Assim como para todo o setor de carnes, o primeiro trimestre do ano também trouxe queda de faturamento para o Bertin S.A, que está entre os três maiores grupos frigoríficos do Brasil. A receita líquida da empresa foi de R$ 1,772 bilhão no período, recuo de 3,9% em relação ao quarto trimestre de 2008. Na comparação com janeiro a março do ano passado, houve alta de 25,5% na receita, diferença que se justifica pelo fato de que, no começo de 2008, a empresa tinha outra estrutura (ao longo do ano passado o Bertin comprou quatro plantas e inaugurou uma). No primeiro trimestre, a empresa teve lucro líquido de R$ 50,9 milhões.
A saída de outros frigoríficos do mercado no começo do ano contribuiu para melhorar as margens e sustentar o faturamento em carnes que praticamente se manteve estável, no patamar de R$ 1,3 bilhão na comparação com o último trimestre do ano. "Conseguimos ampliar os abates e os volumes vendidos, ocupando lacunas deixadas pelas outras empresas", avalia Evandro Miessi, diretor-executivo da Divisão de Carnes do Bertin.
No mercado externo a empresa também driblou os problemas na Rússia. "De uma exportação mensal de 8 mil toneladas aos russos, tivemos problemas com 2 mil, que foram direcionadas a parceiros do país. Tivemos que renegociar condições, não saímos ilesos, mas não tivemos inadimplência. Apertamos os prazos concedidos e, nos beneficiamos dos baixos estoques na Rússia no primeiro trimestre, o que resultou em avanço do nosso market share no país para 27%, ante uma média de 15% de 2008", conta Miessi. Desde as restrições da União Europeia à carne do Brasil, a empresa também vem redirecionando o negócio a outros mercados. "Tivemos que ampliar mercados de exportação. Hoje temos 80 países, número que antes das restrições europeias era de cerca de 60".
O diretor de Lácteos do Bertin, Fernando Falco, afirmou ontem que o Bertin não está à venda. "Se fôssemos dar ouvidos a boatos, já teríamos sido comprados pelo JBS e já teríamos adquirido a Nilza", ironizou. Ele afirmou que é normal que ocorram boatos. "Temos relações comerciais com o Marfrig. Mas nenhuma discussão de compra ou venda de empresa". Ele pondera, entretanto, que o Bertin poderia crescer mais rápido se não houvesse tanta restrição de crédito.
Ele diz que o nível de endividamento da empresa está compatível com a média do setor e que a empresa mantém seu plano de negócios de duplicar o faturamento bruto dos R$ 7,5 bilhões fechados em 2008 para R$ 19,5 bilhões em cinco anos. "Alcançaremos esse plano somente com os crescimento nas plantas que já temos. Além disso, conseguimos reduzir o endividamento líquido para 3,18 vezes a geração de caixa (Ebitda - Lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações)", afirma Falco.
Mas a alavancagem da companhia em um cenário de retração econômica e de crédito escasso fez a agência de classificação de risco Moody''s rebaixar em 8 de maio os ratings corporativo em moeda local e das notas seniores sem garantia real da Bracol Holding, que detém 72% da Bertin S.A, de B1 de Ba3. A agência considera elevada a relação de dívida total e ebitda de 6,1 vezes da Bracol e de dívida líquida ajustada e ebitda de 3,6 vezes. De acordo com a agência, em 31 de dezembro de 2008, a Bracol tinha uma posição de caixa e disponibilidades de R$ 2,6 bilhões e uma dívida de curto prazo de R$ 2,3 bilhões.
Veículo: Gazeta Mercantil