Previ discutirá acordo de votos da Perdigão

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A Previ, Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, discutirá com os demais fundos de pensão que atualmente gerem a Perdigão a revisão do acordo de voto conjunto existente entre eles, por conta da criação da BRF-Brasil Foods após a compra da Sadia. "Essa discussão será feita nas próximas semanas", afirmou Sérgio Rosa, presidente da fundação do BB.

 

Tal revisão poderia incluir o BNDES, caso o banco de fomento decida participar da oferta pública de ações de R$ 4 bilhões, e ainda os acionistas vindos do controle da Sadia, que terão 11,7% da BRF-Brasil Foods, resultante da união com a Perdigão. "Respeitaremos a decisão de cada um. Mas, se for o caso, poderiam fazer parte aqueles que compartilhem de uma visão de longo prazo da empresa", disse ele, a respeito de uma eventual reconstrução do documento.

 

O acordo atual dos fundos acionistas da Perdigão vence em 2011, pois o plano antes da compra da Sadia era ser uma sociedade anônima pura, ou seja, sem um dono definido. Esse caminho começou a ser trilhado em 2006, quando a empresa migrou para o Novo Mercado e os controladores foram diluídos pela conversão de ações preferenciais em ordinárias. O movimento significaria maturidade do negócio e cada fundo ficaria livre para realizar os lucros do investimento realizado em 1994.

 

No entanto, Rosa admite que a união com a Sadia modifica a perspectiva de maturidade do negócio, o que significa a permanência no investimento por um prazo maior. "Esse é o raciocínio lógico. A expectativa é que haja uma valorização significativa da companhia no futuro. Agora, o momento é de fazer a integração e colher as sinergias."

 

Nildemar Secches e Luiz Fernando Furlan, que serão os copresidentes do conselho de administração da BRF, anunciaram na terça-feira que a empresa terá capital difuso, ou seja, sem um bloco majoritário. Juntos, os fundos de pensão que hoje são o principal bloco da Perdigão têm 36% da empresa e terão cerca 27% da BRF.

 

Essa fatia, porém, é anterior à oferta pública de ações. De acordo com Secches, as fundações disseram ter disposição para aportar R$ 1,8 bilhão - montante superior a proporção que teriam direito na prioridade da oferta total de R$ 4 bilhões para manterem inalteradas suas fatias, que seria de R$ 1,1 bilhão. Assim, é possível entender que as fundações tenham montante superior após a capitalização.

 

Já a participação do BNDES não está garantida. Luciano Coutinho, presidente da instituição, desde a semana passada afirmou que poderia entrar na oferta.

 

Rosa, presidente da Previ, disse que a intenção da fundação é participar na mesma proporção que terão na BRF, que será da ordem de 12%. Com isso, manteria a mesma fatia ao fim da capitalização. Ou seja, colocariam aproximadamente R$ 480 milhões. No entanto, segundo ele, não está descartado um pequeno aumento, caso algum dos atuais participantes do acordo não queria acompanhar a operação.

 

Quanto aos acionistas da Sadia, não está claro se todos participarão da capitalização para que fique inalterada a fatia de 11,7% dos Fontana e dos Furlan na BRF. Teriam que colocar pouco menos de R$ 470 milhões para preservá-la.

 

Rosa não soube explicar o montante citado por Nildemar, de R$ 1,8 bilhão. "Ainda não sei quanto cada fundo quer colocar. Da nossa parte, vemos a operação muito positivamente e queremos manter nossa participação."

 

Como a operação é formalmente uma oferta pública de ações e não um aumento de capital, os atuais sócios que formarão a BRF terão prioridade na colocação, e não preferência. Quem decidirá a fatia final de cada um é o banco que coordenará a distribuição pelo livro de reservas, o chamado processo de "bookbuilding". Por esse sistema, a instituição tem a capacidade de definir a fatia de cada um na operação. Normalmente, se destaca aquele que pede a maior reserva de papéis, com o maior preço. Ficou acertado que essa distribuição necessitará de aval dos principais acionistas da Perdigão e da Sadia.

 

É fato, de acordo com fontes que acompanham os trabalhos, que o BNDES seria bem tratado, caso quisesse comprar papéis na oferta pública. Secches e Furlan estiveram no banco para apresentar a operação, antes de seu anúncio. Não há, contudo, nenhum acerto prévio sobre a entrada do BNDES.

 

Uma eventual revisão e um prolongamento do acordo de voto dos fundos sócios da Perdigão, com ou sem novos participantes, não era esperada. A expectativa inicial, inclusive dos acionistas controladores da Sadia, era de que o acordo venceria em 2011. De acordo com Rosa, não está certo que se decidirá pela extensão do prazo. Mas a questão será colocada para todos definirem juntos.

