Banif perde gestão de R$ 1 bilhão

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Depois de meses de queda de braço com os fundos de pensão, o Banif está perdendo a gestão de R$ 1 bilhão alocados em dois fundos de private equity, um fato inusitado na indústria brasileira de investimentos em participações. Os recursos estão sendo transferidos para outras instituições. Com isso, pelo menos temporariamente, a área de private equity do Banif desaparece.

 

O FIP Brasil de Governança Corporativa, que concluiu uma captação de R$ 600 milhões em 2008 em parceria com o Banco do Brasil, passou recentemente para as mãos da BR Investimentos, do economista Paulo Guedes. O outro fundo, o Caixa Ambiental, com R$ 400 milhões levantados com a ajuda da Caixa Econômica Federal, está sendo repassado para o Santander, segundo o Valor apurou.

 

No centro da discórdia entre as fundações e o Banif está a figura do gestor dos fundos. Até meados do ano passado, Marcos Rechtman era responsável pelas decisões de investimento dos dois fundos. Porém, o executivo foi afastado da área de private equity, o que deu início à discussão sobre quem seria o novo responsável pela alocação do R$ 1 bilhão que fundos de pensão como Petros, Funcef, Valia e Previ tinham aportado. Procurados para explicar o motivo da saída do gestor, nem o Banif nem Rechtman atenderam os pedidos de entrevista da reportagem.

 

Como as indicações do Banif não foram bem-recebidas pelos fundos de pensão, eles optaram por transferir a gestão para outras instituições. "O investimento em private equity está muito relacionado à capacidade do gestor. Ele é uma figura central. E percebemos que seria mais rápido trocar de gestora do que chegarmos a um consenso sobre um novo nome", disse ao Valor o diretor de investimentos de um fundo de pensão.

 

A troca de gestores é um fato bastante incomum na indústria de private equity brasileira. Porém, essa destituição do Banif está sendo interpretada por alguns executivos do setor como um sinal dos fundos de pensão de que outras trocas de cadeiras podem ocorrer daqui para a frente com ais frequência. A intenção dos fundos de pensão é aumentar a fatia de seus investimentos em private equity dentro do portfólio e, por isso, cada vez mais eles estarão atentos aos resultados entregues pelos gestores.

 

Na prática, a perda dos fundos significa para o Banif deixar de receber uma série de taxas às quais teria direito durante a duração do fundo, sempre divididas ao meio com os outros gestores, o Banco do Brasil e a Caixa. No caso do FIP Brasil de Governança Corporativa, com duração de oito anos, isso equivale a 1% do capital comprometido durante a fase de investimento do fundo e, depois disso, a 1% do patrimônio líquido. Fora isso, há a taxa de performance, que depende do sucesso dos investimentos feitos pelo fundo e costuma ser a mais recompensadora de todas.

 

Tanto o Caixa Ambiental quanto o Brasil de Governança Corporativa ainda não tinham realizado nenhum investimento. E, quanto mais o debate sobre o novo gestor se arrastasse, menos tempo os fundos de pensão teriam para comprar a participação em uma empresa e receber o retorno vindo da venda dela, já que os fundos têm um período de vida determinado.

 

O objetivo do fundo de governança corporativa é adquirir parcelas de empresas com faturamento entre R$ 200 milhões e R$ 800 milhões e que possam ter suas ações vendidas em bolsa, o que seria a porta de saída para os fundos de pensão. Já a meta do Caixa Ambiental é investir em companhias da área de saneamento.

 

Em nota enviada ao Valor, o Banif confirmou a perda da gestão dos dois fundos porque "não houve entendimento em relação ao regulamento" deles. Atas de assembleias de cotistas arquivadas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que o ponto do regulamento que travou a discussão era a figura do gestor. Os documentos também falam que isso acabou levando os fundos de pensão a levantarem um processo de seleção de novos gestores. O Banif, porém, afirmou por meio do comunicado que mantém o interesse na área de private equity.

 

Além do Caixa Ambiental e do Brasil de Governança Corporativa, o Banif também pretendia fazer a gestão do fundo Bio Etanol. Mas, antes mesmo de entrar em operação, o fundo de R$ 200 milhões foi liquidado. De acordo com a nota do Banif enviada ao Valor, o banco optou por outra estratégia, que não a de private equity, para investir no setor.

 

Desde o ano passado, o Banif, de origem portuguesa, vem passando por diversas mudanças no Brasil. Em outubro, conforme noticiou o Valor, o banco colocou à venda seu home broker - serviço de negociação de ações via internet -, contratando o banco de investimentos Credit Suisse para encontrar um comprador. O motivo teriam sido os problemas que o Banif teve nos mercados internacionais. A operação foi negada pelo banco.

 

O Banif noticiou algumas mudanças em sua gestão. Catarina Pedrosa, chefe da área de pesquisa de ações, foi substituída por Roger Oye.

 

Veículo: Valor Econômico


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