Couro prejudica margens dos frigoríficos

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Pecuária: Preços do subproduto para exportação despencam e reduzem lucratividade das operações domésticas
 

  
Frigoríficos de carne bovina têm responsabilizado a menor exportação - e preços de venda mais baixos da carne lá fora - pela redução de suas margens. Isso é verdade em relação ao mercado externo, mas no front doméstico o vilão é outro. Um estudo da Scot Consultoria indica que o maior "culpado" nesse caso é o couro, cujos preços e exportações despencaram nos últimos meses, reflexo principalmente da crise financeira global.

 

Fabiano Tito Rosa, da Scot, chegou à conclusão depois de analisar alguns indicadores de mercado interno, fundamentais para definir como andam as margens das indústrias. Um deles é o equivalente físico, que indica o quanto o frigorífico recebe pela venda de carne com osso no atacado. O outro é o "equivalente Scot", que apura a receita da indústria na venda da carne com osso, couro e sebo, e é pesquisado desde 2003.

 
 
A análise dos dados entre 2003 e 2009 (até 10 de julho) mostra que a defasagem entre o preço da carne com osso (equivalente físico) para o boi não está acima da média histórica. Portanto, não é o preço da carne no mercado interno o que mais pressiona as margens.

 

Na média de julho (até dia 10), o preço do boi gordo ficou em R$ 82,86 por arroba. No período, o equivalente físico ficou em R$ 73,59 a arroba e o equivalente Scot, em R$ 75,62 por arroba. A defasagem no primeiro caso foi 11,19% e no equivalente Scot, de 8,73%.

 

Na média anual, a defasagem do equivalente físico para o boi está em 8,96% - em 2003, era de 17,04%. Já o equivalente Scot saiu de 6,62% em 2003 para 6,04% na média deste ano. No entanto, essa diferença já foi bem menor - como em 2005 e 2006, por exemplo, quando estava em 3,29% e 3,56%, respectivamente. O aumento da defasagem pode ser explicado em grande parte pela queda dos preços do couro - e mais recentemente também pelo recuo da cotação do sebo bovino, disse Tito Rosa.

 

Entre 2003 e 2009, os preços do couro verde (de menor qualidade, conhecido como catado) caíram 86,12%, de uma média de R$ 2,09 o quilo, para R$ 0,29. Já a carne, na mesma comparação subiu 54,21%, para R$ 4,95 o quilo. O sebo saiu da média de R$ 1,28 o quilo em 2003 e para R$ 1,45 este ano. "O couro verde está sendo dado [pelos frigoríficos]", ironiza o analista da Scot. O couro cru é vendido aos curtumes para processamento.

 

Além de estar perdendo espaço para os materiais sintéticos há tempos, o couro foi um dos produtos mais impactados pela crise financeira. A demanda mundial despencou e com ela, os preços do couro. Os números da exportação brasileira no semestre dão uma ideia do tombo: as receitas com as vendas somaram US$ 495,5 milhões, queda de 53,9% sobre o mesmo período de 2008, conforme os dados compilados pela Scot. Os volumes não caíram tanto no período (de 165,9 mil para 152 mil toneladas), o que indica que os preços desabaram.

 

O efeito da demanda internacional mais fraca é grande sobre o Brasil porque o país exporta a maior parte do couro que produz. Um importante mercado para o couro brasileiro são os Estados Unidos, principalmente para a indústria automobilística, um dos setores que mais sofreram com a crise global. Além disso, o Brasil também exporta couro para indústrias calçadistas e moveleiras da Ásia e Europa, que vendem produtos finais para os mesmos EUA, observou Tito Rosa.

 

Quanto ao sebo, o analista aponta que os preços começaram a recuar nas últimas semanas, saindo de R$ 1,50 o quilo para R$ 1,30 por conta da menor demanda dos setores de higiene e limpeza e de biodiesel.
 


Veículo: Valor Econômico


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