 

A Previ é a principal acionistas do acordo de voto. Dos 36% do capital votante e total da Perdigão reunidos em torno do documento, a fundação do BB tem 14,2%.

 

Independentemente do que ocorrer na oferta de ações, o poder político no conselho de administração da BRF está definido apenas até 2011. A Sadia terá, além da copresidência, direito a mais dois membros, que se somarão aos atuais oito conselheiros da Perdigão. Além de Furlan, juntos de Secches, deverão ir para o colegiado Walter Fontana Filho, que estava na presidência do conselho da Sadia no episódio dos derivativos.

 

Depois de 2011, a composição do conselho volta a funcionar pela formação de chapas, conforme prevê o estatuto da Perdigão atualmente, que será herdado pela BRF.

 

A expectativa do mercado é que haverá forte demanda pelos papéis da BRF e que não haveria dificuldade de se alcançar o montante de R$ 4 bilhões. As declarações da empresa de que há demanda garantida para metade da colocação pelos fundos puxou a alta das ações de Sadia e Perdigão ontem.

 

É comum que após anúncio de ofertas as cotações das empresas caiam na bolsa, o que não ocorreu. As ordinárias da Perdigão e as preferenciais da Sadia subiram 8,5% no pregão de ontem, na liderança dos ganhos do Índice Bovespa.

 

Ontem, já surgiram os primeiros relatórios avaliando o que será BRF. O entendimento é que a companhia deva valer entre R$ 13,1 bilhões e R$ 16 bilhões na Bovespa, frente aos cerca de R$ 11 bilhões equivalentes à soma do valor de mercado de Sadia e Perdigão antes do anúncio.

 

Para os analistas João Carlos dos Santos e Alexandre Pizano, do Bank of America Merrill Lynch, a ação da Perdigão, que será a BRF, valerá R$ 43,00. Na opinião de Alexander Robarts e Gabriel Vaz de Lima, do Santander, os papéis têm potencial para chegar a R$ 52,60 na Bovespa. Já para Carlos Albano e Flavio Barcala, do Citi, o preço das ações alcançará R$ 44,40.
 

 
BRF se arma para enfrentar o Cade

  

Perdigão e Sadia, que acabam de anunciar sua união na BRF-Brasil Foods, estão se armando para defender o negócio perante o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

 

Além do ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, Paulo de Tarso Ramos, que também atuou na Secretaria de Direito Econômico do ministério, as empresas contrataram para trabalhar no caso Elizabeth Farina, ex-presidente do Cade entre julho de 2004 e julho de 2008 e professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP).

 

Ela vai trabalhar, pelo lado da Sadia, junto com a advogada Barbara Rosenberg, que já atuou no Departamento de Proteção e Defesa Econômica, da Secretaria de Direito Econômico do ministério.

 

Outro contratado foi Jorge Fagundes, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, consultor nas áreas de defesa da concorrência, antidumping e regulação. Fagundes vai trabalhar com Paulo de Tarso pelo lado da Perdigão.

 

Elizabeth Farina é há anos estudiosa do setor agroindustrial no país. Entre 1999 e 2000, defendeu a fusão entre as cervejarias Brahma e a Antarctica, que resultou na criação da AmBev e foi aprovada pelo órgão antitruste. Em 2002, a economista foi contratada pela Nestlé para defender a compra da Garoto.

 

O Cade vetou o negócio em fevereiro de 2004, mas a Nestlé conseguiu na Justiça decisões que a desobrigaram de vender a Garoto. Em janeiro deste ano, desembargadores do Tribunal Regional Federal de Brasília votaram pelo reenvio do caso ao Cade. O julgamento foi interrompido por pedido de vistas.

 

Diante da concentração em algumas categorias no varejo de alimentos que a união entre Sadia e Perdigão deve gerar, especialistas acreditam que o Cade pode impor algum tipo de restrição ao negócio. As próprias empresas reconhecem que isso pode ocorrer, apurou o Valor.

 

Para Arthur Barrionuevo Filho, professor-adjunto da Escola de Administração de Empresas Fundação Getúlio Vargas, a análise sobre se haverá concentração não pode ser feita apenas levando em conta a participação de mercado das empresas.

 

Segundo ele, é necessário avaliar se as marcas são importantes em determinado mercado. Outra questão a ser analisada é com que facilidade um novo concorrente entraria no mercado no caso de uma eventual alta de preços decorrente da concentração. O raciocínio é que a elevação dos preços aumentaria a lucratividade estimulando a entrada de novos competidores.

 

Numa primeira análise, Barrionuevo Filho crê que algum tipo de restrição pelo Cade deve ocorrer, já que há elevada concentração em alguns mercados. "Não sei se será venda de marcas, licenciamento ou alienação de fábricas", observou.(Colaborou Graziella Valenti)
 


Veículo: Valor Econômico


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