Preços reagem com fechamento de frigoríficos

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O fechamento de frigoríficos no País reduziu a oferta de carne bovina no mercado e provocou uma forte reação nos preços recebidos por essas indústrias na última semana. Desde o dia 24 de fevereiro, a alta acumula 10,3% com o quilo da carcaça casada bovina saindo de R$ 4,65 para R$ 5,13. Nesse mesmo período, o custo do frigorífico com compra de boi subiu bem menos, 2,5%, segundo dados da Scot Consultoria. Apesar da leve recuperação - que também se reflete nas exportações de carne bovina em março - no ano, o boi caiu menos que a carcaça, o que indica margens ainda apertadas. Além disso, o balanço do quarto trimestre dos frigoríficos, divulgado nos últimos dias, mostra aumento geral no endividamento das companhias do setor, o que mantém a desconfiança de credores e pecuaristas.

 

No começo de janeiro, a arroba do boi estava cotada em R$ 87 em São Paulo. Chegou a bater R$ 77 em 18 de março, a menor baixa do ano, quando voltou às lentas recuperações, até fechar ontem em R$ 79,50. "O pecuarista está retendo a venda, à espera de preços melhores. Isso também é possível porque a qualidade dos pastos em quase todo o País está muito boa", explica a analista da Scot, Gabriela Tonini. A retração da parte vendedora não é à toa. No ano, o preço da arroba do boi acumula queda de 8,6%.

 

Já a carcaça casada bovina, ou seja, o produto principal comercializado pelo frigorífico, iniciou o ano negociada em R$ 86,06 (equivalente arroba), iniciou desde então sucessivas quedas até atingir a maior baixa no ano, R$ 69,77, em 24 de fevereiro. Desde lá, a carcaça vem de recuperação e, em uma semana, atingiu R$ 76,88, alta de 10%.

 

"Neste momento a carcaça deu uma recuperada, mas esse mercado passa o tempo todo por altos e baixos", diz Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo). Além disso, segundo ele, os frigoríficos continuam trabalhando em dificuldades, mesmo com a menor concorrência, pois a capacidade ociosa continua alta e a oferta de gado restrita.

 

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em fevereiro foram abatidos 1,49 milhão de bovinos nos frigoríficos com inspeção federal. O volume é 19% menor que os 1,8 milhão de igual mês de 2008. No primeiro bimestre de 2009, a queda também acumula 19%, com 3,17 milhões de bois abatidos.

 

Os estados que mais apresentaram queda nos abates estão na região Centro-Oeste. Mato Grosso do Sul lidera o ranking de retração com queda de 39%. Foram 355 milhões de cabeças no primeiro bimestre deste ano, contra 589 milhões em igual período de 2008. Goiás vem em seguida, com retração de 17% no bimestre, seguido de Mato Grosso, com 12% (abates com inspeção federal, que representam cerca de metade dos realizados no País). A retração da oferta de boi e a queda nas exportações começaram a afetar os abates com mais intensidade a partir de outubro. Com isso, em 2008 a queda nos abates acumulou 11,4% em relação a 2007.

 

Sob esse clima, os frigoríficos divulgaram nos últimos dias seus balanços financeiros do quarto trimestre de 2008. Na maior parte dos casos, as dívidas aumentaram com a valorização do dólar, ampliando o risco de falta de liquidez com o crescimento do endividamento de curto prazo.

 

O grupo Minerva teve seus ratings colocados em observação negativa pela agência de classificação de risco Fitch. A empresa informou ter no quarto trimestre uma dívida líquida de R$ 937 milhões, dos quais 357,8 milhões com vencimento no curto prazo, ou seja, em menos de 12 meses. No trimestre anterior, esse compromisso de curto prazo era de R$ 185 milhões. Há um ano, esse valor era de R$ 62,7 milhões e a relação da dívida líquida com a geração de caixa - Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) - era de 1,27 vezes. Essa relação subiu para 6,07 vezes. Junto com esse aumento do endividamento, a companhia também registrou prejuízo de R$ 215 milhões em 2008, ante um lucro líquido de R$ 34,7 milhões do ano anterior. O Ebitda da do Minerva cresceu 27,2% totalizando R$ 153,4 milhões em 2008 e representou margem de 7,2%, um decréscimo de 1 ponto percentual em relação a 2007, recuo que reflete a pressão dos custos de produção mais altos no ano passado e menores vendas para a União Europeia.

 

Exportações

 

Ao fim do primeiro trimestre e sete meses após o agravamento da crise, em setembro do ano passado, as exportações de carne in natura sinalizam recuperação, mas ainda abaixo dos níveis do mesmo período de 2008. Os embarques em março acumularam 82,14 mil toneladas, alta de 24% em relação a fevereiro, e uma receita de US$ 233 milhões, 25% de alta na comparação com o mês passado. Mas em relação a fevereiro de 2008, a queda é de 14% em valor e 2,7% em volume. Em fevereiro, as exportações de carne bovina in natura foram de US$ 186 milhões, queda de 26,9% em relação a igual mês de 2008. Em volume, foram embarcados 66 mil toneladas, 13,7% abaixo de fevereiro do ano passado.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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