Cargill dribla crise e cresce no setor de carnes no país

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Em terceiro lugar no ranking das empresas de aves e suínos no país, a americana Cargill não é dada a holofotes, mas isso não significa timidez. Entre as grandes do setor, a companhia foi a única que não concedeu férias coletivas recentemente e que não teve de reduzir o abate de aves para driblar estoques elevados, um reflexo da crise financeira internacional.

 

Ao contrário. Todas as plantas de carnes da companhia americana, que mantém política de estoques baixos, estão trabalhando hoje com três turnos de produção no Brasil. O resultado é que o abate semanal de aves está em 7,2 milhões de cabeças, 1 milhão de unidades a mais do que no início de 2008. Em suínos, o abate está estável em 29 mil animais por semana.

 

Além disso, a Cargill, que entrou em carnes de aves e suínos no país em 2004, com a compra da Seara - marca com a qual atua -, tem ganhado participação no mercado doméstico, principalmente em cortes de frango, e aumentou seu portfólio. "Com a saída de empresas [em dificuldades financeiras] do mercado, estamos ganhando espaço", afirma Robert van der Zee, diretor da unidade de negócios carnes Brasil da Cargill.

 

E, apesar da crise internacional, a empresa planeja investir US$ 55 milhões (entre este e o próximo ano) na construção de uma nova fábrica de processados de frango, focada na exportação.

 

Zee, que espera a aprovação do projeto pela matriz americana em meados do ano, garante que existe demanda dos importadores por esse tipo de produto. A Cargill fornece a partir do Brasil para supermercados (que colocam sua própria marca nos produtos) e para o food service no exterior.

 

Apesar de relativamente otimista, Zee admite que a crise internacional deixará sua marca. Ele estima que a receita da unidade de carnes da Cargill vai crescer pouco em dólar em 2009 - foram US$ 1,5 bilhão em 2008 e a previsão é US$ 1,6 bilhão este ano. A razão é a queda dos preços no mercado internacional - na divisão brasileira da Cargill, as exportações respondem por 70% da receita total. Em reais, a previsão é alcançar um faturamento de R$ 3,7 bilhões este ano, quase 20% mais do que os R$ 3,1 bilhões de 2008, quando a receita já tinha sido 35% superior à de 2007.

 

Os preços das carnes começaram a cair no último trimestre de 2008 à medida em que a demanda foi arrefecendo no mercado internacional num cenário de estoques elevados em importadores como Japão e Oriente Médio. Zee avalia que as cotações devem se recuperar aos poucos - com a redução dos estoques -, mas não voltarão aos picos registrados quando os custos de produção eram mais elevados e o real estava valorizado.

 

Ele vê normalidade na demanda por carne de aves e suínos no mercado externo, até agora, mas apesar de considerar que o Brasil está sendo menos afetado pela crise, avalia que o consumo doméstico deve parar de crescer.

 

A nova fábrica de processados de frango, cujo projeto já está pronto, ainda não tem local definido, segundo Robert van der Zee. "O mais lógico é que seja perto de unidades já existentes", diz, pois a planta precisará de matéria-prima (frango) para industrialização. Se o projeto se concretizar, a previsão é que a fábrica comece operar no segundo semestre de 2011.

 

Além da nova planta, a Cargill prevê investir este ano US$ 20 milhões em modernização das unidades e US$ 25 milhões em projetos menores, como expansões ou novas linhas de produção. No ano passado, a empresa investiu US$ 20 milhões em renovação e US$ 40 milhões em expansão de capacidade de abate de aves em Sidrolândia (MS), Nuporanga (SP) e Jacarezinho (PR). A Cargill também tem fábricas em Itapiranga (de processados de aves), Seara, Jaraguá do Sul e Forquilhinha, todas em Santa Catarina, e Dourados (MS).

 

Os últimos passos e planos da Cargill indicam estratégias de longo prazo para o Brasil, já que no futuro próximo o comportamento da demanda ainda é incerto. "O negócio carne é fundamental dentro da estratégia da Cargill, a confiança no segmento e no país continuam", afirma van der Zee.

 

E isso poderia incluir uma grande aquisição, como a Sadia, em dificuldades após perdas com derivativos cambiais? Diante da questão, o executivo desconversa. Mas admite que "a Cargill está sempre atenta a oportunidades". Observa, porém, que não adianta "comprar para aumentar volume, é preciso ver como está o balanço da empresa" que será comprada.

 

A "maior oferta" de ativos no segmento de bovinos por causa da crise também não parece seduzir a Cargill, que atuou no setor no país até o fim dos anos 80. "No longo prazo faz sentido investir em boi", mas este não é o melhor momento, afirma. Taxativo, o executivo diz que "ativamente [a Cargill] não vai buscar investir em carne bovina nos próximos 12 meses", a não ser que haja uma oferta atrativa. "Ave é mais foco que bovino hoje".

 

Com 21,8 mil funcionários e cerca de 3 mil integrados no Brasil, a Cargill atua também em frango na Tailândia, Inglaterra, França, Canadá. Tem produção de peru e suínos nos EUA e bovinos nos EUA, Argentina, Austrália e Canadá.

 

Veículo: Valor Econômico


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