Perdigão, que há uma semana negou estar em conversações recentes com a concorrente para uma possível associação, informou ontem por meio de sua assessoria que não vai comentar o assunto.
Na sexta-feira, a Sadia informou ao mercado um prejuízo em 2008 de R$ 2,5 bilhões, mas ontem suas ações subiram 1,66% na BM&F Bovespa em R$ 3,06 (PN), enquanto o Ibovespa caiu quase 3% (2,99%). "Apesar de ter apresentado prejuízo, o balanço da Sadia veio em linha com o que o mercado esperava. Não teve surpresas. Por isso, não houve queda nas ações", avalia Peter Ping Ho, da Planner Corretora. Segundo a Bloomberg, os papéis da Sadia começaram a subir ontem após as declarações de Furlan, confirmando as negociações com a concorrente. Já os papéis da Perdigão fecharam em queda mais acentuada do que o Ibovespa (4,89%).
Ainda não há detalhamento de como está sendo estudada a fusão entre as duas companhias que, juntas, tiveram faturamento bruto de R$ 25 bilhões em 2008. Ping Ho afirma que há possibilidade de a operação ser estruturada como foi na fusão da Brahma com Antarctica, que resultou na criação da Ambev, sem a predominância de uma marca sob outra. "Essa nova empresa é que assumiria a dívida, o que tornaria as condições de negociação com os credores mais vantajosa", diz Ping Ho, citando o case como hipótese. Para o especialista da Planner, a fusão deve resultar em fortes ajustes, como desativação de unidades, sobretudo as mais antigas, e as localizadas em mesma região.
As especulações sobre a associação das duas companhias também passa pela possibilidade de compra da Sadia pela Perdigão. De acordo com relatório da Link Investimentos, no caso de o preço acertado ser de R$ 4 por ação do bloco de controladores da Sadia, isso significaria precificar a Sadia a 6,2 vezes seu Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ou seja, sua geração de caixa. O cálculo considera a dívida total líquida da empresa (R$ 5,5 bilhões), o valor de capital próprio do bloco de controle de R$ 2,2 bilhões e a estimativa de Ebitda para 2009 da empresa (R$ 1,26 bilhão).
Se o acerto fosse o pagamento de R$ 6 por ação do controlador, o valor da Sadia na negociação seria de 7,1 vezes seu Ebitda, quase o mesmo múltiplo sobre o qual a Perdigão está sendo cotada atualmente que é de 7,4 vezes o Ebitda, de acordo com cálculos da Link Investimentos, cujo relatório pondera o fato de terem que ser levados em consideração outros pontos, como sinergias e a saída de um grande competidor do mercado.
A Sadia reconheceu na última sexta-feira uma despesa financeira de R$ 3,892 bilhões no ano, dos quais R$ 2,55 bilhões com operações de derivativos, sendo que R$ 705 tiveram efeito caixa em 2008 e, o restante, foi antecipação de perdas previstas para 2009.
Minerva
Após a divulgação do aumento do seu endividamento, o frigorífico Minerva teve seus ratings colocados em observação negativa pela agência de classificação de risco Fitch. A observação negativa atinge os ratings de probabilidade de inadimplência em moeda local, em moeda estrangeira, e o rating em escala nacional do Minerva S.A. Atinge também os US$ 200 milhões em notas seniores sem garantia, com vencimento em 2017 do Minerva Overseas Ltd.
Veículo: Gazeta Mercantil