Setor espera ganhar fôlego neste segundo semestre e recuperar margens
A Cooperativa Central Oeste Catarinense (Aurora) espera ganhar um pouco de fôlego neste segundo semestre e recuperar margens após um primeiro semestre de dificuldades devido à forte alta do milho e da soja - principais componentes de custos nesse setor de atuação. O cenário de possível recuperação ao longo do segundo semestre poderá resultar da conjunção de dois fatores: a alteração de patamares de preços das commodities - ocorreu forte baixa de cotações entre o final de julho até meados deste mês, com alguma recuperação recente - aliada ao consumo firme nesta segunda parte do ano, explica Luiz Temp, vice-presidente da Aurora.
Segundo dados da Planner, a saca de 60 quilos de milho está valendo cerca de R$ 24,20 no mercado interno. No primeiro semestre deste ano, a mesma saca custava R$ 27,85, enquanto que no segundo semestre de 2007 valia R$ 26,60. No caso da soja, a recuperação recente de preços trouxe o grão para mais perto dos níveis de preços do primeiro semestre. A saca de 60 quilos está valendo cerca de R$ 45, enquanto que a média dos primeiros seis meses de 2008 foi de R$ 46,50. No segundo semestre do ano passado, valia R$ 38,20, segundo a Planner. "O patamar atual das commodities, embora não tenha voltado aos mesmos níveis do ano passado, está um pouco mais baixo do que o do primeiro semestre deste ano", avalia Temp, da Aurora. "Esperamos consumo dos produtos finais aquecido e que, por conseqüência, os preços desses itens se mantenham.
A partir daí, juntando cotações de grãos um pouco melhores e preços finais nos mesmos níveis, há possibilidade de fôlego para as empresas do setor, que poderão recuperar um pouco suas margens no segundo semestre", acredita o executivo. Temp lembra que, geralmente no segundo semestre, o consumo de alimentos se intensifica, sobretudo no final do ano. Até agora, a Aurora ainda não conseguiu repassar integralmente a alta de custos do primeiro semestre para os seus produtos. Para empresas do setor que não trabalham com produtos de maior valor agregado, como pratos prontos por exemplo, é mais difícil fazer repasse da alta das matérias-primas, comenta o analista de alimentos da Planner, Peter Ho. O analista lembra que empresas como Sadia e Perdigão acabam embutindo as altas nesse nicho de produtos. O segredo é o perfil do consumidor. "Esses consumidores querem a praticidade, são menos sensíveis a preços", comenta. Para analistas de mercado, no caso do milho, de fato a tendência não é de explosão de preços nesta segunda metade do ano. Para produtores de suínos e aves, na composição de custos com a ração, o milho é responsável por 65% e a soja por 35%, de acordo com a Planner.
Paulo Molinari, da Safras&Mercados, diz que o Brasil tem entre 10 e 11 milhões de toneladas excedentes de milho e o fluxo de negócios está fraco até agora. O País embarcou ao redor de 3 milhões de toneladas do grão. "O produtor brasileiro atrasou um pouco a comercialização, há de se considerar que este é um ano difícil para tomar decisões", comenta Molinari. Se não houver nenhum tipo de problema com a safra norte-americana ou fortes valorizações do petróleo e do real, pode sobrar milho no final do ano no mercado interno.
O analista de commodities, Steve Cachia, da Cerealpar, concorda. "Não há fatores que indiquem explosão de preços do milho. No mercado interno, a safrinha foi boa e a safra normal também. Só há de ficar de olho na safra norte-americana, ainda não definida", acrescenta. A safra dos Estados Unidos foi plantada mais tarde em 2008 e ainda há certo ar especulativo sobre possíveis perdas de lavouras. "Antes do final de setembro não haverá definição clara sobre a safra daquele país. Nesta época, em outros anos, já se sabia com clareza", diz Cachia. Há análises um pouco distintas. Flávio Roberto de França Júnior, diretor de produção da Safras&Mercados, diz que há preocupação de que o frio nos Estados Unidos prejudique as lavouras. E no caso da soja, no mercado interno, as cotações estão bastante atreladas às oscilações da Bolsa de Chicago. "Em setembro esfria e há mais riscos de as lavouras sofrerem conseqüências de geadas", diz França. "Além disso, o segundo semestre no mercado interno brasileiro tem sua dinâmica própria, é época de entressafra da soja", completa. França não acredita que os preços da soja caiam aos mesmos níveis de duas ou três semanas atrás. "Ou ficam nesses patamares ou sobem", finaliza o especialista.
Veículo: DCI